Por que Santo
Fole não presta?
Professor
Nazareno*
A província de
Santo Fole, na região Norte de um certo país, é uma desgraça só se for comparada
a outros recantos da nação. Poucas coisas por lá funcionam bem. Com uma
população minúscula de menos de dois milhões de habitantes e uma área
territorial equivalente à do Reino Unido e quase três vezes maior do que a
populosa e desenvolvida Coreia do Sul, essa unidade da federação acumula em
seus poucos anos de existência um rosário de adversidades, atrasos, exploração,
roubos e obstáculos. Situada entre dois grandes biomas de interesse mundial, a
bisonha província tem mais de mil quilômetros só de fronteira internacional.
Grande parte de sua população é formada de pessoas que vieram de fora somente
para ganhar dinheiro no atrasado rincão. Talvez por isso não haja no lugar
qualquer sentimento de pertencimento muito verificado nas províncias vizinhas.
Para se ter uma ideia do atraso local, Santo Fole tem o pior sistema público de saúde de todo o país, segundo estatísticas nacionais divulgadas recentemente. Mesmo assim, grande parte de sua população votou maciçamente no candidato que foi secretário de saúde do governo anterior. Em Santo Fole quase todos os políticos são da direita e da extrema-direita e com raríssimas exceções, todos nasceram fora da província. A capital provincial, por exemplo, jamais fora administrada por um de seus tantos filhos. Fala-se à boca miúda que mesmo a própria unidade da federação jamais tivera um só governador nascido dentro de seus limites. Deve ser por isso que todo final de ano as cidades esvaziam completamente. Políticos, autoridades e o povo mais rico em geral se mandam para as praias e para outras províncias com o objetivo de se divertir e também visitar os parentes.
Passar o Natal e o Ano Novo fora da província
já virou rotina há muito tempo em Santo Fole. Fazer postagens nas redes sociais
é um passatempo predileto de quem tem dinheiro e o privilégio para viajar. Mas
não só os forasteiros viajam nos finais de ano. Muitos cidadãos “santofolenses” vão morar fora quando se
aposentam. Não se sabe ainda o porquê, mas o ódio que se nutre por Santo Fole
já vem de gerações passadas. Muitos acreditam que é por causa da ausência de bons
serviços públicos na capital da província e nas principais cidades. Ali não
existe sequer uma rodoviária decente, mas em toda campanha política, há
promessas de que “em pouco tempo, haverá
um novo terminal rodoviário de padrão internacional”, mas que nunca sai do
papel. É a mesma coisa do hospital de pronto socorro do lugar. Um velho “açougue” que só serve para matar pobres.
Poucas capitais de províncias são
iguais a de Santo Fole. Nela não há água tratada, saneamento básico e nem
arborização. Também não há nenhuma mobilidade urbana ali. Só mesmo as promessas
políticas de que “um dia” tudo vai
funcionar adequadamente. Os muitos e
luxuosos prédios da Justiça, da administração regional, da Assembleia
Legislativa e dos Ministérios Públicos, no entanto, contrastam com a pobreza
avassaladora daquela insalubre capital. A suntuosidade e o luxo espantam
qualquer um. Até as duas hidrelétricas construídas por lá só servem para
abastecer as outras regiões do país com energia boa e barata. As terras mais férteis
da província servem só para criar gado para os fazendeiros de fora. Por isso,
fala-se que Santo Fole é uma fazenda das mais lucrativas do país. Na paupérrima
região, cujo povo vota geralmente só em candidatos reacionários, todos já se
preparam para mais um ano de submissão e agruras. Feliz 2023!
*Foi
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
você conseguiu expor tudo o que eu penso e muito mais!
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