Natal
escuro na currutela
Professor
Nazareno*
No Natal de 2016, Porto Velho ficará no escuro
outra vez. Ficará é um modo de se dizer, pois esta cidade sempre viveu no breu
absoluto apesar de ter em seu solo pelo menos três hidrelétricas. A capital da sujeira
e da fedentina é um lugar cristão que hoje tem mais de 510 mil pessoas, mas
parece que todos aqui são judeus, muçulmanos ou ateus, pois não haverá Natal
iluminado como em muitas outras cidades espalhadas pelo Brasil afora. A
escuridão sempre foi uma grande companheira dos portovelhenses. A desnecessária
e caríssima ponte que fizeram sobre o rio Madeira é escura e não tem a menor
previsão de quando será iluminada. Aquilo que chamam de viaduto e que tentaram
terminar às pressas por causa das eleições também é outra obra escura. Escura, por
não ter lâmpadas, por que não se sabe quanto custou ou por que nunca a concluem.
A mente da maioria dos habitantes daqui
é igualmente escura. Assim como as ações de nossas autoridades. Porto Velho é
uma cidade escura em todos os sentidos. Não que o Natal seja algo importante,
mas o orgulho de muitos moradores ficaria melhor se houvesse pelo menos uma
comemoração que lembrasse essa data cristã. O atual prefeito, Dr. Mauro Nazif,
recebeu dos eleitores daqui mais de 200 mil votos para exercer seus cargos
políticos. Devia se preocupar com o seu futuro político, mas parece que não
quer saber da autoestima de ninguém. Já fez decoração de Natal até com pneus
velhos. Irados, os eleitores escorraçaram-no nas urnas na esperança de ter, sob
a batuta do novo prefeito, uma cidade com “ares mais perfumados e cheirosos”.
Com lama, lixo, podridão e muita escuridão, Porto Velho já se acostumou a sua
triste rotina de mazelas.
Nada aqui dá certo. A “capital das
sentinelas avançadas” é uma cidade amaldiçoada. Está, de novo neste final
de ano, mais deserta do que nunca, pois quem pode já caiu fora para passar as
férias em recantos mais aprazíveis. Um lugar onde a Semana Santa é em novembro,
o São João às vezes é em outubro e o carnaval em julho não deve nunca ser
levado a sério. Até o Ibope aqui não funciona e a principal emissora de
televisão local (afiliada da toda poderosa Rede Globo) retransmite seus noticiários
gravados como se estivéssemos ainda na época dos ultrapassados videocassetes. Enquanto
isso, as cidades do interior se esmeram com a data natalina. Ariquemes tem a maior
árvore de Natal da região Norte. Ji-Paraná está um encanto com seus viadutos já
prontos e todos enfeitados. Nem é bom falar sobre Canela e Gramado na Serra
Gaúcha.
Os infelizes moradores da capital de
Rondônia sofrem feito sovaco de aleijado. Nem os oposicionistas da Ditadura Militar
sofreram tanto como nós habitantes de Porto Velho. A tortura a que eles foram
submetidos se parece com cafunés se comparada com a nossa vergonha e
sofrimento. Somos torturados todos os dias com a incompetência, a roubalheira e
o descaso e ninguém tem pena de nós. Nenhum prefeito se compadece de nós
beiradeiros. Vivemos o antinatal. Aqui é uma terra sem eira nem beira onde
parte da mídia se confraterniza todos os anos com os políticos. A cada dia que
passa as coisas só pioram. Viramos Aleppo? Sem as festas de Natal, mais uma vez
sucumbimos sob a lama do inverno amazônico. Sem esgoto, suja, pontilhada de
imundícies, abandonada e agora escura no Natal, a maldita currutela vive o seu
martírio rotineiro. E eu nem posso desejar que o DIABO leve logo Porto
Velho para as profundezas do inferno: sou ateu.
*É Professor em
Porto Velho.
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