Infeliz Natal e
Ano Novo pior
Professor
Nazareno*
A surrada e mentirosa
frase “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”
dita de forma tão natural nos finais de ano apenas mostra a hipocrisia secular em
que nós brasileiros vivemos. Não precisa fazer análises profundas dentro da
nossa sociedade para observar o quão absurda é essa felicitação. Em quase todos
os aspectos da vida nacional o que se vê é um pessimismo sem tamanho. Na
política, por exemplo, o festival de roubalheira e corrupção quase não tem fim.
Dos quase 600 congressistas que temos, um terço deles está respondendo a
processos e também enrolados com a Justiça. Não há um único Estado que não
tenha “representantes do povo” sendo
investigados. O presidente do Brasil, o golpista Michel Temer, chegou a ser o
mais impopular presidente de país no mundo com pífios 3% de aprovação. Perdia
até para a margem de erro das pesquisas.
O ano que ora se encerra foi uma
verdadeira calamidade para quase todos os brasileiros. O preço do gás de
cozinha bateu recorde por cima de recorde. A gasolina subiu de preço toda
semana. A inflação disparou, mas a mídia insistia em dizer que estava
diminuindo. O desemprego aumentou, os funcionários públicos foram e ainda estão
sendo perseguidos sem tréguas. O trabalho escravo deu as caras. A roubalheira
dos políticos continuou dilapidando o Erário. Vários Estados não pagaram o
salário aos funcionários. Temer foi liberado duas vezes pela Câmara dos
Deputados. Nem Aécio Neves nem Lula foram presos. Gilmar Mendes do STF soltou
quase todos os presos sob sua jurisdição. A impunidade aos mais ricos correu
solta. O futebol brasileiro praticamente perdeu todas as competições de que
participou, exceto a Libertadores.
Acomodados e acovardados atrás das
redes sociais, a maioria dos brasileiros não bateu mais em panelas diante dos
escândalos quase diários que apareciam na mídia. Várias lideranças populares
foram mortas. A TV Rondônia sempre transmitia o Jornal Nacional com mais de uma
hora de atraso. O porto do Cai N’Água
não foi consertado. A extrema direita invadiu as escolas e proibiu uma série de
avanços antes conquistados a duras penas. O movimento escola sem partido passou
a dar as cartas em vários estabelecimentos de ensino pelo país afora. A
ideologia de gênero foi proibida e até livros didáticos foram censurados. Em
Rondônia, na maior cara de pau, a direita ameaçou militarizar quase todas as
escolas estaduais. E Porto Velho continuou sendo uma das piores cidades do
Brasil em IDH, apesar das promessas do novo prefeito.
Tendo que olhar para cima para ver o
fundo do poço, o brasileiro não pode ouvir cinicamente que terá um Ano Novo
repleto de coisas boas. Muito menos um feliz Natal. Em 2016 disseram essas
mesmas lorotas e 2017 foi esta maldição toda. As perspectivas para o próximo
ano, no entanto, não são nada animadoras. Será provavelmente aprovada a
draconiana reforma da previdência e quase todos os deputados estaduais,
deputados federais, senadores e governadores serão reeleitos. Uma multidão de
políticos da pior espécie rumará para Brasília a partir de 2018 para acabar de
dilapidar o país. Por mais quatro anos, o Brasil continuará na merda de sempre.
As angústias deste ano parecem fichinha diante do que está por vir. A única
alegria será ver o Brasil perder de novo a Copa do Mundo. Esperar que Lula,
Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin ou outra desgraça que seja eleita
faça algo pela nação é pura ilusão. Há infelicidade pior?
*É
Professor em Porto Velho.
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