O gado está
dividido
Professor
Nazareno*
Como
na historinha contada por George Orwell, havia um enorme curral repleto de
bovinos alienados que eram dominados por um jumento e seus familiares. O curral
era moderno e próspero, tinha certo reconhecimento internacional, produzia
muitas commodities e de tempos em tempos era governado por um animal escolhido
entre a boiada ignorante. O problema é que nunca fora escolhido um animal que
governasse bem aquele lugar. Os escândalos de corrupção e roubalheiras sempre
foram rotina. E quando recentemente a “toupeira
que estocava ventos” governou aquele gado, os escândalos de corrupção
explodiram quase sem controle. Por isso, todos os ratos, porcos e tucanos se
reuniram e resolveram dar um golpe na infeliz toupeira. Motivos não havia, mas
o gado foi convencido e prontamente deu apoio às intenções golpistas.
Só que com o golpe, os
problemas do curral não foram resolvidos. O animal escolhido para comandar os
ruminantes era tão ladrão quanto todos os outros governantes anteriores. Os
escândalos não paravam, a roubalheira aumentava consideravelmente e ninguém
fazia nada para “estancar a sangria”.
Por isso, crescia a popularidade de certo asno, que apesar de ser burro, falava
pelos cotovelos. Esse dito jumento era oriundo de um antigo regime militar
comandado por gorilas e que já havia comandado o curral durante 21 anos. O
jumento não tinha estudos, não conhecia direitos humanos, não falava outra
língua, não respeitava protocolos, mas “sabia
falar tudo o que o gado gostava de ouvir”. Uma espécie de jumento
incendiário, que pregava o fim da corrupção, o renascer de outra nação e de
dias melhores para o gado estúpido.
Com as eleições já
marcadas, o jegue em ascensão liderava todas as pesquisas de opinião. O gado
orgulhosamente saía às ruas em apoio ao seu líder. Os tucanos estavam
preocupados, pois ajudaram no golpe de 2016 e nada irão levar se o asno for
eleito. Na pressa para assumir o poder junto com os filhos, o jumento agiu
rápido durante a campanha. Pediu ajuda ao marreco, que era juiz. O palmípede
conduziu um processo fraudulento e sem provas reais, prendeu certo molusco e
com a aliança da mídia elitista demonizou a esquerda abrindo assim caminho para
a eleição do estúpido jerico que já no poder, recompensou devidamente o marreco
com altos cargos no staff. O ambicioso marreco esteve cotado para assumir,
inclusive, uma vaga nos tribunais superiores do curral. Mas o marreco se
rebelou com certas atitudes do asno-presidente.
Por isso, o pato-de-braço-curto,
muito aborrecido, mas com boa aceitação popular, deixou o poder. Disse que o
jumento quer proteger os próprios filhos de uma investigação da Polícia
Federal, subordinada ao marreco. O curral vive uma feroz pandemia de
Coronavírus e o jumento nada faz além de criar constantes crises no governo.
Debocha da pandemia, faz piadas e não governa para sanar os problemas do curral.
Diz abertamente que por causa da quarentena vai faltar capim para o gado num
futuro bem próximo. O gado, no entanto, se dividiu na crise entre o jumento e o
marreco. Muitos não sabem a quem apoiar nesta “arenga de comadres”. O fato é que enquanto existir algum capim, o
gado fica quieto, mas muito dividido. E sofrendo bastante por causa da
Covid-19. O curral parece amaldiçoado, pois nada dá certo. O gado ali é como
lombriga, se sair da merda, morre. E como pôde até adorar um burrico?
*Foi Professor em Porto Velho.
Um comentário:
Enquanto isso, o gado continua caminhando a passos curtos, socialmente, financeiramente e moralmente. Inclusive se apegando às migalhas oferecidas ao longo da pastagem, no valor de 600 reais, feliz da vida. Há até os que não poderiam pegar essas migalhas, mas continua querendo passar à frente daqueles que realmente estão sem capim...
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