Sete de Setembro
na fumaça
Professor
Nazareno*
O desfile de
Sete de Setembro em Porto Velho, Roraima, foi algo fantástico. Como sempre fui um
patriota e amo de coração o Brasil, vesti-me com roupas verde-amarelas, comprei
algumas bandeirolas do meu país e fui à Avenida dos Imigrantes para assistir ao
espetáculo dantesco. A fumaça das criminosas queimadas na Amazônia quase
inviabiliza aquele grandioso momento cívico repleto de declarações amorosas à
pátria. Vi, extasiado, vários pelotões desfilando para delírio dos
intelectuais, autoridades e pessoas esclarecidas ali presentes. Abrindo aquele
espetáculo surreal, estava o pelotão dos donos de dragas e balsas que retiram
ouro do rio Madeira. A “turma do mercúrio”
estava alegre, encantada e a cada aplauso que recebia da plateia delirava ainda
mais. A seguir estava o pelotão dos que desmatam e tocam fogo nas nossas
florestas. “Essa fumaça é nossa”,
gritavam todos!
O terceiro pelotão a desfilar na
Imigrantes foi o do IBAMA. Ajudados pelo ICMBio e pelas secretarias estaduais e
municipais de meio ambiente, os orgulhosos funcionários do órgão mostravam, com
o peito estufado, toda a tecnologia adquirida para o combate ao desmatamento e
aos incêndios florestais em Rondônia. “Ainda
bem que a nossa eficiência é reconhecida pelo povo”, dizia um cartaz. Os
aplausos quase que ensurdeciam as pessoas presentes. Havia também, claro,
muitos militares naquela festa. O general Jorge Reacionário estava meio corcunda
de tanta medalha e condecorações que trazia no peito. Representante maior das
Forças Armadas em terras karipunas, o militar não disfarçava a emoção de
representar a pátria e as suas autoridades, embora estivesse naquele meio de direita e ainda bolsonarista. “Democracia é
tudo. Viva o 8 de janeiro!”.
Helicópteros da briosa Força Aérea
Brasileira cortavam em voos rasantes os céus outrora azuis de Rondônia. Levantando tanta poeira no povão, quase não se viam arruelas, parafusos e ferrugem que caíam
daquelas aeronaves. Esses “combativos”
aviões de caça, provavelmente da década de 1930, estão prontos para defender a
nossa pátria. “Temos condições de
enfrentar qualquer ataque contra a nossa nação”, dizia em entrevista um
orgulhoso tenente da FAB. Se por acaso os Estados Unidos ou qualquer outra
potência da atualidade se “meterem a
besta” contra o Brasil serão prontamente esmagados. Mísseis Tomahawk não
são nem fichinha perto do poder de fogo que existe na base aérea de Porto
Velho. Os Sukhoi- SU russos, Rafale franceses e os bombardeiros invisíveis
Stealth dos EUA não teriam sequer coragem de vir tentar nos agredir. Seriam
derrotados em minutos.
A PMRO estava também marchando na
avenida. Armas modernas contra todo o tipo de violência social e urbana eram
mostradas à multidão entusiasmada e orgulhosa. A COE era só rompança naquele momento.
Homens treinados, salários altíssimos da tropa, armas modernas, táticas de
combate, violência zero. Deu até pena da bandidagem. Isso se ainda existir uma
só pessoa que tente entrar no mundo do crime. Pigarreando por causa da fuligem
e da fumaceira constantes havia também no palanque oficial vários políticos. A
confraternização era geral. Discursos emocionados pediam que a BR-319 fosse
logo asfaltada para concluir o desenvolvimento de Rondônia. “Não vai demorar muito e teremos uma
rodoviária nova, um novo hospital de pronto-socorro, saneamento básico, água
tratada, esgotos, ampla arborização e mobilidade urbana”, gritavam vários
dos representantes do otário povo que ali estava. Após todo o sacrifício, fui
pra casa sorrindo.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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