sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Manaus não merece isso!


Manaus não merece isso!

 

Professor Nazareno*

 

            Com quase 2,5 milhões de habitantes, a bonita, turística e aconchegante cidade de Manaus, capital do Amazonas, por causa da Covid-19, é hoje uma cidade que está na lona, numa situação nada invejável. O número de infectados e de mortos aumenta exponencialmente a cada dia. A situação é de desespero e caos. Os hospitais públicos e particulares estão todos lotados. Falta oxigênio para entubar pacientes. Como nos campos de concentração nazistas, cidadãos manauaras estão morrendo asfixiados aos montes. Os cemitérios já não dão mais conta de tantos enterros diários. A situação é angustiante e Manaus pede socorro ao mundo. Autoridades locais decretaram toque de recolher. A capital amazonense, no entanto, deu em 2018 mais de 65% dos seus votos para eleger Jair Bolsonaro, talvez hoje o maior culpado pelo que a cidade está passando.

            Porém, a culpa por toda esta agonia e caos não é somente do governo federal. Parlamentares bolsonaristas, dentre eles, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, Bia Kicis e Carla Zambelli dispararam postagens nas redes sociais parabenizando o povo amazonense pela rebeldia em não cumprir o lockdown decretado pelo governador do Estado. “Primeiro Búzios e agora Manaus. Todo poder emana do povo” disse irresponsavelmente o filho de Bolsonaro. Não deu outra: o vírus agradeceu e “está fazendo a festa”. A falta de consciência de muitos patrões e também de seus funcionários e da população em geral infelizmente tem contribuído para o aumento desses dias terríveis vividos no Amazonas. Triste: “Queremos trabalhar”, gritava euforicamente muita gente aglomerada e sem máscaras antes de começar a desgraceira.

            Manaus tem a Arena da Amazônia, um dos mais bonitos e mais caros estádios de futebol do mundo. Isso numa cidade onde praticamente não há futebol. Mas como “Copa do Mundo não se faz com hospitais”, fica-se aqui questionando se toda esta dinheirama tivesse sido investida na Saúde e na infraestrutura local, talvez a cidade não estivesse vivendo agora todo este drama e agonia. Além do mais, o governo federal com o ministro da Saúde, Eduardo “Pesadelo” teria falado que Manaus está vivendo tudo isso porque seus habitantes não tomaram antes a Cloroquina. Pazuello e Bolsonaro sabiam o que estava acontecendo no Amazonas e não tomaram nenhuma providência. No desespero, Manaus agora está “exportando” pacientes graves para outros Estados. Um perigo, pois a nova cepa do vírus assassino e mortal pode contaminar todo o país.

            A rede de solidariedade, no entanto, espalhou-se pelo Brasil inteiro e também em partes do mundo. Artistas, intelectuais, desportistas, empresários de multinacionais e cidadãos comuns estão fazendo o que os governos estadual e federal não fizeram pela cidade. Ironia suprema, até o governo bolivariano da Venezuela já ofereceu oxigênio para os hospitais de Manaus. “Enquanto Bolsonaro cruza os braços, Nicolás Maduro estende a mão para Manaus” foi a manchete do jornal Correio Braziliense. Segundo o embaixador daquele país, Jorge Arreaza, o governo de Maduro, em nome da solidariedade latino-americana, vai disponibilizar quantidades de oxigênio suficientes para resolver o triste e urgente problema de Manaus. Se isto acontecer, os bolsonaristas já podem mandar os outros brasileiros irem para a Venezuela, pois lá deve ter oxigênio. E torçamos para que a situação de Manaus não seja um prenúncio para o resto do Brasil.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


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