Eu, prefeito de Porto Velho?
Professor Nazareno*
O ex-prefeito de Porto Velho e talvez
futuro candidato ao cargo, suplente de senador e advogado Odacir Soares,
afirmou recentemente que a nossa cidade precisa de uma revolução de
competência. Disse também que o muito dinheiro que vem para fazer benfeitorias
na capital volta por falta de projetos. Se fosse por isso, administrar Porto
Velho seria uma das tarefas mais fáceis no mundo. Não gosto da política, mas
eu, o odiado Professor Nazareno, até que gostaria de ser prefeito daqui, já que
vejo muitas coisas erradas e por isso tenho condições de transformá-la numa
cidade bem melhor. E a tarefa é fácil mesmo, uma vez que para onde se olhe, há
problemas que quase não se veem em outro lugar. Acho que estava equivocado
quando outro dia propus o slogan “Desista de Porto Velho” em oposição ao
outro falido mantra: “Abrace Porto Velho”.
Eleito autoridade maior da capital dos “destemidos
pioneiros”, começaria logo mandando retirar o adjetivo “Internacional”
que está equivocadamente grafado na fachada do aeroporto da cidade, já que não
se pode conviver com mentiras públicas. A seguir, determinava a destruição
completa da Praça das Três Caixas d’Água, que todos acham ser o símbolo da
cidade. Feias, tortas, velhas e na iminência de cair e matar pessoas inocentes,
“os trambolhos pretos” não despejariam mais ferrugem no meio da rua.
Além do mais, naquele local bem que poderia existir uma nobilíssima favela. A
lendária Estrada de Ferro Madeira Mamoré seria definitivamente extinta. O que
restasse de trilhos seria doado para os moradores proteger a frente de suas
casas. As locomotivas que ainda estão inteiras seriam todas transformadas em
ferro-velho e vendidas a quilo.
Na arborização, eu como prefeito,
inovaria. Arrancava as poucas árvores da cidade e mandava plantar só
louro-bosta em todas as praças e avenidas. Já pensou a fragrância todo final de
tarde? A cidade toda cheirando a merda seria um deslumbre só. Por isso, o pouco
de esgoto sanitário que ainda existe por aqui eu mandaria desmanchar para
combinar com o fétido ambiente. O Espaço Alternativo, na minha administração,
seria totalmente modificado. A partir de então determinava a cobrança de
ingressos para quem fizesse uso do mesmo e todo o dinheiro arrecadado seria
doado aos políticos. A ponte escura do rio Madeira, claro, seria implodida.
Quem quiser cruzar o “Madeirão” que o faça nadando mesmo, já que natação
faz bem à saúde. Os viadutos ficariam intocáveis. Eles seriam uma singela
homenagem a nós, os políticos e as autoridades.
Na área do transporte coletivo não
precisaria mudar nada: não se mexe no que está bom. Eu só aumentaria o valor da
passagem. As duas inúteis hidrelétricas seriam desmanchadas, já que o preço da
nossa energia só aumenta. Banda do Vai Quem Quer, Arraial Flor do Maracujá,
Expovel dentre outras “grandes manifestações de cultura” seriam
incentivados comigo. Criaria também a Univel, Universidade de Porto Velho,
pública e ligada ao município. Para lá só contrataria professores da Unir, a “outra
universidade”. Óbvio que eu administraria a capital sem a Câmara Municipal,
afinal não se sabe mesmo para que serve um vereador. Faria uma enorme estátua
do Jeca Tatu para simbolizar a cidade. E como sou de família só de gente honesta,
“os meus” seriam todos contratados pela Prefeitura para melhor servir
aos munícipes. O maior problema, no entanto, seria eu mesmo: como morar num
lugar em que as pessoas votaram em mim?
*É Professor em
Porto Velho.
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