quarta-feira, 18 de maio de 2016

Novo governo, novas regras



Novo governo, novas regras

Professor Nazareno*

Com a chegada de um novo governo ao poder máximo no Brasil, é normalíssimo que as regras da sociedade possam também mudar para o bem de toda a nação. Com amplo apoio popular e aceitação em todos os setores da vida nacional e também euforicamente festejado nos mais longínquos recantos internacionais, o governo de Michel Temer à frente dos nossos destinos imprimirá um ritmo de bem-aventurança e otimismo jamais vistos nestes 516 anos de História. E as mudanças já começam a ser vistas em todos os quadrantes da vida cotidiana. A participação feminina na política, por exemplo, ganha um merecido descanso. Ressurge agora no horizonte, “a voz de um homem, uma ação da razão, sem a emoção da feminilidade, mas uma voz masculina, grossa, autêntica, firme, determinada, onde se observa que é macho e não fêmea”.
Os negros também não participarão do novo governo por uma razão muito simples: eles nunca tiveram o total controle das finanças nacionais e por isso podem não saber lidar de maneira correta e justa com os números. Além do mais, durante mais de três séculos foram muito bem governados pelos brancos sábios. Naquele tempo, nenhuma reclamação de maus tratos, tortura, perseguições ou mesmo de preconceito racial foi notificada pela História. A contribuição afrodescendente já foi dada ao país. Já somos uma democracia racial há muito tempo, “graças às nossas lindas escravas”. Os quilombolas, as danças afro, os ritos, a umbanda, o candomblé e outras manifestações folclóricas de grande importância cultural e antropológica lhes tomarão todo o tempo se forem permitidas nesta nova conjuntura política. Os brancos saberão dar conta de tudo.
As demais minorias assim como os LGBT também serão “poupadas”. Se quiser, podem até participar do “Ministério da Cura Gay” que será criado e terá um pastor evangélico como ministro. Infelizmente, as Passeatas do Orgulho Gay serão proibidas por absoluta falta de verbas. O conceito de família voltará a ser o tradicional com homem, mulher, (amante) e filhos. Nada de união estável ou Estado laico. O Brasil será uma República Cristã evangélica com participação de católicos. Todo cidadão deverá ter obrigatoriamente uma religião. Nada de ateus, agnósticos ou outra denominação que não louve a Cristo, ao paraíso e à salvação acima de tudo. O Facebook será monitorado, infelizmente. Só terá direito a usá-lo quem publica postagens favoráveis ao novo governo. Professores, poetas, dramaturgos e alguns artistas não poderão ter opiniões.
Claro que não se trata de censura como pensam alguns pessimistas. É só precaução mesmo. A mídia será toda “acompanhada de perto” e as notícias terão novo vocabulário. Revista Veja, Rede Globo e Folha de São Paulo serão órgãos da mídia oficial e representarão o Brasil. Que órgãos e jornalistas representarão agora a mídia oficial de Rondônia? Manifestação pública terá dois nomes: se a favor do governo, será chamada de caminhada cívica e heroica, cujos participantes são nacionalistas e pessoas do bem. Se for contra, terá somente baderneiros, arruaceiros e desocupados. Os jornais da TV só poderão transmitir coisas boas e otimistas para as nossas crianças. O futebol, óbvio, será incentivado e todas as manifestações culturais levarão em conta só os princípios positivistas, religiosos e familiares. Música só se for Gospel. Com estas mudanças, o mundo nos verá de forma diferente. E tudo será melhor. Graças a Deus!




*É Professor em Porto Velho.

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