Cadê as nossas
vacinas?
Professor
Nazareno*
Por causa da
Covid-19, fico a maior parte do meu tempo útil em um retiro (jamais espiritual)
numa chácara bem próxima à cidade. Devido às precariedades tecnológicas do
lugar, quase não recebo notícias da minha “amada”
Porto Velho, capital de Roraima. Outro dia, um amigo meu me falou que em breve eu
estaria saindo desse bom autoexílio, pois receberíamos doses cavalares de
vacinas contra o Coronavírus. Exatamente no dia 12 de março, há um mês,
portanto, Dr. Hildon Chaves, o prefeito da capital, prometeu solenemente pelo
menos 400 mil doses de vacinas da Universidade de Oxford/AstraZeneca para
segundo ele “imunizar todos os
porto-velhenses acima de 30 anos”. Feliz: como eu tenho mais de sessenta,
claro que serei vacinado logo, logo. Mas não é só isso, não! O governador do
Estado, o coronel Marcos Rocha, triplicou a oferta.
O militar bolsonarista prometeu um
milhão de doses da vacina russa Sputnik V, que sequer foi aprovada pela ANVISA,
para imunizar muitos rondonienses ainda neste mês de abril. Entre euforia e
pessimismo ponderei que bastou eu sair de Porto Velho para as coisas começarem
a funcionar. Nenhuma capital do Brasil e nenhum Estado do país conseguiu ainda a
proeza de imunizar quase todos os seus habitantes. O que temos até o presente
momento em Rondônia é uma vacinação quase parando, pífia e a conta-gotas que se
continuar neste ritmo lento e imoral só nos imunizará daqui a uns quatro ou
cinco anos. Aí já será tarde demais, pois o vírus infame se modificará tanto
que imunizante nenhum lhe fará mais efeito. Hildon Chaves prometeu dez dias
para imunizar todos. E Marcos Rocha disse que em pouco tempo resolveria todo esse
caos.
Rondônia tem hoje 1,7 milhão de
habitantes segundo o IBGE. Logo, para imunizar todos daqui seria preciso ter
pelo menos 3,4 milhões de doses. Mas as vacinas prometidas pelos dois “otimistas” políticos já dariam para
imunizar quase a metade da nossa população. Somando-se com as pessoas já
imunizadas pelo governo federal, estaríamos muito próximos da imunidade de
rebanho e talvez assim conseguíssemos neutralizar o vírus maldito. Marcos Rocha
e Hildon Chaves jamais receberam um voto meu. As suas ideologias e posições
políticas me dão “nojo e asco” e
dificilmente eu escolheria um dos dois para qualquer cargo público. Mas torço
aqui para que dê certo esse propósito e essa resolução que eles tomaram para o
bem de todos os rondonienses e porto-velhenses. E tomara que não seja apenas
uma “esperta” decisão à cata de
votos.
Se essas vacinas chegarem mesmo a Rondônia, será muito difícil escolher quem será o nosso próximo governador.
Dr. Hildon já prometeu amar, beijar e acariciar Porto Velho, coisa que nunca
fez. Mas trazendo quase meio milhão de vacinas entrará numa eterna lua-de-mel
com a população local. Já Marcos Rocha se redimirá de uma vez por todas com os
rondonienses. Deixa para trás o negacionismo anacrônico e estéril, o ridículo “tratamento precoce” contra a Covid-19 e
principalmente a adoração que tem pelo desumano e insensível presidente
Bolsonaro para, enfim, fazer algo útil durante esta pandemia. Tomara que estes
dois cidadãos não estejam mentindo nem embromando o acomodado povo deste lugar.
O rondoniense não pode mais ser enganado por políticos forâneos como fizeram
com as hidrelétricas e tantas outras coisas. Eu quero me vacinar! Pode ser a
vacina do Dr. Hildon ou a do Marcos Rocha. Mas cadê essas vacinas, gente?
*Foi
Professor em Porto Velho.
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