Vergonha:
a fumaça voltou
Professor
Nazareno*
Não
é novidade para ninguém que Porto Velho, a suja, abandonada, poeirenta e
distante capital de Rondônia tem um dos piores IDH’s, Índice de Desenvolvimento
Humano, do Brasil e talvez do mundo. Falar mal desta capital e de sua
anacrônica infraestrutura urbana já se tornou uma terrível rotina há muito
tempo. E o pior: a cada ano que passa parece que as coisas só pioram. Durante o
inverno, a situação fica mais do que caótica com as constantes alagações, lama,
podridão, monturo, ratos, carniça, urubus e toda sorte de imundícies. No verão,
embora sejam só dois meses de estiagem, a poeira toma conta das esburacadas
ruas. E para piorar o drama, a fumaça das queimadas urbanas e rurais dá o
tom ao combalido meio ambiente. Doenças alérgicas e do trato respiratório
transformam diariamente a vida por aqui em um verdadeiro inferno.
Parece até que não existe Governo
nem Poder Público por estas bandas. A notória inoperância dos muitos órgãos de
fiscalização ambiental, tanto do Estado quanto dos municípios, todos
praticamente “perdidos” em tempos de eleições e tudo isto associado a
uma quase inexistente consciência ambiental por parte da maioria dos habitantes
faz com que a pouca qualidade do ar diminua ainda mais. Impossível respirar com
tanta fumaça, fedor de bichos mortos e poeira no ambiente. A última grande “hecatombe
climática” verificada em Porto Velho foi coincidentemente em 2010, ano das
últimas eleições estaduais e nacionais. Tomara Deus que neste período de
escolhas das novas autoridades, não haja o arrefecimento da fiscalização sobre
quem insiste em resolver seu problema particular sem levar em conta que vivemos
em sociedade.
Viver em Porto Velho não é fácil.
Entra Prefeito e sai Prefeito e a situação não dá sinais de que um dia vai
melhorar. Trânsito caótico, desorganização urbana, excesso de obras inacabadas,
sujeira espalhada pelas ruas, lama podre e água contaminada no inverno e poeira
associada à carniça no verão é a triste rotina de quem insiste em continuar
sobrevivendo nesta capital. Como se não bastasse este imenso rosário de
desgraças e amarguras, eis que à noite enfrenta-se uma escuridão que faz isto
aqui se parecer com uma espécie de filial do inferno. Agora, com a fumaça
absurda que somos obrigados a respirar, por absoluta incompetência de quem devia
evitá-la, a situação é de calamidade pública e de caos generalizado. Quem mora
em Porto Velho só poderá ver o fundo do poço se olhar para cima. Estamos bem pior
do que se possa imaginar.
Em tempos de eleições, o que mais se
tem observado é a maioria dos candidatos hipocritamente falar em dignidade,
trabalho, honra, decência, respeito, dentre outras palavras puramente “virtuais”
que jamais serão postas em prática. Os malditos não percebem que estamos
precisando de “promessas novas”. Em meio ambiente quase nada se ouve
falar. Nem nos partidos que usam esse termo para se promoverem e arrebatar
votos dos incautos e trouxas. Para muitos destes candidatos, qualidade de vida
é um assunto esquecido que só pode e deve existir no mundo desenvolvido e
civilizado. Essa gente devia se acanhar e entender que essas criminosas
queimadas deviam ser denunciadas e punidas. Todos perdem quando respiramos este
ar poluído pela cínica ambição do bicho homem. E se São Pedro não mandar chuva logo,
logo, vamos ter que aguentar mais este pesadelo. Rinite, sinusite, labirintite
e outros males nos aguardam.
*É Professor em Porto Velho.
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