“Me engana que eu gosto”
Professor
Nazareno*
Como animais irracionais e sem
questionar absolutamente nada, muitos dos seres humanos se especializaram em ser
enganados e lesados pelos seus próprios semelhantes. No Brasil, essa
característica de ludibriar os mais imbecis parece ser uma espécie de
passatempo nacional. A lorota começa com a religião. Os mais velhos, sem
nenhuma evidência da verdade, geralmente colocam na cabeça dos mais incautos a
crença sem provas da existência de um Deus superior a tudo e dependendo do viés
político, induzem os mais novos e menos informados a crerem na Bíblia, no
Alcorão, na Torá e em “profetas” enviados
para salvar e guiar toda a humanidade como Moisés, Jesus Cristo e Maomé dentre
tantos outros. Com o passar dos tempos, no entanto, essa mania de enganar os
mais otários continuou, e com alguns requintes, em quase todas as áreas da
sociedade.
No aspecto da
economia, por exemplo, criou-se a bobagem de que o salário mínimo pago pelo
estado e pela maioria dos empregadores é uma remuneração justa que vai resolver
todos os problemas de quem recebe essa miséria financeira. Em alguns países,
receber esse salário até que compensa se compararmos com o que se paga no
Brasil, onde essa quantia é o equivalente a pouco mais de 230 euros mensais
enquanto em Portugal é superior a 750 euros e na França e Alemanha chega a
quase dois mil euros por mês. Por aqui muitos patrões se acham os “donos do pedaço” e muitas vezes até
exploram seus empregados por causa dessa mixaria que lhes pagam por mês. A
ambição capitalista se mesclou à religião e sem nenhum acanhamento inventou o
Papai Noel para impulsionar suas vendas todos os finais de ano. Pior: ensina às
crianças que esse velho maldito é bom.
É de partir o coração observar-se anualmente
a piada do “bom velhinho” sendo
repassada com tanto empenho às futuras gerações do país. Devia ser crime
enganar uma infinidade de crianças inocentes. Até a Empresa de Correios no
Brasil entra na mentira e na enganação. Induz aos tolos, sem nenhum remorso,
que eles escrevam uma cartinha para o “velhinho
tarado” lhe pedindo um presente. Quanta mentira! Quanta enganação! Quanta
desfaçatez! E todos sabem que Papai Noel nada tem a ver com religião. E o que
falar dos “patriotários” que estão na frente dos quartéis pedindo
um golpe militar? Porém, o rol de enganações segue normalmente em quase todas
as ações humanas. Durante toda Copa do Mundo, enganam-se muitos brasileiros de
que a seleção nacional é superior às outras e vencerá. Aí quando perde, a “ficha cai” e a decepção toma conta dos
enganados.
E a campanha do hexa já foi adiada para
a próxima Copa, quando se inventarão novas mentiras para ludibriar os trouxas
da ocasião em 2026. Mas é na política que os brasileiros são engabelados como
nunca. Nessa última campanha para presidente dizia-se que só havia praticamente
dois candidatos: um era ladrão e o outro fascista. Elegeram o ladrão na
esperança de que se fez a coisa mais certa do mundo. Depois, quando tudo começa
a desandar, muitos dizem que vão mudar o voto para consertar o país. Ninguém,
entretanto, percebe que praticamente todos os candidatos são sempre “farinha do mesmo saco” e estão no poder
apenas para representar a elite nacional, a dona do dinheiro, que sempre
explora os mais necessitados e perpetua dessa forma a nossa monstruosidade
desigualdade social. O Brasil, e também boa parte dos países do mundo, vive só de
farsas. Os mais ricos vivem explorando os mais pobres e tudo segue como em um
Natal macabro.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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