Calama tem culpa?
Professor
Nazareno*
Calama é uma vilazinha charmosa e
quase encantada às margens do lendário rio Madeira e se localiza bem na divisa
do Estado de Rondônia com o Amazonas. Está a quase 200 quilômetros de Porto Velho,
a capital. É muito mais antiga do que a cidade de onde é apenas um dos seus distritos.
Tem umas três mil pessoas morando na sede da vila e serve de apoio para uma
microrregião de mais de cinco mil moradores. A “Veneza esquecida do Madeira” hoje não é nem sombra do que foi
durante os históricos ciclos da borracha. Os sucessivos governos e as
autoridades municipais e estaduais se revezam no poder para destruir e
aniquilar qualquer resquício de vida boa e decente para os seus habitantes. Do
Major Guapindaia até Hildon Chaves, o atual prefeito de Porto Velho, o que se
vê são administrações pífias, desastradas e miseráveis para o esquecido
distrito.
Como se não bastasse o agressivo
barranco do Madeira, que ameaça diariamente a sua existência, o distrito
sobrevive às duras penas nas mãos de administrações falidas como a de Hildon
Chaves. Há mais de um ano que não tem médico. O Programa “Mais Médicos” do Governo Federal, já sucateado pelo governo do “Mito”, parece que consegue mandar
profissionais para todo lugar, menos para Calama. Visitar a vila ou mesmo morar
por lá é um risco de morte constante. Pessoas acidentadas com picadas de
cobras, aranhas e escorpiões “têm que se
virar” se quiserem escapar. Às pressas têm que ser levadas para Humaitá no
Amazonas, pois soro antiofídico não existe no distrito. E se existe, não há
médico para prescrevê-lo. E ninguém toma providência alguma. Uma simples gripe
ou outra doença qualquer deve ser curada à base de rezas e benzedeiras.
O povo de Calama é bom, ordeiro,
trabalhador e pacífico. Morei cinco anos lá e sei do que estou falando. Só
convivi com pessoas de bom coração e humanos fora de série. Calama e todo o Baixo
Madeira não merecem este tratamento desumano, animalesco, bruto e absurdo.
Aliás, ninguém merece. As autoridades de Porto Velho e de nenhum outro lugar do
mundo não ficam um dia sequer sem médico. Todos os mandatários da cidade, de um
modo geral, têm acesso a bons planos de saúde e hospitais. Mas o bravo e
guerreiro povo de Calama “que se vire”
quando precisar cuidar de sua saúde. E agora Calama está sem escola também. A
Escola Gen. Osório ainda não começou o ano letivo de 2019. Apenas 23 por cento
dos alunos dependem de transporte fluvial, mas as “otoridades porto-velhenses” impediram o início das aulas para todos.
Sem médico, sem transporte fluvial,
sem escola e sem dignidade. Os alunos da General Osório, que vão fazer o Enem
em Humaitá, estão sem estudar e não têm a quem recorrer. E sabe de quem é a
culpa? Muitos dizem que é dos próprios moradores da vila. “Não sabem escolher os seus representantes corretamente, por isso têm
que pagar o preço”, afirma-se cinicamente. Muitos dos atuais vereadores de
Porto Velho encheram as burras de voto por lá nas últimas eleições e agora se
fazem de cegos. Alan Queiroz, Marcelo Reis, Maurício Carvalho, Ada Dantas e todos
os outros deviam se compadecer daquele sofrido distrito. Mesmo que não tivessem
recebido um só voto dos calamenses, eles são vereadores de todo o município. O
próprio prefeito da capital só foi uma vez a Calama e os moradores da vila
nunca vão esquecer este dia. Calama é um lugar lindo e paradisíaco. Mas se não dão conta dele, por que não o
devolvem logo para Humaitá?
*É
Professor em Porto Velho.
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