O João Bento e a poça d’água
Professor Nazareno*
O resultado final do
desempenho das escolas no ENEM de 2015 só foi divulgado em outubro deste ano
quase um ano depois de realizadas as provas. Nenhuma novidade foi verificada. A
distância entre as escolas públicas e as escolas particulares do Brasil
continua imensa. O sistema educacional do país, claro, ainda está em frangalhos
sendo por isso mesmo considerado como um dos piores do mundo. O ENEM, Exame
Nacional do Ensino Médio é apenas um termômetro, dentre muitos, que procura
avaliar o desempenho dos alunos e das escolas de Ensino Médio de todo o país.
Em Rondônia também não houve muita diferença dos números nacionais, mas
dependendo do ângulo que se olhe é possível encontrar estatísticas que podem
suscitar algumas reflexões. Veja-se o exemplo da Escola Professor João Bento da
Costa na zona sul de Porto Velho.
Numa contagem geral, a referida
escola ficou em terceiro lugar no Estado dentre as escolas públicas. O IFRO de
Vilhena, escola da rede Federal, ficou em primeiro lugar e a boa escola
Tiradentes de Porto Velho, em segundo. Porém, os números do João Bento da Costa
disparam e se tornam envaidecedores se forem considerados somente os trinta
melhores alunos por escola, ranking que o IDEB também disponibiliza em seu site.
A escola da zona sul de Porto Velho fica em segundo lugar geral incluindo aí
todas as escolas públicas e particulares de Rondônia. Adotando-se ainda o mesmo
critério, em Redação, uma das provas do ENEM, o João Bento aparece com a melhor
nota do Estado e desbanca todo o resto. Incrível, nesta mesma disciplina fica
em segundo lugar nacional dentre todas as escolas estaduais. Perde só para uma
escola de Uberlândia/MG.
“Os alunos dos terceiros anos de 2015 foram
fantásticos, incríveis”, avaliam os professores do Terceirão daquela escola
pública. Para este ano, os meninos estão muito empolgados e querendo quebrar
todos os recordes nas provas que serão realizadas em novembro próximo. Embora
não se fale em outra coisa naquele ambiente escolar, um temporal recentemente
quebrou três telhas e quando chove, uma poça de água incomoda, claro, as aulas
em uma das salas do terceiro ano. Por isso, grande parte da mídia de Porto
Velho esteve na escola para noticiar o fato. Óbvio que a situação da
infraestrutura da escola é lamentável. Mas parte da mídia de Porto Velho foi lá
e só viu isso: a água da chuva dentro da sala. O engraçado é que para cobrir
alguma coisa no JBC como simulados, arraial, aulões ninguém aparece com tanta
garra e disposição.
Parte da mídia de Porto Velho tem cor: é marrom e metida
a sensacionalista. Até na campanha eleitoral deste ano, por exemplo, alguns
sites já tomaram partido e defendem com unhas e dentes seus candidatos
preferidos. Por quê? O eterno problema da falta de estrutura de nossas salas de
aula devia ser investigado, sim. Ou então por que mesmo sem infraestrutura
algumas escolas têm excelente desempenho no ENEM? O triste episódio da poça de
água na escola JBC, no entanto, foi igual ao "jornalista" que
foi cobrir uma reunião na Câmara de Vereadores de uma cidade e depois ligou
para o seu chefe dizendo que não deu para fazer nenhuma matéria porque houve um
incêndio e os vereadores que fariam a reunião morreram todos. Realmente: como
escrever algo se todos os envolvidos morreram? E como mostrar a excelência do
Colégio João Bento da Costa de Porto Velho se havia uma poça de água em uma de
suas salas de aula? Triste!
*É Professor em Porto
Velho.
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