Novo
governo, novas regras
Professor
Nazareno*
Com a chegada de um novo governo ao
poder máximo no Brasil, é normalíssimo que as regras da sociedade possam também
mudar para o bem de toda a nação. Com amplo apoio popular e aceitação em todos
os setores da vida nacional e também euforicamente festejado nos mais
longínquos recantos internacionais, o governo de Michel Temer à frente dos
nossos destinos imprimirá um ritmo de bem-aventurança e otimismo jamais vistos
nestes 516 anos de História. E as mudanças já começam a ser vistas em todos os
quadrantes da vida cotidiana. A participação feminina na política, por exemplo,
ganha um merecido descanso. Ressurge agora no
horizonte, “a voz de um homem, uma ação da razão, sem a emoção da
feminilidade, mas uma voz masculina, grossa, autêntica, firme, determinada,
onde se observa que é macho e não fêmea”.
Os negros também não
participarão do novo governo por uma razão muito simples: eles nunca tiveram o
total controle das finanças nacionais e por isso podem não saber lidar de
maneira correta e justa com os números. Além do mais, durante mais de três
séculos foram muito bem governados pelos brancos sábios. Naquele tempo, nenhuma
reclamação de maus tratos, tortura, perseguições ou mesmo de preconceito racial
foi notificada pela História. A contribuição afrodescendente já foi dada ao
país. Já somos uma democracia racial há muito tempo, “graças às nossas
lindas escravas”. Os quilombolas, as danças afro, os ritos, a umbanda, o
candomblé e outras manifestações folclóricas de grande importância cultural e
antropológica lhes tomarão todo o tempo se forem permitidas nesta nova
conjuntura política. Os brancos saberão dar conta de tudo.
As demais minorias assim
como os LGBT também serão “poupadas”. Se quiser, podem até participar do
“Ministério da Cura Gay” que será criado e terá um pastor evangélico
como ministro. Infelizmente, as Passeatas do Orgulho Gay serão proibidas por absoluta
falta de verbas. O conceito de família voltará a ser o tradicional com homem,
mulher, (amante) e filhos. Nada de união estável ou Estado laico. O
Brasil será uma República Cristã evangélica com participação de católicos. Todo
cidadão deverá ter obrigatoriamente uma religião. Nada de ateus, agnósticos ou
outra denominação que não louve a Cristo, ao paraíso e à salvação acima de tudo.
O Facebook será monitorado, infelizmente. Só terá direito a usá-lo quem publica
postagens favoráveis ao novo governo. Professores, poetas, dramaturgos e alguns
artistas não poderão ter opiniões.
Claro que não se trata de censura como
pensam alguns pessimistas. É só precaução mesmo. A mídia será toda “acompanhada
de perto” e as notícias terão novo vocabulário. Revista Veja, Rede Globo e
Folha de São Paulo serão órgãos da mídia oficial e representarão o Brasil. Que
órgãos e jornalistas representarão agora a mídia oficial de Rondônia? Manifestação
pública terá dois nomes: se a favor do governo, será chamada de caminhada cívica
e heroica, cujos participantes são nacionalistas e pessoas do bem. Se for
contra, terá somente baderneiros, arruaceiros e desocupados. Os jornais da TV
só poderão transmitir coisas boas e otimistas para as nossas crianças. O
futebol, óbvio, será incentivado e todas as manifestações culturais levarão em
conta só os princípios positivistas, religiosos e familiares. Música só se for
Gospel. Com estas mudanças, o mundo nos verá de forma diferente. E tudo será
melhor. Graças a Deus!
*É Professor em Porto
Velho.
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