segunda-feira, 27 de abril de 2020

O gado está dividido


O gado está dividido

Professor Nazareno*

             Como na historinha contada por George Orwell, havia um enorme curral repleto de bovinos alienados que eram dominados por um jumento e seus familiares. O curral era moderno e próspero, tinha certo reconhecimento internacional, produzia muitas commodities e de tempos em tempos era governado por um animal escolhido entre a boiada ignorante. O problema é que nunca fora escolhido um animal que governasse bem aquele lugar. Os escândalos de corrupção e roubalheiras sempre foram rotina. E quando recentemente a “toupeira que estocava ventos” governou aquele gado, os escândalos de corrupção explodiram quase sem controle. Por isso, todos os ratos, porcos e tucanos se reuniram e resolveram dar um golpe na infeliz toupeira. Motivos não havia, mas o gado foi convencido e prontamente deu apoio às intenções golpistas.
              Só que com o golpe, os problemas do curral não foram resolvidos. O animal escolhido para comandar os ruminantes era tão ladrão quanto todos os outros governantes anteriores. Os escândalos não paravam, a roubalheira aumentava consideravelmente e ninguém fazia nada para “estancar a sangria”. Por isso, crescia a popularidade de certo asno, que apesar de ser burro, falava pelos cotovelos. Esse dito jumento era oriundo de um antigo regime militar comandado por gorilas e que já havia comandado o curral durante 21 anos. O jumento não tinha estudos, não conhecia direitos humanos, não falava outra língua, não respeitava protocolos, mas “sabia falar tudo o que o gado gostava de ouvir”. Uma espécie de jumento incendiário, que pregava o fim da corrupção, o renascer de outra nação e de dias melhores para o gado estúpido.
            Com as eleições já marcadas, o jegue em ascensão liderava todas as pesquisas de opinião. O gado orgulhosamente saía às ruas em apoio ao seu líder. Os tucanos estavam preocupados, pois ajudaram no golpe de 2016 e nada irão levar se o asno for eleito. Na pressa para assumir o poder junto com os filhos, o jumento agiu rápido durante a campanha. Pediu ajuda ao marreco, que era juiz. O palmípede conduziu um processo fraudulento e sem provas reais, prendeu certo molusco e com a aliança da mídia elitista demonizou a esquerda abrindo assim caminho para a eleição do estúpido jerico que já no poder, recompensou devidamente o marreco com altos cargos no staff. O ambicioso marreco esteve cotado para assumir, inclusive, uma vaga nos tribunais superiores do curral. Mas o marreco se rebelou com certas atitudes do asno-presidente.
      Por isso, o pato-de-braço-curto, muito aborrecido, mas com boa aceitação popular, deixou o poder. Disse que o jumento quer proteger os próprios filhos de uma investigação da Polícia Federal, subordinada ao marreco. O curral vive uma feroz pandemia de Coronavírus e o jumento nada faz além de criar constantes crises no governo. Debocha da pandemia, faz piadas e não governa para sanar os problemas do curral. Diz abertamente que por causa da quarentena vai faltar capim para o gado num futuro bem próximo. O gado, no entanto, se dividiu na crise entre o jumento e o marreco. Muitos não sabem a quem apoiar nesta “arenga de comadres”. O fato é que enquanto existir algum capim, o gado fica quieto, mas muito dividido. E sofrendo bastante por causa da Covid-19. O curral parece amaldiçoado, pois nada dá certo. O gado ali é como lombriga, se sair da merda, morre. E como pôde até adorar um burrico?



*Foi Professor em Porto Velho.

Um comentário:

MARCOS CARDOZO disse...

Enquanto isso, o gado continua caminhando a passos curtos, socialmente, financeiramente e moralmente. Inclusive se apegando às migalhas oferecidas ao longo da pastagem, no valor de 600 reais, feliz da vida. Há até os que não poderiam pegar essas migalhas, mas continua querendo passar à frente daqueles que realmente estão sem capim...