Porto Velho tem
“geito”!
Professor
Nazareno*
Óbvio que eu não
sou prefeito de Porto Velho, a eterna capital de Roraima, nem de nenhum outro
lugar do mundo. Mas se o diabo protegesse e os anjos dissessem amém e eu
pudesse administrar este arremedo de cidade, juro que “ageitava” muita coisa nesta currutela inóspita. A primeira obra que
eu faria como administrador “disto”
aqui não seria beijar nem acariciar, já que não teria coragem de me abraçar com
carniça. Eu mandava arrancar todo o asfalto das ruas, pois essa primeira ação
acabaria de imediato com todos os buracos da cidade. O calor infernal
diminuiria consideravelmente e as pessoas viveriam bem melhor sem o nosso mormaço
característico. Água encanada não haveria mais. Mandava cavar buracos nas ruas só
para abastecer as residências. Distribuiria cabaças e potes de barro para
todos. Como chove muito, água não faltaria.
Cuidaria também
da mobilidade urbana, que na capital sempre foi uma desgraça. Trocaria todos os
carros movidos à combustão por carroças puxadas a burros e cavalos. O ar, sem o
odor típico da queima de gasolina, álcool ou do diesel, ficaria bem mais
respirável. Se tivesse pensado nisto antes, a greve dos caminhoneiros, por
exemplo, não teria nos afetado em quase nada. Mandava destruir todos os
elevados do antigo Trevo do Roque e de outras áreas da cidade que os matutos e
as autoridades locais chamam de viadutos e mandava retirar todo e qualquer “bico de luz” que tivesse na ponte escura
no rio Madeira. Nas escolas do município eu inovaria e só contrataria professor
que tivesse uma religião para evitar que os nossos meninos fosses ateus. Antes
de cada aula, os alunos marchariam e deveria ser cantado o hino nacional e
também Céus de Rondônia.
Uma vez eleito prefeito da “capital das sentinelas avançadas”,
colocaria logo um nome no Espaço Alternativo: Centro de Lazer Deputado Lúcio
Mosquini (CELADELUMO) em homenagem a um dos criadores daquele recanto popular.
O deputado, além de muito trabalhador, é um ícone para os habitantes da capital
e será reeleito sempre que quiser, com toda a certeza. O lugar que os
porto-velhenses usam para tirar “fotinhas”
é um marco na arquitetura de toda a região Norte do país. Comigo na prefeitura,
eu municipalizava imediatamente o “açouge”
João Paulo Segundo. Construiria em cada bairro da cidade uma filial daquele
procuradíssimo e exemplar centro de saúde. O porto rampeado do Cai N’Água seria
desmontado e vendido ao ferro velho, já que não serve para nada mesmo. Subir e
descer o barranco é mais romântico.
A Expovel, claro, voltaria a ser um dos
espetáculos grandiosos de Porto Velho caso eu fosse uma autoridade por aqui.
Desfiles pelas ruas da cidade não faltariam. O “assa xereca” deslumbraria as moçoilas casadoiras todo ano. Toneladas de bosta de animais encantariam a
todos os orgulhosos moradores. E nada de distribuir aos participantes sacolas
para o lixo, pois não há espetáculo maior em Porto Velho do que ver o “lixaral” esparramado pelas ruas e
avenidas depois de um “ato cultural”.
Festas como Flor do Maracujá e Flor do Cacto, que homenageiam a exuberante
flora local, seriam incentivadas. Parada para Jesus, Marcha do Orgulho Gay e
Banda do Vai Quem Quer participariam todos os anos de um concurso para ver quem
mais sujava a cidade. O prêmio seria o “Urubu
de Ouro”, uma espécie de Oscar da sujeira. Porto Velho tem “geito”, sim! O que falta aqui é
criatividade... E também o conhecimento da gramática.
*É
Professor em Porto Velho.
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