Aceitando
o contraditório
Professor
Nazareno*
O filósofo Nietzsche disse certa vez que
os inimigos têm grande importância na nossa vida, à medida que “só nos
desenvolvemos intelectualmente a partir do momento em que nos envolvemos com
quem tem opiniões e condutas diferentes das nossas”. Seguindo este raciocínio,
percebe-se que é muito bom mesmo termos contatos com direitistas e esquerdistas,
respectivamente “coxinhas e mortadelas” em relação à atual crise
política que o país está passando. O
problema é que a escassez de argumentos existentes em cada um dos referidos
grupos impressiona qualquer indivíduo que tente enveredar por esta seara. O
Brasil tem aproximadamente 205 milhões de habitantes e acredita-se que pelo
menos 80 por cento deles são indivíduos estúpidos, ocos de ideias, sem leitura
de mundo ou conhecimento político e filosófico para um excelente debate.
A primeira e vazia discussão é se a
saída da Dilma Rousseff do governo foi golpe ou impeachment. Os esquerdistas e
petistas dizem que foi golpe, embora admitam que quando o direitista Collor, há
24 anos, foi expulso do poder, a história era outra. Por isso, em 1992 houve
impeachment. Hoje, os “coxinhas” e reacionários juram que foi
impeachment e pronto. Tudo estava dentro da lei e por isso não se pode levar em
conta, portanto, a atuação desastrosa e folclórica dos parlamentares
brasileiros durante a aprovação do fato político. O alívio é que o “desgoverno”
e a roubalheira petista não vão mais existir por pelo menos seis meses. Pior:
as ações empreendidas pelos novos mandatários são defendidas “com unhas e
dentes” nas redes sociais pelos seus apoiadores. E, claro, refutadas com
argumentos de sobra pelos atuais oposicionistas.
Muitos amigos e
contatos meus nas redes sociais, por exemplo, urravam desesperadamente pela
saída da petista do poder. Chamados de direitistas e conservadores, afirmavam
que estavam apenas contra a corrupção e o desmando no país. Suas postagens
eram, portanto, compreensíveis naquele momento. Só que, consumado o golpe parlamentar
e a tomada do poder pela elite, suas postagens continuaram com o mesmo teor
idológico. Para muitos desses “novos coxinhas”, Temer e sua equipe
encarnam o que de melhor há em nossa política. E até estranham o fato de os
novos mandatários serem “compreensivos” demais com os novos opositores.
“Lula tem que ser preso, os petistas têm que ser todos mortos”, gritam
euforicamente ignorando o fato de que no novo governo tem sete ministros
investigados na Lava Jato.
Pior é a postura
da imprensa “lambe-botas” do país. Muitos “escrevedores” se
esmeram em propagar as boas novas que somente eles veem nos novos governantes. Aqui,
tem jornalista já com ciúmes até da Marcela Temer. O delírio direitista beira o
ridículo e é apenas um puxa-saquismo asqueroso. Mas, parafraseando o filósofo
alemão, é muito importante mesmo ter contato com estes programas e publicações:
dessa forma, fica-se sabendo como pensam os fascistas e retrógrados. Como não
ler a Veja, a Folha de São Paulo ou assistir à Rede Globo, por exemplo? Em Rondônia,
quase não há sites ou programações na mídia que não tenham já aderido à nova
ordem do país. A falta de perspectiva e grana sujeita profissionais, às vezes
até competentes, a venderem suas posições ideológicas por qualquer preço,
infelizmente. O maniqueísmo torpe aniquila a possibilidade de debate e
dialética. Até quando só veremos um lado da atual situação?
*É Professor em Porto Velho.
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