Cenas
raras no aeroporto
Professor Nazareno*
O aeroporto “internacional”
Governador Jorge Teixeira de Oliveira de Porto Velho, Rondônia, que de
internacional não tem absolutamente nada, já que não faz nem nunca fez um único
voo para fora do país, foi palco na sexta-feira, dia 22 de abril de 2016, de
cenas extremamente raras. Foram acontecimentos tão difíceis e improváveis de
acontecer, principalmente nestes tempos bicudos que vivemos no Brasil, que mais
se pareciam com cenas de filmes de ficção, daqueles raríssimos que só se veem nos
cinemas e televisões. Uma multidão de alunos e alunas, todas jovens
bonitas, arrumadas e também garotos “sarados” gritando euforicamente o
nome de alguém. Eram alunos do colégio João Bento da Costa de Porto Velho recepcionando
o professor de Matemática Saulo Boni de Campinas, que estava chegando para dar
um aulão para todos eles.
Desnecessário e já repetitivo falar
sobre o grande sucesso do Projeto Terceirão que funciona na referida escola. No
último ENEM, por exemplo, mais de 500 alunos daquele estabelecimento de ensino
da zona sul de Porto Velho ingressaram em várias universidades, públicas e
particulares, espalhadas pelo país afora nos mais variados e concorridos cursos
superiores. “As apostas para 2016 não são pequenas”, afirmam em uníssono
os professores que integram o referido projeto. Por isso, a vinda do renomado
professor Saulo Boni para ajudar no processo de formação dos mais de 600 alunos
dos terceiros anos. “Matemática no Krú da vida” foi o curso ministrado
pelo mestre campineiro. Nada mais salutar e adequado para uma cidade que mais
se parece com o “Krú do mundo”.
Por isso, as raras cenas no aeroporto foram dignas de outro planeta.
Intrigadas, as poucas pessoas
presentes ao aeroporto perguntavam atônitas quem era o “cantor de pagode”
que aqueles jovens alegres e sorridentes estavam esperando. Outros incautos,
movidos ainda pela curiosidade e pela incredulidade, perguntavam o nome do
artista famoso ou do jogador de futebol que podia estar desembarcado em nosso
acanhado “campo de pouso”. Muitos balançavam a cabeça como em sinal de
desaprovação quando descobriam que se tratava de um professor, e de Matemática,
que estava tendo aquela calorosa recepção e que os alunos eram todos de uma
escola pública da periferia de uma cidade periférica de um Estado da periferia
do Brasil, um país que pertence à periferia do mundo civilizado. As pessoas ali
estavam mais espantadas do que “galinha quando vê cobra”. Em terra de
pouca cultura, tudo é motivo de assombro.
Para a alegria e o delírio daquela
moçada, o jovem professor deu um show de aula. Inicialmente no auditório de uma
faculdade particular, depois o “raro e grandioso espetáculo de
eloquência, conhecimento e sapiência” continuou nas imundas, desarrumadas e
fedidas salas de aula da própria escola JBC. A professora Layde Nascimento, mãe
da ideia de trazer “novas cabeças” para cá, estava eufórica. Os alunos
tiveram “paitrocínio” para bancar um evento que nenhuma
das boas escolas particulares daqui faz. Nem o próprio Estado se preocupa em
dar uma educação de qualidade para seus pupilos. Jogados em escolas sujas,
violentas e de turno único, nossos estudantes são mais vítimas do que
protagonistas de uma educação de péssima qualidade que lhes é oferecida. Ainda
bem que o mestre não pediu para ver nossos pontos turísticos. Ruínas de obras
eleitoreiras, sujeira, lixo, ignorância e descaso não combinam com Sapiência.
*É Professor em Porto Velho.
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