sábado, 5 de março de 2022

“Não há guerra na Ucrânia”

Não há guerra na Ucrânia

 

Professor Nazareno*

 

            Pode até parecer surreal, mas para a Rússia e o governo de Vladimir Putin, todo o Ocidente está muito histérico em relação aos atuais acontecimentos na Ucrânia, pois o que está havendo desde o dia 24 de fevereiro último é simplesmente “uma operação militar especial na parte leste do país vizinho” e não uma guerra ou mesmo “como muitos insinuam” uma invasão militar por parte da Rússia. Só que em tempos de internet e de transmissões reais feitas por qualquer pessoa, é impossível negar o óbvio. Os bombardeios, a carnificina e os constantes ataques às cidades de outras partes da Ucrânia, inclusive à capital Kiev, desmentem o líder dos russos. Por isso, o governo Putin junto à Duma, o parlamento local, criaram às pressas leis proibindo o uso das palavras guerra e invasão em toda a mídia. E 15 anos de prisão para quem desobedecer.

            No Brasil de hoje não existe censura real, mas a vontade de cercear os meios de comunicação e consequentemente toda a opinião pública é uma constante no atual governo de Jair Bolsonaro. Dizem por exemplo, que entre 1964 e 1985 não houve ditadura militar no nosso país. Tese, aliás, corroborada outro dia pelo cantor caipira Zezé de Camargo. “O que houve no Brasil foi apenas um militarismo vigiado”, disse o artista depois de se autoconsiderar um sujeito politizado. Não se pode negar os fatos. A História não perdoa. Por isso se diz que ela, a História, só se repete como farsa e depois como tragédia. Zezé de Camargo e também outros artistas e até algumas pessoas esclarecidas ignoraram o golpe dado em João Goulart, a proibição de eleições diretas, o exílio, as cassações políticas, a censura e o DOI-CODI com a tortura aos oposicionistas.

            O governo de Vladimir Putin na Rússia, em termos de conquistas sociais e de respeito aos direitos humanos, talvez seja bem pior do que o do “Bozo” no Brasil. Aqui, apesar da cantilena dos negacionistas, vivemos por enquanto uma democracia nem que seja de aparência e não estamos, ainda, em guerra contra ninguém. Diferente da Rússia, no Brasil a mídia publica o que quer apesar dos protestos tanto do presidente do país quanto de alguns de seus fanáticos seguidores. A censura até que existe, mas é bem disfarçada e baseia-se na corrupção: o prefeito, o deputado ou o governador paga uma “comissão” por fora para os sites e outros órgãos falarem bem dele. Fazem isso, por que falta de ética não é crime. Então, tenta-se apagar ou negar a própria História apesar das evidências. Assim, por aqui “nunca houve ditadura militar, nem censura, nem tortura”.

            Deve ser por isso que dias antes da guerra estourar, Bolsonaro se confraternizou com Vladimir Putin, fez fotos com ele e lhe prestou solidariedade apesar de que toda a opinião pública mundial estivesse no caminho oposto. As televisões ocidentais, onde não há censura explícita, mostram cenas horrorosas e chocantes com civis ucranianos inocentes sendo massacrados pela carnificina da invasão russa com velhos, mulheres e crianças aos prantos fugindo dos ataques. E como “contra fatos não há argumentos”, vamos mentir e dizer pelo Brasil afora que no atual governo de Jair Bolsonaro nunca houve corrupção, nem conchavos políticos com o Centrão e muito menos rachadinhas. Diremos também que Vladimir Putin é um líder humanitário, bom e sensível e que Jair Bolsonaro é um “santo”. Os trouxas e imbecis bolsomínions acreditarão na lorota e cada um de nós não fará inimigos. Por enquanto. Será que vão publicar este texto na mídia?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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