Viemos mesmo da
selva?
Professor
Nazareno*
O atual
presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse numa conferência recentemente
que os brasileiros vieram da selva, os mexicanos vieram dos índios e eles, os
argentinos, vieram de barcos da Europa. Segundo a declaração xenófoba de
Fernández, os “hermanos” são uma
espécie de gente superior, ou seja, são europeizados. Uma tolice falar estas
asneiras, pois tanto mexicanos como brasileiros e até mesmo os argentinos são,
no geral, uma mistura entre povos de todas as partes do mundo. Os livros de
Antropologia ensinam que o Brasil, por exemplo, é uma mistura de negros
escravizados, de índios autóctones e brancos de origem portuguesa. O problema é
que a declaração beira o preconceito puro e simples. Mas pensando bem, se nós
brasileiros não saímos da selva, por que na maioria das vezes nos comportamos
como selvagens?
Selvageria pura: a sociedade
brasileira é uma das mais ricas do mundo, mas a qualidade de vida por aqui é
sofrível. A fome, a miséria, a falta de uma boa educação, a violência social e
a exploração de seres humanos sempre fizeram parte da nossa cruel realidade.
Como teria dito Charles de Gaulle, “o
Brasil não é um país sério”. Realmente isso aqui é um “cu do mundo” desprezível sem eira nem beira. E nem civilidade.
Comparados a nós “civilizados”, muitos
povos da selva são superiores em vários aspectos. Por isso, o presidente
argentino tem certa razão. Duvido que um índio escolha seus representantes como
nós o fazemos. Um “selvagem raiz”
jamais teria votado em Jair Bolsonaro, um cara sem escrúpulos, acusado de
genocídio e totalmente contrário às aspirações dos povos indígenas. E nunca
chamaria um “Zé Mané” como ele de “Mito”.
Na maioria dos
casos, o chefe da tribo é o cacique. Um cidadão responsável, de caráter, de
rara inteligência, amado e idolatrado pela maioria dos índios. O pajé também é
muito respeitado nas aldeias, pois busca a cura das doenças. Já Bolsonaro
sequer comprou vacinas na hora certa e assim a morte por Covid-19 só aumentou entre
os brasileiros. É muito pouco provável que um chefe indígena, um silvícola que
saiu da selva, desdenhe ou faça galhofa quando morre alguém na tribo. Lá, o
ritual de morte é sério e os “selvagens”
se entristecem e choram muito com cada óbito. E o Bolsonaro, desumano e
insensível, não só faz pouco caso com quase meio milhão de mortos pela pandemia
do Coronavírus como também até chamou publicamente seus compatriotas que
perderam parentes de maricas e que parassem com tantas “frescuras” e “mi mi mi”.
Desde quando um
índio raiz votaria em representantes canalhas, patifes, hipócritas, desonestos
e ladrões para compor muitas das Assembleias Legislativas, um Congresso Nacional
ou as Câmaras de Vereadores como se faz de quatro em quatro anos no Brasil? O
único erro do argentino foi tentar comparar pessoas tão idôneas como os índios com
vira-latas como os brasileiros. Se nós saímos mesmo do meio da selva, então de
onde terão saído os rondonienses? Rondônia talvez seja uma mistura esdrúxula e
bizarra de tudo que de pior existe no Brasil. Esta pode ser uma verdade que
muitos insistem em não querer ver. Além de ter votado em massa no “Mito”, aqui se devasta o meio ambiente
como ninguém e ainda se entrega “de mão
beijada” todas as riquezas do Estado a quem é de fora. Em Rondônia e em
Porto Velho, a sua podre e imunda capital, quase só se elegem candidatos de
fora. Fernández não conhece “Rondônia”.
Ainda bem!
*Foi
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
O que esse exímio governo falaria de Rondônia?
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