Temer,
amigo de Rondônia e do Brasil
Professor
Nazareno*
O Brasil já tem um novo governo,
graças a Deus! Novo, diferente, melhor, muito mais dinâmico e arrojado. De
agora em diante, a nação tupiniquim será transformada num paraíso com lindas
borboletas azuis e coelhinhos saltitantes. Todo mundo anda rindo à toa. A cara
de felicidade das pessoas é algo indisfarçável. Já fazia certo tempo que este
ineditismo não acontecia em toda a nossa História. Um governo legítimo,
popular, íntegro, democrático e acima de tudo “preocupado” com as reais
aspirações dos que o elegeram e o levaram ao poder supremo do país. A mídia,
toda imparcial, ri sem parar. A felicidade reina absoluta na maioria das
redações de jornais, sites, revistas e emissoras de televisão. A briosa equipe
que forma o governo da “Ordem e Progresso” não poderia ter sido tão bem
escolhida para representar os agora felizes brasileiros.
De norte a sul, de leste a oeste a
cantilena que se ouve é a de pessoas de todas as cores partidárias, filosóficas
e ideológicas tecerem loas elogiosas ao novo governo. A composição do
Ministério é um primor. Só intelectuais e fichas limpas, homens probos e
comprometidos com as aspirações dos mais necessitados. As mulheres, antes
relegadas a jornadas exaustivas de trabalhos burocráticos e políticos, ganham
enfim, o seu máximo reconhecimento. Como os “homens do presidente” são
todos bons, resolveram poupar as pobres coitadas, que agora já podem descansar e
se dedicarem às leves tarefas domésticas e à criação da prole. Recatadas e do
lar, deixam agora para eles a dura tarefa de gerir a sociedade, de preferência aos
brancos e ricos. Não é misoginia, é reconhecimento mesmo dos homens ao “verdadeiro
papel da mulher” em nosso país.
O governo Temer é tão bom que nem de
Rondônia se esqueceu: extinguiu o Ministério da Cultura em homenagem ao nosso
Estado. Como não há nem nunca houve cultura por aqui, ficamos todos honrados
com esta justa lembrança. Por isso, cem por cento dos nossos representantes
votaram pela saída da Dilma. Como no resto do país também não tem muita
cultura, entende-se que esse “heroico ato” não foi vingança a nenhum
artista como maldosamente disseram. E os negros do país? Igualmente foram
poupados e agora serão representados, e muito bem, pelos brancos mandatários.
Como nunca houve discriminação racial nem violência contra os afrodescendentes no
Brasil, a medida foi também muito justa. Todas as minorias do país estão transbordando
de tanta alegria: ninguém vai mais se preocupar com a política e as “coisas
chatas” do Poder.
Com o novo governo, só quem ganhará
alguma coisa será a democracia, o povo brasileiro, o nordestino, o pobre, o
negro, as mulheres e os LGBT. A corrupção, a ditadura, a hipocrisia, o
preconceito, a xenofobia, o racismo, o machismo, a homofobia, e a misoginia
estão com os dias contados. Personalidades como Jair Bolsonaro, Silas Malafaia,
Marco Feliciano, deputados da Bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia) terão que se
adaptar aos novos e bons tempos. O Brasil, agora sim, deu uma guinada de pelos
menos 200 anos para frente em termos de conquistas sociais. Seremos a potência
dos direitos humanos e vamos fazer inveja às nações civilizadas do Primeiro
Mundo. Até acho que a Constituição
deveria ser imediatamente substituída pela Bíblia e pelos ensinamentos dos
religiosos. Eu só não consigo entender como é que os brasileiros não perceberam
todas essas benesses a tempo e conviveram durante longos 13 anos com trevas em
nosso país.
*É Professor em
Porto Velho (e já convertido aos novos tempos).
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