Trabalharei
na sexta, 28/04
Professor
Nazareno*
Sou professor,
claro. Não daqueles bons e catedráticos. Professor de Redação e de Gramática
Normativa. Tenho mais de 700 alunos só no Projeto Terceirão da Escola João Bento
da Costa em Porto Velho. Não sou reacionário, conservador e nem coxinha, mas não
me recuso a ir trabalhar na sexta-feira, dia 28 de abril, quando o Brasil
inteiro vai fazer greve geral contra as reformas trabalhistas anunciadas pelo
governo golpista de Michel Temer. Até concordo com quase todas as
reivindicações e reclamações dos protestos, mas se negar a ir dar aulas é jogar
fora uma das poucas oportunidades de mostrar aos pupilos a real situação em que
se encontra o país depois do golpe dado num governo igualmente ladrão, mas
eleito democraticamente. Além do mais, muitos dos meus alunos não têm leitura
de mundo e precisam de opiniões sobre todos os temas.
Não posso me
recusar a dar algumas aulas onde lhes informarei que várias empresas do Brasil
como os grandes bancos, por exemplo, devem muito à Previdência Social e que a
tática covarde e criminosa de se colocar a culpa nos trabalhadores pela
falência do nosso sistema previdenciário é mais uma farsa desse governo
ilegítimo e corrupto. Falarei ainda sobre o golpe de 17 de abril passado quando
um Congresso Nacional repleto de denunciados na operação Lava Jato golpeou a
Dilma Rousseff com a sórdida intenção de se livrar das acusações, que foram
mostradas à nação com as recentes delações da Odebrecht. Direi que a Rede Globo
de Televisão é uma empresa que deve satisfações ao país e que, apesar de sua
competência, manipula a opinião pública ao seu gosto e que quase todos os seus
programas são alienantes e ridículos.
Seria uma tolice
perder a oportunidade de dizer aos meus alunos que Porto Velho ainda continua sendo
o “cu do mundo” e que a Consultoria
Macroplan afirmou recentemente que em sujeira e podridão só ganha de Macapá no
Amapá. Embora muitos deles já sabiam disto, por que não repetir que temos uma
das piores qualidades de vida do Brasil?
O nosso IDH é menor do que Porto Príncipe no Haiti e igual ao de muitas
capitais de países da África subsaariana. Muitos meninos ficarão informados de
que o “prefeito sem salário” Hildon
Chaves é uma farsa em Porto Velho. Hildon mentiu sobre os quinquênios e
empregou sem concurso público mais de dois mil “assessores”. Tudo isto com a conivência absurda da Câmara de
Vereadores da cidade. Meus parentes das civilizadas Curitiba e Gramado
continuarão sem me visitar ainda por um bom tempo.
Direi a todos
eles que espero convictamente pela prisão do Lula e pela punição exemplar do
PT, o partido que me enganou durante décadas. Falarei também que os tucanos José
Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves estão enrolados na Lava Jato por causa das
delações das empreiteiras e que assim como os petistas devem ser punidos sem dó
nem piedade. O PMDB e o PSDB, parceiros no golpe contra o PT, também são tão
sujos quanto pau de galinheiro. Por que não falar que a corrupção na política
brasileira é endêmica e que o povo não reage por que é acomodado e
despolitizado demais? E claro que eles saberão que Rondônia é o Estado da
pistolagem absoluta e que por aqui impera a lei do mais forte. Não teria
coragem de dispensar meus alunos com assuntos tão importantes para se debater
em boas aulas. E então, vocês estão esperando o quê? Todos para a sala de aula.
Depois vamos às manifestações. Ou vão se acomodar?
*É
Professor em Porto Velho.
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