Nazareno, o professor mais polêmico de Rondônia
Sábado, 18 de
Julho de 2015 / 09:54 - Atualizado em Sábado, 18 de Julho de 15 / 10:35
Uma conversa franca com o Professor Nazareno.
Provocador, sarcástico e ácido.
Foi
se desculpando pelos 3 minutos de atraso para a entrevista que ele chegou. A
imagem carrancuda que ele passa em seus artigos, não condiz com aquele homem
falante e bem humorado que adora dar sonoras gargalhadas. Como todo bom
professor, é provocando reações que ele se diverte. E ele sabe fazer isso com
maestria. É um pouco o Nelson Rodrigues local, que em seu tempo, gostava de
provocar a sociedade burguesa questionando sua moral.
Nazareno
é o tipo de autor que o leitor vai amar ou odiar. É difícil ficar indiferente à
sua acidez. O leitor mais conservador ficaria ruborizado - se é que nos dias de
hoje, alguém ainda se ruboriza- se lesse os comentários daqueles que se
enfurecem com seus artigos. Por outro lado, é defendido com muita ênfase por
aqueles que o admiram.
Talvez
ele tenha razão quando diz que 40% das pessoas que gostam dele tomariam um tiro
por ele. E os outros 40% dariam o tiro.
Polêmico,
irônico, sarcástico e acima de tudo provocador. Assim é o professor Nazareno.
Mas afinal, quais são seus motivos para provocar tanto os seus leitores e o que
ele pretende com isso?
Confira abaixo
a entrevista.
Qual o pior sentimento coletivo?
O pior
sentimento coletivo é o patriotismo. Nós fomos ensinados e acreditar que
a terra onde nascemos é a melhor coisa do mundo. Dissemos " eu amo a minha
terra, eu sou paranaense, eu sou mineiro, eu sou brasileiro. A terra onde nasci
para mim é tudo, mesmo que eu esteja passando fome".
Acontece que
a terra onde você nasceu, não vai lhe dar absolutamente nada. Quem vai
dar é a sua competência, o seu trabalho, a sua honestidade e a maneira
como você vai caminhar. Mas vai dizer isso ao povo. Ninguém aceita isso.
O senhor foi para a Alemanha tempos atrás e se simpatizou muito com o país.
Para quem o senhor torceu no jogo do Brasil contra a Alemanha?
Eu torci para a
Alemanha porque eu gostaria de morar lá só para poder falar mal deles.( risos)
Eu não gosto de
futebol, mas eu vi que o Brasil não tinha time para perder de 7x1 para a
Alemanha e os alemães não tinham time para ganhar do Brasil de 7x1. De jeito
nenhum. O Brasil perdeu para a falta de organização e disciplina, coisa que os
alemães dão um banho em nós. Então eu achei que eles deveriam ganhar. Eles
foram o diferente. Mas foram o diferente não exatamente para aparecer e sim
para questionar, para nos fazer olharmo-nos no espelho. Se eu lhe critico,
primeiro eu preciso me criticar. Cada um de nós precisa ter a hombridade de se
olhar no espelho e dizer: estou diante de um grande idiota.
O senhor escreveu um artigo intitulado " O frio não combina com
Rondônia". Porque não combina?
Aquele texto
foi para o professor Nazareno. Eu estava ali naquela quarta feira dia 23 de
julho de 2013. Eu durmo e acordo bem cedo. Acordei e meus estavam lábios
ressecados e havia um cobertor grosso sobre a minha cama. Me levantei e não
quis chamar minha esposa e achei estranho tudo aquilo e fui tomar água. Era
umas 5:30 da manhã. Abri a torneira e não tinha água e desci para buscar uma
garrafa no carro, mas desci de bermuda e camiseta. Abri o portão deveria estar
uns 25 graus. Mas era para mim um frio polar. Eu subi correndo, morrendo de
frio e chamei. Fui pegar uma blusa na gaveta. E voou uma barata e mesmo assim
eu peguei a blusa e usei. Calção, sandália e blusa e notei que tinha uma
naftalina no bolso da blusa. Quando eu vi minha imagem no espelho levei um
susto com aquelas roupas nada a ver e cheirando a naftalina eu pensei.Meu Deus,
o frio não combina com Rondônia.
O grande
personagem daquele texto sou eu mesmo. Eu ridicularizei a mim mesmo.
Mas em alguns outros textos o senhor ridiculariza as pessoas. Por qual
razão?
Para causar
nestas pessoas a coceira, uma sarna para ver se elas conseguem raciocinar e não
elegerem estas tranqueiras que tem nos roubado e nos enganado e
administrado tão mal esta cidade. Meus alunos me dizem que eu deveria
falar do político e não do povo, porque o povo, coitadinho, não tem culpa de
nada. Mas tem culpa sim. É quem tem mais culpa.
O que um texto precisa causar nas pessoas?
Precisa causar
amor ou ódio. Ele tem que fazer com que as pessoas se reflitam nele, que olhem
para ele e vejam o monstro que nós somos, porque não admitimos de maneira
nenhuma que temos uma hipocrisia latente e é assim em quase todas as sociedades
do mundo. Não apenas a questão da hipocrisia, mas principalmente ela. A falta
de conhecimento que temos em relação a nossa própria realidade. Reproduzimos o
senso comum em praticamente tudo.
De que maneira? Por exemplo.
Reproduzir o
senso comum pegando um exemplo recente, é torcer pela banda Versalle. Isso é
reproduzir o senso comum.
Mas isso não significa torcer por alguém que está ali perto da gente?
Mas é senso
comum. Porque precisamos questionar sempre. Nos questionar sempre."
Prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada
sobre tudo". É mais comodo não questionar. Então vamos torcer pela banda.
Nada contra mas será que eu fui o único a dizer que não a conhecia ? Se não
fosse a Globo eu não teria conhecido a Versalle, da mesma forma que eu não
conhecia o Cristiano Araujo. Mas eu não posso dizer isso porque estarei
desmerecendo. Eu não desejo que eles façam sucesso, como eu acho que eles tem
direito, porque é bonito, é gostoso de ouvir.
No texto sobre a Banda Versalle, o senhor brinca, inclusive com as formas
variadas das pessoas pronunciarem o nome da bana. Mas qual foi a crítica real?
Se eu tivesse a
oportunidade de fazer sucesso com uma banda, eu colocaria um nome daqui. Está
muito afrancesado e eu não sei o que significa e por isso eu brinco usando 6
formas diferentes de falar o nome e são formas utilizadas pelas pessoas.
Eu tenho mais
de 600 textos e raramente não tem uma crítica à administração pública. Eu uso
como pano de fundo o que está em evidência no momento.
Veja bem.
Nós temos um teatro onde foi gasto muito dinheiro para ser construído e é o
melhor da região norte superando o do Amazonas e no entanto, as pessoas
tiveram que assistir a apresentação de um ballet, maravilhosa por sinal, vendo
só o "mocotó"dos dançarinos e as pessoas na platéia estavam sentadas
em cadeiras de plástico.
A crítica foi
em cima da falta de respeito da administração governamental para com o povo.
Depois fui ver a orquestra Villa Lobos. Meu Deus. Que maravilha. Eu paguei
300,00 Reais para ver o Ballet e fui ver de graça a Villa Lobos. Eu deveria ter
pagado 300,00 para ver a orquestra. Porque vale. é um trabalho muito bem feito
e eles estão colocando dinheiro do próprio bolso.A minha crítica é em cima
desta falta de respeito.
No último artigo o senhor termina dizendo " e chega de boi".
Esqueceram do Flor do Maracujá?
Exatamente
isso. De repente todos esqueceram o boi e o Flor do Maracujá e falavam apenas
da Versalle, em pleno festival com apresentação do Corre Campo, por exemplo. É
uma incoerência. Eu vejo que as pessoas precisam ter o cuidado de observarem
atentamente. Todos da imprensa, tem de minha parte um grande respeito, porque são
pessoas que fizeram o que eu não tive coragem de fazer.
Por exemplo.
O Zekatraca,
por exemplo, há anos faz o que pode pela cultura. Mas é João Batista pregando
no deserto. Já levaram o Flor do Maracujá para tantos lugares diferentes
que está faltando só colocar em cima da ponte, que aliás é escura.
Ou seja, isso é falta de respeito e isso não cria, de certa forma, a tradição.
Cultura é tradição. Falta a população vestir a camisa. Mas não me dão o direito
de falar porque eu não sou rondoniense. .
O que o senhor acha da expressão " não gosta daqui, então vá
embora"?
Grande parte
das pessoas que leem os meus textos, lamentavelmente nao conseguem compreender
o que está escrito e na maioria das vezes, são pessoas desprovidas da
argumentação e usam a frase " não gosta daqui vai embora". E eu vou
para onde? Vai resolver o problema dele? Não. .
Os seus textos são recheados de humor e críticas ácidas demais. Porque esta
toda esta acidez?
Elas não querem
sair da sua zona de conforto. Dificilmente eu respondo ao meus leitores. Eu
tive no meu blog quase 17.000 acessos com o último artigo. E Havia muitas
críticas boas, coerentes e bacanas. Mas havia também muita baixaria. E eu fico
com medo. Eu não sei o que aconteceria se estas pessoas me encontrassem e
eu tenho medo. Mas elas precisam entender que precisam sair da sua zona de
conforto e começar a pensar mais, questionar mais.
Eu culpo a
todos nós. Nós somos passíveis demais, Provoco para ver se conseguem dar esta
resposta , mas não conseguem, porque a maioria não tem a capacidade de
argumentar e levam para o pessoal e se sentem ofendidos.
O brasileiro está pensando pouco? E o que é exatamente, pensar?
O brasileiro
não está pensando. Poucas pessoas, talvez 20% pensam.
Pensar é ter a
noção exata da sua vida, dos seus direitos e da sua cidadania. é questionar
sobre a quantidade de poeira em Porto Velho, tanta lama, sobre o porquê do
Espaço Alternativo está daquele jeito, o porquê de não terem terminado os
viadutos e jamais terminarão. Porquê a ponte não tem iluminação? Eu estou
satisfeito com a minha cidade? Alguém está ganhando com estas obras inacabadas.
Esta cidade está uma loucura. Eu estou aqui há 35 anos e trabalhando feito um
condenado e pagando quase 40% do que ganho em impostos. Meu imposto está sendo
bem empregado? Acho que não. Pagamos transporte caríssimo, planos de saúde,
condomínio porque não temos segurança e onde está o retorno? Temos direitos.
Portanto, eu penso a partir do momento que estes meus direitos estão sendo
vilipendiados, roubados. Se paga imposto em cidade nova e velha. Respeitem meu
dinheiro. Mas eles não respeitam e depois na eleição seguinte, voltam com a
mesma cara de pau.
Como o senhor lida com as críticas?
Tenho leitores
que me criticam ferozmente com tanta maestria que acabo tomando uma cerveja
para ver se desce e depois publico a critica.
Eu cresço com a
crítica baseada em argumentos incontestáveis e tenho profundo respeito por este
cidadão. Ele me ajuda a crescer. Eu amo este tipo de crítica.
A crítica
ofensiva me mete medo. A pessoa poderá acabar indo às vias de fato, porque são
críticas rasteiras.
Rondônia não tem uma identidade cultural. Como o senhor acredita que
podemos ter uma?
A partir do
momento que todo mundo deixou o boi e passou para o rock, se o rock fracassar
pode ter certeza que irão buscar outra coisa. Nós não somos Parintins, não
somos Campina Grande e não somos Rio de Janeiro, mas tentamos imitar tudo isso.
Eu entendo que poderíamos ter uma boa identidade cultural e dizer "o é
isso aqui?". Isso é a nossa identidade cultural e nos coloca, efetivamente
como alguém que tem uma identidade. Mas não temos e percebo que há uma
busca.
De modo geral o que o senhor quer dizer nos seus textos? A clássica
pergunta, o que o autor quis dizer?
Que as pessoas
precisam fazer uma reflexão sobre suas vidas. Elas trabalham, são seres
humanos, tem direitos e eu gosto de dizer que se estas pessoas pensassem nas
suas legitimas reivindicações, talvez não aceitassem facilmente tudo o que vem
lá de cima e que lhe é determinado, como enfrentar fila nos postos de
saúde e hospitais. No último texto eu disse que há 6 meses não tínhamos
escândalos. Acaba de estourar um esta semana. Isto é uma tristeza, Isto me
mata. E eu me pergunto: onde está o dinheiro do IPVA? Roubaram de novo. E a
população continua calada, sem questionar. E mesmo os 20% estão calados porque
se sentem em uma zona de conforto, onde vive o cidadão que ganha 3.000
Reais por mês e que consegue cobrir as despesas e tomar a cerveja e quer que o
resto que se lasque.
Um dos títulos de seus artigos é " O satanás é o protetor de Porto
Velho" Qual foi sua intenção e porquê este título?
Por duas
razões. Eu sou agnóstico. Não sei se existe Deus e o Diabo e nem entro nesta
discussão e respeito quem acredita e quem não acredita. Mas esta dicotomia,
Deus e o Diabo, ela é clara na cabeça de todos nós. Deus é a parte boa e o
Diabo é a coisa que não presta. Se eu moro em uma cidade que tem 3% de água
encanada, 2% de esgoto, a classe politica rouba o dinheiro, há corrupção,
poeira e lama, como eu vou associar isso a Deus se Ele é bom? Não. Eu vou
associar ao capeta. Então foi este o objetivo, fazer as pessoas entenderem que
Deus jamais seria protetor daqui. Deve ser protetor de Munique e cidades assim,
levando em consideração o aspecto da limpeza e organização .
Mas isso é mexer com a fé das pessoas e a maioria tem religião. O
senhor não acha que pegou pesado?
Não. Mas é você
colocar algo da religião, que é inerente a todos os seres humanos, para uma
realidade que não é inerente a todos.. Quando eu ouvi a Banda Versalle e
os 20 graus e um cobertor, eu percebi que estavam todos ensandecidos, então eu
resolvi falar sobre a poeira e a lama e usar a banda apenas como pano de fundo.
Da mesma forma em o "Satanás o protetor...", é apenas pano de fundo
para denunciar os problemas. E não ha cobrança por parte da população.
Mas o senhor mexeu até com a temperatura que independe do poder
público.
Aquilo é um
determinismo geográfico. Eu nao concordo com aquilo. Obvio que não. Claro que
não existe isso de que há ladrão do dinheiro público apenas em lugares quentes.
Claro que não. Eu quero que entendam que 80% do que eu escrevo eu não concordo.
mas as pessoas precisam serem sacudidas.
O senhor disse que gosta de provocar e fazer pensar. O senhor, como
professor, acredita que as escolas estão fazendo isso?
Não. Elas
gostam que seus alunos sejam aprovados nos cursos de medicina. E isto para mim
é horroroso. Qual a melhor escola? É aquela que aprova a maior quantidade de
alunos para o curso de medicina. Mas isto acontece em qualquer escola do
Brasil. E não deveria ser assim.
Quando a escola tem um professor que faz o aluno questionar, buscar
respostas e provocar esta coceira, como o senhor disse, como ele vai trabalhar
uma redação sobre corrupção, por exemplo, com um aluno, cujo pai é corrupto ou
está envolvido em denúncias de desvio de dinheiro publico? Arrumaria encrenca
com a escola?
Viu como é
difícil? Há uma dificuldade muito grande. Ninguém vai proibir e eu trabalhei em
escolas maravilhosas, mas o professor se sente constrangido em trabalhar um
tema assim. E para mim o pior sentimento é a auto censura. E eu faço isso
comigo direto. Eu sou um filho da puta porque me auto censuro. Quantos textos
meus eu já joguei no lixo.
Mas a hipocrisia não é um mal necessário para viver em sociedade?
Exatamente. A
hipocrisia é um dos pilares que sustenta a sociedade. Sem ela a sociedade
desaparece. Então precisamos ser hipócritas e a minha ironia vem daí, da minha
auto censura. Eu não posso publicar determinados textos porque terei problemas.
Eu gostaria de viver em um lugar onde eu pudesse publicar as minhas ideias mas
isso não vai acontecer nunca, especialmente no Brasil. Falar o que
pensa caro. Foi Abraham Lincoln que disse que " para arrumar
inimigos basta dizer o que pensa"
A população brasileira está interpretando mal o que lê?
A população não
gosta de ler. Os textos, quase que de modo geral, são curtos. Os meus por
exemplo, eram grandes, mas diminui porque poderia cansar o leitor que não gosta
de ler. Agora são curtos e incisivos. Eu percebo que talvez 70% não consiga
entender o que está escrito ou entende errado. Mas isso é coisa do Brasil de
modo geral. E isso me causa medo
Qual a razão?
A razão é a
escola. Nós temos um dos piores ensinos do mundo, por incrível que pareça. As
nossas crianças vão para a escola em um único turno, e isso é um absurdo, e o
pior de tudo é que a educação não é valorizada em casa e além disso, nem todos
os professores que tem o compromisso com o aluno.
Na Escola João
Bento da Rocha nós temos um projeto Terceirão. É um ótimo projeto que tem
aumentado o número de aprovados, más ninguém nunca veio nos visitar, nenhuma
autoridade. E eu pergunto, quanto ganha um bom professor aqui no Brasil? Ganha
o mesmo que um mal, porque repete a ladainha;:o professor finge que trabalha, o
governo finge que paga e o aluno finge que aprende. E todos tomam naquele
lugar.
Mesmo os alunos de escolas privadas não estão aprendendo?
Não. Isso se
deve ao comodismo e ao fato de modo geral do brasileiro não valorizar a
educação. Eu costumo dizer que eu vivo em uma sociedade preconceituosa,
violenta, hipócrita, racista e que tem uma serie de problemas. E porquê a
sociedade está assim hoje? Porque não investiram lá atrás, ainda na base. Rui
Barbosa disse que uma sociedade que não investe em escola deveria construir
presidio. A nossa não investiu nem em escola e nem construiu presídio.
Como o senhor acha que será a sociedade futura?
Eu estou
preocupado com a sociedade dos seus netos. Ela será pior que a de hoje. Eu digo
para os meus alunos que quando eles tiverem 56 anos, eles estarão ferrados.
Muito mais do que estamos hoje. Porque nós e o poder público não estamos
fazendo absolutamente nada para as futuras gerações. E daqui 30 ou 40 anos
iremos ter uma situação muito pior do que a de hoje.
E o que o senhor acha que deve ser feito hoje para as futuras gerações?
Eu não vou
dizer que a Alemanha ou a França por exemplo, sejam sociedades
perfeitas, Não. Mas em muitos aspectos são melhores do que nós e os
problemas sociais são infinitamente menores do que os nossos porque investiram
em educação. Cuidaram do futuro, na base e nós não. Eles tem problemas
também, Porém os nossos são muitos.
Qual seria a idade ideal da base para começar a trabalhar?
Até 5 anos,
porque com 6 anos uma criança já se benze e já está contaminada pelo vírus da
religião. Aos 7 anos, a criança já mente e aos 8 demora 1 hora no banho e torna
tudo mais difícil.
E como seria este trabalho?
A coisa mais
simples do mundo. A partir de 2016 toda e qualquer criança que for matriculada
neste país, terá que estudar de manhã e a tarde e terá valores, comida na
escola, professores qualificados, ensinamento de excelente qualidade. Em 2017
todas as crianças de 5 e de 6 que entrarem. Em 2027 estaremos terminando o
ensino médio com crianças com as quais trabalhamos em dois turnos e que
tiveram uma visão diferenciada e então, quando estas crianças, 5 ou 6 anos
depois, entrarem no mercado de trabalho, teremos uma sociedade bem diferente da
que temos hoje.
O que o senhor acha da redução da maioridade penal?
A maioridade
penal tinha que ser 15 mas no Brasil não. Porque aqui é bandido querendo punir
bandido. Não senhor. A maioridade em alguns países é de 12 anos, porém aqueles
governos cobram, mas também dão. E aqui não dão nada e querem cobrar. Porém,
com 15 anos, a pessoa já sabe o que está fazendo, mas aqui o estado foi omisso.
Eu acredito no
Brasil
As pessoas acreditam que o senhor não gosta de nada em Porto Velho. O que
há de verdade nisso?
Tanto não é
verdade, que me casei com a joia mais preciosa do mundo. A minha beradeira
Francisca Pereira, com quem estou casado ha 35 anos.
Qual o seu sentimento por Porto Velho?
Todos os
melhores sentimentos possíveis do mundo. Tanto que sonho ver aqui transformado
em um lugar melhor e colaborar para isso. Mas sei que eu não vou conseguir. Mas
eu queria. Queria que tivesse mais flores, menos poeira, menos lama, menos
violência. Queria que não tivesse viadutos inacabados, ponte escura, Eu queria
que tivesse espaço alternativo decente e parques. Eu queria que fosse uma
cidade. Mas aí alguém pergunta. E no Brasil tem?. Deve ter mas se tem eu não
conheço. Eu não falo da realidade de outras cidades porque não vivo a realidade
de lá. O que eu quero para Porto Velho é uma cidade mais humana.
E porque não é humana?
Porque a cidade
nos agride com a forma como é administrada. A poeira, a lama, cachorro morto na
rua me agridem. Tudo me agride e não deveria, porque eu ainda trabalho muito e
pago para ter uma cidade humana e não tenho. E é um estado que leva quase
40% do que eu ganho. Na Alemanha, o imposto é de 43% mas como é a educação, o
sistema previdenciário, as ruas, etc? Talvez bem melhores. Eu senti que é
um país mais humano, mas eu não vivi la para saber. Não sei o que é uma rua
cheia de neve e viver com aquilo. Mas eles tem uma sentimento coletivo.
O brasileiro é individualista.
Talvez uma das
piores coisas que fiz na vida foi ter ido visitar a Europa, porque agora eu sei
como é viver pensando no coletivo. .
Quem é o professor Nazareno?
O professor
nazareno é um sonhador. Tenho minhas opiniões e meu ponto de vista como
todos.
O que o senhor diria para quem lhe critica construtivamente e para quem lhe
ofende
Hoje, no
encontro com você, eu cheguei 3 minutos atrasado. Eu não gosto disso. Eu me
cobro. Eu sei que não vou mudar o mundo, mas se eu tiver atitudes corretas e
bons princípios de cidadania, eu serei um filho da puta a
menos.
O que o senhor espera das pessoas que leem os seus artigos?
Em relação aos
textos, não se atenham ao que está escrito. Se atenham principalmente no que
está além do que está escrito. Isso é fundamental para compreender. É o
primeiro fato. Se você se ater à palavra escrita, você morre ali.. É preciso
entender o que está por detrás das palavras.
As pessoas
precisam entender que se há Deus. há o Diabo.
Muitas pessoas
vão dizer que você é uma mulher bonita, mas não todos.
40% vai dizer
que sim, 40% vai dizer que não, 15% não está nem aí e 5% não participa. Tudo o
que falamos é passível de critica, porque não há verdade absoluta.
Por outro
lado, nunca pedi para ninguém ler o que escrevo. Se o fazem é porque
querem se aborrecer. É por que aceitam sair de sua zona de conforto, de sua
comodidade.
IMPLORO: não
leiam o que escrevo. Procurem ler Nietzsche, Machado, Clarice, Drummond, Foucault,
Veríssimo, Mario Puzo e tantos outros bons escritores. Mas se quer ler o
Professor Nazareno, não espere alegrias. Textos é para causar causar coceiras e
curubas.
E o que espera das pessoas em relação a cidade de Porto Velho?
Que elas
consigam doar a Porto Velho o amor que ela precisa e que dizem sentir. Tenha
certeza que assim teremos uma cidade melhor.
Pare em um
semáforo e você verá quantas pessoas estão atravessando o sinal vermelho, mesmo
os pedestres, porque tem sinal verde para eles. Como param em fila dupla,
estacionam de qualquer maneira. Elas não amam Porto Velho na prática. E amamos
também cobrando das autoridades.
Quantas pessoas
participaram efetivamente de reuniões no sentido de estabelecer mudanças?
Você se lembra
da passeata contra a violência quando Naiara foi assassinada? Havia
pouquíssimas pessoas. Não se preocupam porque não foram com elas. Porto Velho
está suja, mas a minha casa está limpa. O transporte público está uma porcaria,
mas eu tenho carro. Esta realidade não é uma coisa exclusiva de Porto
Velho. É do Brasil inteiro, más a minha realidade é aqui e a realidade de
outra cidade não me interessa.Eu moro é aqui.
As pessoas
precisam se manifestar mais coletivamente e precisam compreender que sempre
haverá alguém do contra. Eu já elogie muitas coisas. No texto sobre a Versalle
eu elogio a Villa lobos, porque eu adoro a orquestra e ja chorei ouvindo-os
tocar Vivaldi. São daqui. Alguém viu o elogio? Não. Se você critica 1% e elogia
99%, vão ver o 1% . Eu não sou negativo, eu sou é pessimista. Vou parafrasear o
saramago:é o mundo é que é péssimo.
Porque o senhor gosta tanto de Calama?
Eu amo demais
Calama. No dia 04 de abril de 2014, na enchente histórica eu fui pra Calama só
para saber como o povo de lá estava, porque eu queria sofrer com eles. Eu fui
la. e conversei com todos mundo. Eu acho importante isso. Os alpes na Europa
são lindos, mas nada se compara ao igapó em Calama. É imbatível aquela canoa.
Vá em Calama, entra em um igapó. Que beleza, que beleza.
O senhor se candidataria a um cargo público?
Eu só me
candidatarei quando eu quiser saber o meu preço. Porque eu tenho um, mas não
quero saber quanto. Por isso não me candidato a nada.
E já pensou se
eu ganho? Eu iria sumir daqui no dia seguinte. ( risos)
Fonte: Entrevista
e matéria: Sandra Santos - Fotos: Acervo pessoal Professor Nazareno
Um comentário:
Muito bom ler essa entrevista e conhecer um pouco mais do tão falado Prof. Nazareno. Gosto muito de seus textos, suas críticas incomodam e causam revolta, mas acho importantíssimo que as pessoas sejam arrancadas da sua zona de conforto.
Continue firme com seus textos, você faz um bem enorme às pessoas e elas nem se dão conta disso.
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