Março
de 1964: 50 anos de agonia
Professor Nazareno*
Há exatos 50
anos, setores militares brasileiros pressionados pela elite civil do país, por
meio de um golpe militar, quebravam as regras institucionais vigentes e
solapavam a nossa frágil democracia. A elite nacional, que estava receosa com o
avanço do comunismo e inspirada pelos ideais norte-americanos, incentivou e
patrocinou a aventura armada que mergulharia o Brasil em 21 anos de escuridão
política. Enquanto durou, a tosca aventura fardada se chamou pomposamente de
Revolução e somente depois de 1985 com o seu ocaso, convencionou-se chamá-la
simplesmente de golpe militar. Apoiados por grande parte da alienada população
brasileira, os golpistas deram a desculpa de estarem protegendo a ameaçada
democracia de irresponsáveis grupos armados inspirados pelo comunismo da antiga
União Soviética. Era a Guerra Fria.
No entanto, a vítima daquela
malfadada aventura era somente a democracia. Muitos militantes de esquerda
foram enfrentados sob a acusação de tentar implantar por aqui um regime
pró-soviético e antidemocrático, enquanto as classes dominantes se encarregaram
de dar um fim definitivo às aspirações comunistas. Quem vencesse a contenda “presentearia”
o país com um regime de exceção. Por isso, os ganhadores, no caso a elite de
direita e os militares golpistas, empurraram-nos de goela abaixo mais de duas
décadas de trevas, cerceamento das liberdades individuais, ataques sistemáticos
à democracia, perseguições políticas, medo, torturas de oposicionistas além de
outras excrescências típicas das ditaduras de repúblicas bananeiras do Terceiro
Mundo. No “campo de batalha”, os DOI-CODI viraram sinônimos de aceitação
do contraditório.
Porém, muitos dos perseguidos e
torturados daquela época, hoje viraram autoridades e em alguns casos estão
reproduzindo todo o mal que combatiam tenazmente. Embora ungidos pelo voto
democrático, vários dos atuais mandatários chegaram ao poder denunciando a
corrupção e os desmandos, mas inventaram e ainda defendem o Mensalão.
Reclamavam também da pouca ou nenhuma independência entre os poderes
constituídos, mas influenciaram na escolha de Ministros do STF para obter
vantagens em julgamentos de seus corruptos comparsas. Se a Ditadura Militar foi
fartamente acusada de usar o futebol, paixão nacional, para alienar ainda mais
a população brasileira, o que dizer da aceitação e da organização da Copa de
2014 pelo ex-presidente Lula e defendida por setores do PT, o Partido que está
no Poder?
Paulo Maluf, Jáder Barbalho, o falecido
ACM da Bahia, José Sarney, Fernando Collor, a Rede Globo dentre outras figuras
carimbadas que sempre defenderam o regime militar e com ele compactuaram, hoje
são amigos íntimos e até colaboradores do PT. Igualmente aos petistas, essa
gente, assim como os militares, nunca gostou dos brasileiros comuns e nem do Brasil.
Como o PT, os golpistas não tinham um projeto de Governo, mas só de poder. A
tão combatida censura à mídia da época dos generais hoje se chama Marco Civil
da Internet. A eliminação de aliados incômodos, prática usual dos milicos, teve
sua versão com Celso Daniel. A alienação total da população é imitada à risca pelos
petistas. A política do “pão e circo”, tão execrada durante a Ditadura,
hoje garante vitórias seguidas aos “companheiros”. Até os comunistas
aderiram ao projeto de poder proposto pelos novos donos do Brasil. Meio século
de sofrimento imposto aos brasileiros tanto pela direita quanto pela esquerda
precisa acabar ou estaremos fritos.
*É Professor em Porto Velho.
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