Cruzada
moralista no Brasil
Professor
Nazareno*
De uns tempos para cá, muitos
brasileiros estranhamente se viram envolvidos em uma cruzada moralista sem
precedentes que mais se parece com uma espécie de “caça às bruxas”. Em todos os sentidos busca-se o politicamente
correto como se aqui vivessem os mais puros e honestos habitantes do mundo. Com
o advento e a popularização das redes sociais, a busca pelos cinco minutos de
fama se intensificou de forma assustadora. Dois fatos recentes servem para
exemplificar essa mudança radical no comportamento de alguns hipócritas. O
primeiro foi dentro de um shopping Center em Salvador na Bahia e o outro na
Rússia em plena Copa do Mundo. Em ambos os casos, uma parte da população do
país foi tomada de uma hora para outra por arroubos moralistas e pediu punição
imediata a todos os envolvidos nos lamentáveis episódios.
No caso de Salvador, quando um
comerciante pagou um almoço para um garoto de aparência humilde que vendia
balinhas na porta do estabelecimento, a população se revoltou com o segurança
que tentava impedir de qualquer maneira a presença do menor naquele ambiente. Tudo
foi devidamente filmado e, claro, o tumulto logo “viralizou” nas redes sociais. Nada aconteceu com o estabelecimento
comercial nem com os seus donos. Sobrou tudo para a parte mais fraca: o
vigilante. Afastado imediatamente de suas funções, a direção do shopping disse
que o mesmo passará por uma “capacitação”.
Mas já circulam comentários nas mesmas redes sociais dando conta de que o mesmo
fora demitido e na procura de um novo emprego, já foi recusado por três
empresas. Por que o cidadão não foi capacitado antes? Será que ele não estava
mesmo cumprindo ordens?
Além do mais, por que um desconhecido
estava na companhia de um garoto querendo lhe dar comida? Ninguém questionou
nada nem buscou saber o porquê de um menor estar mendigando comida nas ruas
quando podia estar em uma escola. E a sua família? O “vilão” já foi punido e isso é o que mais interessa. Todos saíram
felizes do episódio, menos o coitado do segurança e de sua família. Já o outro
triste e lamentável fato, o caso do vídeo gravado em Moscou, teve muito mais
repercussão. Bêbados e vestidos com a camisa da seleção brasileira, alguns torcedores
protagonizam o que de pior existe entre nós brasileiros: misoginia,
preconceito, machismo e falta de vergonha na cara. Eles fizeram uma sorridente
jovem russa pronunciar junto com eles que o seu órgão genital era rosa. “Buc... rosa! Buc... rosa!”, era o refrão. Uma cena dantesca!
Como não
entendia uma só palavra do Português, a alegre jovem achava que se tratava
apenas de um grito de guerra dos brasileiros e cantou alegremente com todos
eles. Sob todos os pontos de vista, aquela “diversão”
de péssimo gosto parecia músicas FUNK cantadas no Brasil. Ninguém
gostaria de ver uma familiar ou uma amiga se envolver numa cena absurda desta. Mas as reações por aqui foram imediatas. Feministas e afins passaram a caçar e a identificar
os envolvidos na canalhice. Até a rede Globo faturou com o episódio dando lições de ética.
Muitos querem a punição dos infratores. Moralistas e defensores dos “bons costumes” engrossam o coro. Na
Rússia, assédio não é crime. Mas a pressão foi tanta que os russos podem
investigar o caso. Vai sobrar de novo para a parte mais fraca. Os brasileiros
deviam se incomodar também com o roubo na política e com desvios de dinheiro,
que são muito mais imorais. Mas todos se calam.
É Professor em Porto Velho.
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