domingo, 11 de julho de 2021

Torci muito pela Argentina

Torci muito pela Argentina

 

Professor Nazareno*

 

            Não gosto de futebol. Apesar de ser um bom esporte, o seu uso ideológico tira-lhe qualquer importância social que possa ter. Durante a Copa do Mundo de 1970, quando o Brasil se sagrou tricampeão mundial, a Ditadura Militar abusou do uso político desse esporte e sob a alegria tresloucada dos tolos, fanáticos e despolitizados torcedores nacionais, aumentou a repressão aos oposicionistas do regime. Durante as sessões de torturas o lema era: “este é um país que vai pra frente!” O próprio governo argentino também usou e abusou do futebol para fins políticos: foi na Copa do Mundo de 1978 quando se sagrou campeã mundial após ter comprado a seleção peruana para desclassificar o Brasil. O PT e as esquerdas em 2014 também “entraram no jogo” ao trazerem outra Copa do Mundo para o Brasil. Porém, a Alemanha foi a água no chope.

            Dessa vez foi o Bolsonaro a querer pegar carona com esse esporte. Em plena pandemia do Coronavírus, que já ceifou a vida de mais de 532 mil brasileiros e infectou outros 20 milhões, o desastrado e melancólico governo do “Mito”, contra tudo e contra todos, trouxe a Copa América de 2021 para o território brasileiro depois da desistência de Argentina e Colômbia. De início, os tatuados e fracos jogadores da seleção nacional, até que ensaiaram uma desistência. Mas o castigo veio a galope. Igual aos 7 X 1 de 2014, o Brasil de agora não só perdeu a final para a Argentina como também foi humilhado dentro de campo pelos hermanos. Um golaço de Di Maria ainda no primeiro tempo, atuações impecáveis de Messi, De Paul, Tagliafico e Otamendi, o domínio total do jogo, além da tradicional garra portenha deram aos argentinos esse merecido título.

Se jogar contra a seleção brasileira, eu torço por qualquer time e sendo a Argentina “tudo fica melhor ainda”. Em Copas do Mundo, já torci pela Alemanha, França, Holanda e Bélgica e nunca me deu mal. Durante os 7 X 1, quase tive um troço de tanta alegria. Em 2018 na Copa da Rússia, vi a Bélgica encantar o mundo e despachar os “vacilantes canarinhos” por 2 X 1. Vestir a camisa amarela da seleção brasileira hoje em dia é sinônimo de vergonha absoluta. Vestido de verde e amarelo qualquer cidadão, por mais politizado que seja, será logo confundido com um bolsonarista raiz. Sob ameaças constantes, o Brasil e a sua frágil democracia vivem hoje dias sombrios. Acuados pela CPI do genocídio e em queda livre nas pesquisas, setores das Forças Armadas e o próprio presidente do país já ameaçam golpear as instituições.

Torcer pela Argentina não é nenhum desmerecimento. Pelo contrário! Dentro de campo, Diego Maradona foi superior e muito melhor do que Pelé em tudo. Ver a seleção argentina jogar encanta pela garra de seus atletas e pela vontade que eles têm de vencer. Já muitos jogadores do Brasil estão em campo apenas pelos altos salários e pela fama. Só isso. Quase todos eles moram na Europa e só voltam ao país quando já estão em fim de carreira. Alguns falam o Português já com sotaque. A Argentina tem democracia de verdade e suas Forças Armadas foram punidas pelo golpe de 1976. O governo portenho é sério e não debocha de seus cidadãos. O enfrentamento da pandemia no país vizinho é outra coisa. A qualidade de vida entre os hermanos é superior a nossa. “A Argentina é melhor do que o Brasil em quase tudo. E eles não têm o complexo de vira-latas”. Tomara que o Brasil não vá para o Qatar. E se for, torcerei contra. De novo!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: