terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Porto Velho, a menos visitada


Porto Velho, a menos visitada

 

Professor Nazareno*

 

            No Brasil, Porto Velho, a insólita, fedorenta, suja e podre capital de Roraima, é o destino turístico menos visitado. Foi o que disseram a plataforma Booking e o site oficial da Decolar em recente pesquisa. Até aí, nenhuma novidade. Todos que têm o desprazer e a tristeza de morar nesta descuidada e mal administrada cidade sabem da veracidade destes terríveis fatos. Ninguém em sã consciência teria coragem de vir hoje a Porto Velho para visitá-la ou mesmo fazer turismo, coisa que o lugar não tem nem nunca teve. Visitar o que por aqui? A cachoeira de Santo Antônio e o velho presídio que havia lá? As corredeiras do Teotônio que no verão exibiam suas lindas quedas d’água e todo tipo de pescaria? As velhas locomotivas da histórica EFMM que estão apodrecendo no meio do mato? Ou a beira do rio, onde as pessoas foram impossibilitadas de ir curtir o pôr do sol?

            Porto Velho nasceu a partir do rio Madeira, mas já lhe abandonou faz tempos. O turista acidental poderia ver o porto rampeado que não funciona e como os ribeirinhos fazem para descer ou subir o barranco íngreme e escorregadio quando vão viajar para o interior do município. Deve ser por isso que Porto Velho diminui a cada dia que passa. Há uns dez anos, a população superava fácil os 540 mil habitantes e hoje não passa de 460 mil moradores, segundo o IBGE. Só vem para esta “curva de rio” quem tem parentes aqui ou quem passou em algum concurso público. Até os habitantes das cidades do interior do Estado evitam viajar para a sua capital. Aqui não tem futebol, nunca teve um hospital de pronto-socorro, embora o governo estadual tenta construir um tal de “Built to Suit” que mal saiu do papel. Nem rodoviária decente a capital tem para seus passageiros.

            Porto Velho é uma nojeira só. É, com certeza, a cidade mais sebosa do Brasil. E depois de oito anos administrando o lugar, o atual prefeito disse que a questão do saneamento básico só virá com recursos internacionais, como se algum país ou mesmo uma empresa multinacional tivesse a coragem de jogar dinheiro nesse fim de mundo insalubre e distante. Resumindo: com menos de três por cento de saneamento básico e menos de 35 por cento de água encanada, a capital dos “destemidos pioneiros” não passa de uma reles currutela fedida. Com esses vergonhosos números, Porto Velho se parece com uma cidade medieval. Nem flores tem nas ruas daqui. Nem flores e nem árvores. A administração municipal arrancou todas as que tinha na avenida Tiradentes e não pôs nada no lugar. Ruas inteiras como a Jatuarana, por exemplo, não têm uma só árvore. Só asfalto.

            Porto Velho não tem nada para se ver. Só sujeira e monturo mesmo. Por isso, é a pior cidade turística do país. Quem quer ver a rua torta, que dizem ser um “marco” na cidade? Marco de quê? Além de torta, essa rua não tem um canteiro central nem uma só árvore em toda a sua extensão. Um turista doido pagaria a passagem aérea mais cara do país só para ver as ridículas “passarelas do atraso” no Espaço Alternativo? Até a “nova” rodoviária da cidade está sendo construída enviesada e fica ao lado de um igarapé podre e cheio de lixo. Nem bons ônibus urbanos há por aqui. Temos uma das piores mobilidades do mundo. A ponte do suicídio não serve para nada e até a única universidade pública do Estado, a UNIR, não tem hospital nem restaurante universitário. Os raros defensores de Porto Velho já estão morando fora faz tempo. Não resistiram ao lodaçal e à carniça. Hoje muitos devem ter vergonha de dizer que nasceram aqui. Natal: quem pode viaja para fora.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


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