...E
o “frio” chegou mesmo
Professor
Nazareno*
Frio em Porto
Velho é uma coisa muita rara, todos sabemos. Tão raro quanto honestidade e
decência na política local ou mesmo limpeza nas nossas imundas ruas. Mas desta
vez os prognósticos acertaram em cheio a previsão do tempo. Havia uma semana
que não se falava em outra coisa nas redes sociais. Um buraco quente sem eira
nem beira, a “capital das sentinelas avançadas” foi, de uma hora para
outra, sacudida por uma forte massa de ar polar que fez os termômetros
despencaram para uns 25 graus centígrados, muito frio por estas bandas.
Acostumados aos rotineiros 40 graus à sombra e uma infernal umidade relativa do
ar, os portovelhenses riam à toa como se tivessem acertado a Mega Sena. “Será
que vai nevar por aqui também?”. Era a cantilena que se ouvia dos
desinformados e tolos cidadãos que nada conhecem de previsão do tempo.
Friagem na Amazônia em abril é coisa
muito difícil mesmo e sendo essa uma Massa Polar Atlântica de forte intensidade
faz tudo se parecer com “coisas de outro planeta”. Mas a alegria é
compreensível: é a única chance desta capital catinguenta, suja, quente e sem
saneamento básico se parecer com uma verdadeira cidade do Primeiro Mundo ou do
sul do Brasil, aquelas paradisíacas localidades cheias de flores onde faz frio
de verdade no inverno e o clima é agradabilíssimo o resto do ano. No Japão e em
alguns países da Europa, por exemplo, nesta época as floridas cerejeiras dão o
ar da graça e com sua beleza e aroma característicos cativam os turistas. Aqui,
só o Louro Bosta, árvore que espalha sua fedentina no ar empestando ainda mais
o que já é fedido por natureza. Numa cidade inóspita onde só há lama e poeira o
cenário é surreal.
Nada mais irritante e chato do que ouvir
pessoas fedidas comentando sobre as mudanças da natureza. A naftalina, o mofo e
a catinga de barata impregnados em suas rotas e molambentas vestes faz qualquer
cidadão engulhar. Matuto no frio é um dantesco e cruel espetáculo. Nem vinho e
muito menos bruschettas são consumidos. Só mesmo rinite alérgica, dor de
garganta, tosse e muita curuba. As madames da capital por enquanto não poderão
comprar seus caros edredons para se exibirem falando da potência de seus
aparelhos de ar condicionado. Muitos podem até pensar que isto é obra do PMDB e
do novo governo que se avizinha em nosso país. A “ponte para o futuro” é
uma coisa tão boa que até o tempo em Rondônia mudou para melhor. Durante a friagem
muitos políticos inexplicavelmente recebem elogios. Hoje, quase todos seriam
reeleitos.
As obras do Espaço Alternativo serão
retomadas, pasmem! A ponte escura do Madeira poderá ser iluminada e se dermos
sorte, até os viadutos do PT serão concluídos. O “frio” em Porto Velho é
como o impeachment: é rápido, popular e vem para mudar tudo. E não se sabe o
porquê. Até a conhecida e badalada Banda Versace pode compor novas canções,
afinal não é sempre que convivemos com temperaturas “tão baixas” como
agora. Este inusitado tempo podia impulsionar o nosso inexistente turismo.
Livre do calor sufocante e da alta umidade relativa do ar, que voltarão em
breve, o problema é o vento soprando nos esgotos que correm a céu aberto. E se
o clima de Rondônia fosse assim “sempre frio” como muitos querem?
Difícil, pois tudo teria que mudar também. E como conseguiríamos conviver com
políticos honestos, ar puro, flores, limpeza, arborização, saneamento, água
tratada, educação e saúde de qualidade?
*É Professor em
Porto Velho.
Um comentário:
Como sobreviveríamos sem o calor? kkkkkkkkk
Postar um comentário