Rondônia
e frio: tudo a ver
Professor
Nazareno*
A forte massa de ar polar que
penetrou esta semana no sul da região amazônica dando origem ao conhecido
fenômeno da friagem trouxe também uma das maiores certezas de que se tem
notícia por estas bandas: as “baixas temperaturas” têm tudo a ver e
sempre combinaram com Porto Velho, sua gente e com o quente Estado de Rondônia.
Todos os anos, os requintados, bem informados, intelectuais, exigentes, limpos
e asseados habitantes da “capital das sentinelas avançadas” esperam por
este atípico fenômeno da natureza. A chegada do inverno no hemisfério sul
sempre foi comemorada anualmente com muita alegria e sorrisos por parte da
população rondoniense. Aqui não é verão nesta época do ano, todos sabem disto.
Com os ventos mais frios, a alegria abunda nas pessoas, o humor melhora
e todos se sentem naturalmente mais felizes.
Povo riquíssimo em ancestralidade e
conhecimentos de mundo, “os destemidos pioneiros” dão um show de
criatividade e de elegância nesta atípica época do ano. Grossas, cheirosas e
caras mantas e vestes são logo retiradas do guarda-roupa e passam a fazer parte
do natural desfile de glamour pelas ruas e avenidas da capital. Na Avenida
Jatuarana, uma espécie de Champs Élysées da zona sul da cidade, é notório o
deslumbre de moda, charme, elegância, beleza e bom gosto que encantam a todos.
Cidadãos alegres e impecavelmente limpos se confraternizando com os transeuntes
é uma rara cena que já faz parte da nossa rotina. Lindas, jovens e encantadoras
mulheres da alta sociedade local, todas bem maquiadas e com suas roupas
requintadas dão o tom deste lugar que mais se parece com um paraíso e não com
uma cidade apenas amazônica.
Muitas pessoas, óbvio, principalmente os
nativos, acham deliciosos esses três dias de friagem, pois podem tomar com os
amigos um Cabernet Sauvignon acompanhado de Bruschettas deliciosas, e, claro,
usando um lindo e novo casaquinho quente trazido de São Paulo ou mesmo da
Europa durante as últimas férias. Na Avenida José Amador dos Reis, na romântica
e paradisíaca zona leste da cidade, a cena não é diferente do restante da
capital. A alegria estampada no rosto das pessoas dá o tom idílico de Éden que
esta cidade vive nestes dias. Não se sabe ainda o porquê, mas nesta época “fria”
do ano os políticos daqui ficam mais alegres e felizes, já que os roubos e
assaltos ao Erário diminuem bastante. Mas não posso falar sobre esse assunto,
pois determinismo geográfico só com professores “formados com orgulho” em
Londrina/PR.
O frio daqui também nos traz boas
mudanças de hábito. A culinária na capital dos rondonienses, por exemplo, atrai
turistas do mundo inteiro neste período do ano. O cheiro inconfundível de sopas
deliciosas e finas iguarias “empesta” a cidade com o seu aroma
inconfundível e peculiar. Toda esta felicidade associada ao perfume natural das
muitas flores em nossas inúmeras praças, e com um ventinho gelado soprando,
cria a sensação de estarmos em Vancouver, Munique ou Geneve. Além disso, a
produção intelectual nas muitas e reconhecidas universidades locais
praticamente triplica. Jornalistas, consultores, profissionais liberais e até
humildes professores fazem discursos em praças públicas incentivando a boa
leitura para os nossos jovens. Os médicos, muitos deles já formados por aqui
mesmo, já não mais reconhecem só a virose como uma doença telúrica. “Frio,
por que insistes em ficar tão pouco tempo entre nós”?
*É Professor em
Porto Velho.
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