Derrota: os 7 X
1 eternos
Professor
Nazareno*
Em plena Copa do
Mundo de futebol, alguns amigos me perguntam por que não torço pela seleção
brasileira. “Não consigo”, respondo
laconicamente. Embora torça pelo bom futebol, que é um esporte maravilhoso, vejo
o uso político dessa prática esportiva como um acinte à carente e incivilizada
sociedade brasileira. Um deboche da classe política principalmente. Se somos Primeiro
Mundo neste esporte, a vida diária no país nos diz o contrário. O Brasil há
mais de quarenta anos é uma das dez maiores potências econômicas do planeta,
mas temos uma das piores qualidades de vida. Produzimos riqueza em grandes
quantidades e somos o segundo maior produtor de alimentos da atualidade, mas em
contrapartida temos pobreza e desigualdade social como nenhuma outra nação. Só
de famintos, temos quase 20 milhões de pessoas.
Mas você deve estar se perguntando: e
o que a Copa do Mundo e o futebol têm a ver com essa triste realidade vivida
pelo nosso país? O futebol realmente não pode ser responsabilizado sozinho por
esta calamidade, mas contribui de forma decisiva para escamotear a escandalosa
situação vivida pela nação. O “esporte
das multidões” é o carro chefe da alienação política e social vivida pelos milhões
de torcedores. Inebriado, cego e enlouquecido pelos seus “heróis de chuteiras” durante uma competição internacional, o
brasileiro comum se desliga da rotina diária e “viaja” num mundo de sonhos impossíveis de lhe acontecer. Veste a
camisa amarela da seleção, pinta sua casa nas cores nacionais, enfeita as ruas,
prega bandeira no seu carro e passa a adorar os “deuses dos gramados”. Patriotismo de ocasião: isso só existe de
quatro em quatro anos.
O futebol nos deu cinco títulos
mundiais, movimenta milhões de reais e nos dá alguma alegria. Porém são poucos
os que se beneficiam dessas riquezas. É como perder de 7 X 1 todo dia. Na Copa
que o PT e Lula trouxeram para cá em 2014, por exemplo, foram mais de dez bilhões de dólares (quase 40 bilhões
de reais) de prejuízo que teremos de pagar somente pelas arenas superfaturadas.
Obras inacabadas, corrupção sem controle e roubalheiras completaram o “legado amaldiçoado”. Para o Brasil, Copa
do Mundo e futebol só dão prejuízos. E muita alienação. Todo este dinheiro
aplicado em educação, saúde, saneamento básico e mobilidade urbana teria mudado
muita coisa no país. A Copa do Mundo e as Olimpíadas quebraram o Rio de Janeiro
e ajudaram a enriquecer seus governantes. O povo torcedor, como sempre, ficou à
margem de tudo.
Se
nossas autoridades políticas e o povo brasileiro de um modo geral amassem e
venerassem esse país como o fazem em Copas do Mundo, certamente teríamos outra
pátria, outra realidade. O Brasil precisa perder várias vezes e ser goleado
para que esse povo explorado acorde para a triste realidade que o cerca. O
futebol sozinho não pode nem deve ser a baliza que norteará toda uma sociedade.
De que adianta ganhar somente dentro de campo e perder nas outras coisas? E se eu
torcer contra o Brasil, o governo vai construir mais escolas, mais hospitais e
mais redes de esgoto? Talvez não, mas sabe que não pode contar com a minha
idiotice para a roubalheira que faz. Além do mais, não posso ficar alegre nem
ser conivente com as desgraças evitáveis que nos acontecem enquanto nação. Os
cidadãos brasileiros devem entender que nem vitória nem derrota de sua seleção
mudarão suas vidas em nada. E por sinal, o futebol do Brasil está péssimo.
*É
Professor em Porto Velho.
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