República
Evangélica do Brasil
Professor Nazareno*
Eu não tenho
religião, pois sempre duvidei da existência de Deus. Mas não sou ateu, sou
deísta, ou seja, acredito que se Deus existe chega-se a Ele pela razão e nunca
pela emoção. Sempre admirei as pessoas que têm religião. Se a crença em
qualquer divindade faz uma pessoa mais caridosa, tolerante, alegre,
compreensiva e feliz, por que não tê-la? Já o Estado brasileiro é laico, aceita
todas as religiões e crenças inclusive a não crença. Essa separação entre
Estado e religião no Brasil se deu por forte influência de Rui Barbosa e
Benjamin Constant ainda na época da Proclamação da República. Essa visão de que
as nações devem estar atreladas a uma religião é coisa do passado e já ultrapassada
na maioria dos países do mundo. Há, no entanto, ainda muitos países hoje em
dia, principalmente os muçulmanos, cujos governos se baseiam em suas religiões.
Isso pode ser um absurdo, um
contrassenso, pois uma nação deve ser governada sempre se levando em
consideração uma constituição, livro dialético escrito sob a vontade da maioria
após incansáveis debates e que pode ser mudado a qualquer momento dependendo
das circunstâncias. A religião geralmente se baseia em uma Bíblia ou Corão,
livros dogmáticos escritos há milhares de anos e totalmente fora da realidade
dos dias atuais. Além do mais, a mistura entre religião e política pode ser
algo muito explosivo. A guerra na Síria e outras guerras espalhadas pelo mundo
são tristes exemplos deste fato. No Brasil, infelizmente, esta combinação letal
está cada vez mais se tornando realidade. Nestas eleições, por exemplo, há a
possibilidade de o Rio de Janeiro ser administrado por um evangélico. E o
número de religiosos eleitos só cresce.
Candidatos com o nome de pastor,
pastora ou de padre é o que mais se vê nas campanhas políticas. Muitos já têm
mandato e muitos são eleitos a cada eleição. Os religiosos perceberam o poder
que têm sobre a massa ignara. Podem mandar votar no Satanás que os fiéis votam.
Pior: o Congresso Nacional do Brasil está repleto de deputados e senadores
religiosos. Reacionários, conservadores, direitistas, “defensores da família”
e seguidores de Cristo, a maioria destes políticos pertence à Bancada BBB, Boi,
Bala e Bíblia e buscam introduzir na sociedade, usando sempre a religião,
regras, costumes e culturas já há muito ultrapassados na história da humanidade.
Direitos humanos, homossexualismo, novo tipo de família, união estável, aborto,
eutanásia e outras conquistas sociais são temas proibidos neste meio. Só vale o
que o pastor disser.
A classe política brasileira,
ambiciosa como sempre e na cata de cada vez mais votos para o seu projeto de
poder, não titubeou para assimilar e aceitar a nova ordem. Duvido que nas eleições
do segundo turno em Porto Velho, Léo Moraes ou Hildon Chaves vá à mídia
declarar a sua religião. Religiões à parte, qualquer um deles aceita, claro,
novas adesões ao seu projeto de administrar a capital rondoniense. A ganância
pelo poder é tanta que no mesmo Rio de Janeiro o senador Marcelo Crivella,
pastor evangélico e concorrente à cadeira de prefeito da cidade, já disse que
apoiará a Parada do Orgulho Gay e o Carnaval. Não é ilegal um religioso
participar da política, mas pode ser antiético uma vez que o ditado popular diz
que religião e política não se discutem. Nem se misturam. Um presidente evangélico
com um Congresso propenso a essa religião não seria uma volta aos inquietantes
tempos medievais? E retroceder, jamais!
*É Professor em
Porto Velho.
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