O Brasil na fila
do osso
Professor
Nazareno*
Para desespero
do gado, tanto o que produz a carne quanto aquele que aplaude os políticos e neles
vota, o falastrão presidente Jair Bolsonaro outro dia num churrasco comeu
picanha japonesa Wagyu, que custa quase dois mil reais o quilo. Enquanto isso,
centenas de pobres fizeram enormes filas lá em Cuiabá capital do Mato Grosso
para conseguir receber doação de ossos. Isso mesmo, um açougue da capital
mato-grossense doa ossos para o povo comer. Uma dupla ironia, pois o Estado, um
dos maiores redutos do bolsonarismo no país, é o maior produtor de carne bovina
com mais de 35 milhões de cabeças de gado e o Brasil figura entre os maiores
produtores de alimentos do mundo. A vergonha suprema, que logo será esquecida,
dessa vez foi com o “Bozo”, mas
poderia ter sido com qualquer outro presidente ou até mesmo um governador de
Estado.
O quilo da picanha degustada
alegremente pelo presidente do Brasil custa quase dois salários mínimos do país
e pelo menos 12 vezes mais do que o auxilio emergencial que o governo pagou
para os necessitados durante a pandemia do Coronavírus. O Brasil já figurou
entre as seis maiores economias do planeta e ainda continua entre os países de
maior PIB. É seguramente um dos maiores produtores de alimentos do mundo
perdendo somente para os Estados Unidos e a China. Mas com 215 milhões de
habitantes, o nosso país não consegue alimentar adequadamente seus cidadãos. Em
2021, somente a produção de grãos chegará à estratosférica marca de quase 300
milhões de toneladas. Fazendo-se uma divisão justa, cada brasileiro teria
direito a mais de uma tonelada de grãos só neste ano. Mas o feijão e o arroz,
comidas típicas, já sumiram de nossas mesas.
O preço dos alimentos no Brasil não
para de subir. E o número de miseráveis também. A inflação não dá tréguas.
Comida se tornou item de luxo no chamado celeiro do mundo. Com a pandemia, já
temos hoje pelo menos 19 milhões de cidadãos vivendo abaixo da linha da
pobreza, na miséria absoluta. E com a alta diária do dólar praticada pelo atual
governo, quase toda a produção agropecuária é destinada às exportações. O caos
e a miséria aumentam sem controle todos os dias e já somos concorrentes de
muitos países miseráveis da África subsaariana. Porém, nossas “filas do osso” não são muito diferentes
daquelas crianças negras, cabeçudas e desnutridas. Só que os pobres daqui são
piores, pois não se prestam nem a um espetáculo televisivo. Com a fome e a
desigualdade social vêm também a reboque toda a violência e exploração sem
controles.
Porém se engana
quem pensa que a culpa por esta vergonhosa fila de ossos em Cuiabá seja somente
do Bolsonaro. Da extrema esquerda à extrema direita, todos os governantes do
Brasil até hoje sempre privilegiaram a elite endinheirada do país. Aqui só se
governa para os ricos e poderosos. A síndrome da “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre nos acompanha desde
os remotos tempos da colônia. Na presidência, o cachaceiro e ex-presidente Lula,
por exemplo, só bebia vinho Romanée-Conti de 30 mil reais a garrafa. Já o brasileiro
comum só bebe vinho Sangue de Boi de dois reais o litro. O agronegócio
representa quase 30 por cento do nosso PIB para produzir milhões de famintos e
miseráveis enquanto na Alemanha é de apenas 0,9 por cento só que lá não há fome
nem miséria. A pobreza do Brasil dá lucro, basta saber administrá-la. E agora não
mande ninguém para Cuba ou Venezuela. Mande para Cuiabá! Lá tem osso. E do bom!
*Foi
Professor em Porto Velho.
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