36
anos e nada mudou
Professor
Nazareno*
Em 1980 eu passava por Porto Velho,
capital do ex-território de Rondônia, onde terminei fincando raízes. A caminho
do Peru e depois da Nicarágua sandinista, fugia da ditadura militar, da seca e
das incertezas de futuro na Paraíba. Com pouco mais de 140 mil habitantes, a
cidade parecia um esgoto a céu aberto. Exatamente como agora, 36 anos depois. Não
havia saneamento básico, arborização, urbanização e muito menos água tratada. O
prefeito da cidade era o engenheiro Francisco Paiva nomeado pelo então
governador Jorge Teixeira. Estávamos no mês de janeiro e a lama era o que mais
se via nas esburacadas e fétidas ruas. A rodoviária da capital, localizada na
antiga Avenida Kennedy era suja, fedida, mal arrumada e seus banheiros exalavam
carniça. Era muito comum ver no meio das ruas tapurus e urubus dilacerando
carcaças de animais mortos.
Naquela época só havia duas emissoras de
televisão na cidade: a TV Rondônia, afiliada da Rede Globo, e a TV Nacional.
Ambas praticamente só retransmitiam programas gravados exatamente como fazem hoje.
A especulação imobiliária era uma constante e o já precário sistema de
transporte coletivo, além de muito caro, era uma desgraça. A cidade parecia um
faroeste de quinta categoria por causa do garimpo no rio Madeira. Prostíbulos
imundos e duelos entre garimpeiros eram cenas comuns. O antigo Trevo do Roque
vivia abandonado pelas autoridades e o lugar era como Porto Príncipe
pós-terremoto. Um cabaré sem a madame. Os políticos de então, quase todos
nomeados, prometiam, como muitos fazem atualmente, mundos e fundos para a
população pobre e recém-chegada ao “Eldorado”. As mazelas daquela cidade
continuam vivas em 2016.
Infelizmente nada mudou na capital dos
rondonienses apesar de quase quarenta anos. Só vinha e vem para esta cidade
quem tem negócios ou parentes. As autoridades eram quase todas de fora. Hoje,
temos dois candidatos a prefeito, ambos também de fora. Um nasceu no
desenvolvido e civilizado Paraná, o outro veio de Pernambuco. Ambos, claro,
dizem que amam de coração esta fedorenta capital. Neste período, pelo menos 13
prefeitos já passaram pelo Palácio Tancredo Neves e nenhum nada fez para mudar
a realidade da mais suja e imunda das capitais do país. Porto Velho fica no 98º
lugar em IDH e qualidade de vida dentre as 100 maiores cidades do Brasil. Uma
posição vergonhosa para uma cidade rica que tem três hidrelétricas, um rio
caudaloso com água potável como o Madeira e tem na agropecuária e no
extrativismo o seu carro-chefe.
Porto Velho nunca teve um grande
administrador, eis a verdade. Nunca tivemos uma espécie de Jaime Lerner de
Curitiba ou um Pereira Passos do Rio de Janeiro no início do século passado.
Aqui nunca teve alguém que realmente amasse a cidade como sendo sua verdadeira
casa, sua terra natal. Fala-se que Chiquilito Erse foi um Deus como
administrador. Mas isto é pura balela, pois não se vê nada por aqui que tenha
marcado as suas duas administrações. Porto Velho sempre se pareceu com uma
currutela daquelas de garimpo, um chiqueiro sujo, fedido e sem cuidados. Nada
daqui presta, nada daqui tem futuro, nada daqui vai para frente. Espaço
Alternativo, viadutos, ponte escura. Não temos praças, iluminação decente,
áreas verdes nem recantos de lazer. A Porto Velho dos sonhos está apenas nas
cabeças de Hildon Chaves e Léo Moraes. Tomara que o eleito aprenda a lição do
Nazif: se nada fizer, perderá o emprego.
*É Professor em
Porto Velho.
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