E
se a Ditadura voltasse?
Professor
Nazareno*
O Brasil desde 1985, ou seja, há
exatos 30 anos, está vivendo um regime democrático. Nunca antes nos nossos mais
de 500 anos de História tivemos “essa civilidade” por tanto tempo. Mesmo
aos trancos e barrancos, o nosso país é reconhecido internacionalmente como uma
democracia. Mas já há muitas pessoas incomodadas com tanta liberdade. Aves
agourentas já pedem abertamente a volta daqueles tempos de chumbo sem ao menos
perceber que para os males da democracia o único remédio é mais democracia. O
presidente da Câmara dos Deputados rompeu recentemente com o Palácio do Planalto.
A corrupção tomou conta das principais repartições públicas de Brasília e do
país. O PT, partido que está há pelo menos 13 anos governando o Brasil, tem
vários de seus dirigentes presos na Operação Lava-Jato. Problemas não nos
faltam.
Como se não bastasse todo este
cenário apocalíptico que estamos vivendo, a presidente Dilma Rousseff está com
índices baixíssimos de aceitação popular, a economia está em bancarrota, greves
pipocam diariamente no serviço público, a inflação insiste em rondar a casa dos
brasileiros e nunca houve tanto desemprego como agora. Talvez por tudo isso e
por saudosismos daqueles tempos bicudos, o clamor pela volta dos “milicos”
tem se intensificado pelo país afora. Mas imaginemos que a conjuntura política
internacional mudasse de uma hora para outra e tivéssemos um golpe militar
igual ao de 1964. Os urutus nas ruas até que mudariam a paisagem insossa e
deprimente que temos visto ultimamente. Como ficariam as coisas? Muitos dizem
categoricamente que melhorariam. Será que os generais nos administrariam tão
bem?
Censura à mídia, eleições indiretas,
torturas, cassações, DOI-CODI, cerceamento das liberdades individuais,
perseguição à oposição, mortes, espancamentos, controle do Legislativo e do
Judiciário, conchavos, endividamento externo, proibição de greves,
manifestações e também, para não fugir muito à realidade atual, muita corrupção,
ataques ao Erário e roubalheiras. Tudo isto seria parte da nossa nova
realidade. Com os militares dando as cartas em Brasília, todos os governadores,
prefeitos de capitais e senadores, eleitos de forma democrática, seriam
substituídos automaticamente. Para administrar Porto Velho, seria indicado o
médico Mauro Nazif. Político experiente e de grande aceitação popular, Nazif
mudaria, enfim, a cara da capital dos rondonienses. Para governador de Rondônia
o indicado seria o médico do Tocantins, Confúcio Moura.
Na nova ordem política nacional, todos
os sindicalistas seriam presos, torturados, processados e exilados. A OAB seria
extinta e qualquer advogado que ousasse defender o PT, o PMDB, a CUT ou
qualquer outra “entidade subversiva” seria sumariamente perseguido e
expulso do país. Nas escolas, voltariam as disciplinas Educação Moral e Cívica
e OSPB. Todos os dias o Hino Nacional seria cantado e a “ordem” voltaria
ao ambiente pedagógico. Suspensa, a Constituição seria logo substituída pela
Bíblia. E nada de Estado laico. Todos os homens, por motivos óbvios, não
poderiam deixar a barba crescer. E quem tivesse nove dedos nas mãos, seria
considerado inimigo do Estado e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O odiado
Professor Nazareno, claro, não mais escreveria suas sandices e da Bolívia administraria
suas muitas igrejas evangélicas espalhadas pelo país. Por que os militares não
voltam?
*É Professor em
Porto Velho.
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