quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Vivendo numa cidade burra

Vivendo numa cidade burra

 

Professor Nazareno*

 

            Cidade inteligente é uma cidade capaz de integrar todas as suas partes e trabalhar de maneira colaborativa na busca de um objetivo comum. É também um ecossistema urbano inovador caracterizado pelo uso generalizado de tecnologias na gestão de seus recursos e infraestrutura. Uma cidade inteligente é, afinal de contas, um lugar onde as pessoas têm acesso a uma excelente mobilidade urbana, ecossistemas organizados, meio ambiente preservado, recantos de lazer de excelência, inovações tecnológicas usadas para o bem comum, dentre outras qualidades. No mundo, já há cidades muito próximas desse paraíso descrito. Viena na Áustria, Singapura, Genebra, Londres, Barcelona, Copenhague na Dinamarca, dentre outras. Curitiba no Paraná é a cidade brasileira mais próxima desse conceito. Já Porto Velho é uma cidade burra em todos os sentidos. Vejamos a realidade:

            A péssima infraestrutura da capital dos rondonienses se parece com as cidades medievais ou aquelas cidades da África subsaariana. Nada por aqui funciona direito. Sem rede de esgotos nem água tratada, os 460 mil moradores se viram como podem. Muitos cavam poços rasos ao lado de fossas imundas para abastecer suas casas com o precioso líquido. Porto Velho não tem planejamento urbano nenhum. E não é uma cidade jovem como Londrina ou Maringá no Paraná. Desde o longínquo ano de 1914 que entra prefeito e sai prefeito e as necessidades mais básicas do lugar não são resolvidas. Além de não ter esgotos, a cidade burra também não tem nenhuma mobilidade urbana. É como se não existissem por aqui arquitetos. Não existem praças, ruas e canteiros de flores, nem boas passarelas de pedestres. Não tem rodoviária ou aeroporto, e nem um bom porto rampeado.

            Até a rodoviária nova que estão construindo demostra a burrice que reina na cidade. Ela fica bem ao lado de um igarapé podre, fedorento e imundo. Deve ser uma espécie de cartão de boas-vindas para quem chega à “capital do lodaçal”. Coletivos? Não funcionam. Nem é bom falar no novo hospital de pronto-socorro, o “Built to Suit”. E os 21 vereadores? Todos eles estão do lado do prefeito, que se orgulha de ter construído a rua Santos Dumont. Só que a mesma, apesar de ter só um quilômetro de extensão é toda torta, não tem canteiro nem arborização e não resolveu absolutamente nada no já caótico trânsito da cidade. Pior são as passarelas que construíram na BR-364, que corta a cidade. Em vez de fazerem passarelas inteiras para dar mais segurança aos pedestres, construíram meias-passarelas. E até devem construir outras nas Avenidas Jorge Teixeira e Imigrantes.

O sujeito, que certamente vai ser assaltado quando resolver passar por essas meias-passarelas, tem que cruzar duas ruas marginais movimentadíssimas. O perigo de ser atropelado vai continuar ainda maior na cidade burra. Vejam a conhecida e histórica Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, um dos símbolos da capital das sentinelas avançadas”. Abandonada, esquecida, cheia de mato, urubus e lixo está lá na beira do rio Madeira sem que a população tenha acesso a ela. A cada ano que passa, a cidade burra fica ainda pior para os seus moradores. Fica, assim, cada vez mais burra. Por isso, hoje detém o pior IDH dentre as capitais brasileiras. Se essa cidade burra fosse uma mulher, todos os seus administradores já tinham sido enquadrados na lei Maria da Penha. A cidade é burra, mas os seus moradores são “inteligentes”, pois mais de 60% deles são da direita ou da extrema-direita reacionárias, apesar de morarem na sujeira, no lodo, e no abandono.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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