sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Farsas: Deus, Pátria, Família

Farsas: Deus, Pátria, Família

 

Professor Nazareno*

 

    Estas três palavras são quase mágicas na História da Humanidade. Desde tempos remotos até os dias atuais, elas têm sido sempre usadas como a receita perfeita para se construir impérios, conquistar povos, acumular riquezas, semear ódio, promover matanças, oprimir cidadãos, perseguir pessoas e cometer toda a sorte de barbáries e de perversidades. Porém, elas não existem como são apregoadas. Podem não passar de ficção, tolices e invencionices do próprio homem para se perpetuar no poder. Jair Bolsonaro, por exemplo, na última campanha eleitoral que o levou à Presidência da República, foi exímio em usá-las em benefício próprio para atingir seus objetivos. E, óbvio, era tudo mentira. Como pode um ser humano acusado de tendências ditatoriais, machista, misógino, homofóbico, genocida e infanticida ter Deus como maior fortaleza?

         Às vezes me pergunto: que Deus é esse da extrema-direita que compactua com todas essas barbaridades? O país todo sabe que Bolsonaro não quis comprar vacinas a tempo para evitar mortes pela Covid-19. Fala-se que o presidente do Brasil seria o maior responsável pela morte de mais de 200 mil cidadãos brasileiros que não puderam ser vacinados a tempo. O total de mortos pela pandemia até agora já ultrapassa a marca de 625 mil mortes com mais de 25 milhões de infectados. Para vacinar as crianças entre cinco e onze anos, Bolsonaro criou briga com meio mundo e disse publicamente que sua filha não seria vacinada. Mas usar o nome de Deus para matar não é um fato apenas de hoje. Durante as Cruzadas e as guerras de conquistas em séculos passados, milhões de pessoas inocentes foram assassinadas em nome de algo que talvez nunca tenha existido.

        Outra lorota também muito incentivada é o amor à pátria. Ora, se a pátria somos todos nós, como explicar que em nossa nação, que é uma das maiores produtoras mundiais de alimentos, existam pessoas catando o que comer nos carros de lixo? Como explicar a fome, a injustiça, as perseguições, o desemprego, a falta de moradia e de dignidade para a maioria dos nossos cidadãos? Em nome da pátria, nossas Forças Armadas, em conluio com a direita e a extrema-direita, deram um golpe em 1964 para “nos livrar do Comunismo”, mas mergulharam o país num dos piores momentos de sua recente História. Censura, tortura a muitos opositores do sanguinário regime, injustiças, cassações, exílio, perseguições e assassinatos foram o saldo cruel da última intervenção militar que vivemos. A História não registra outra coisa da malfadada aventura fardada.

      Família é a última das tolices inventadas pelos homens para exercer o domínio sobre os mais idiotas. Bolsonaro, o Deus de muitos brasileiros, se disse defensor intransigente da família brasileira. Só que não se sabe de qual família ele estava falando, já que está no quarto ou quinto casamento. Mas muitos acreditaram na fanfarronice do “Mito” e pelo menos 57 milhões votaram nele nas últimas eleições. Um professor de História, amigo meu, disse-me que ia votar nele por que o via como o maior defensor da família brasileira. Família é aquele ambiente onde existe amor, união, afeto, respeito, confiança e fraternidade. Não importa quem sejam seus componentes nem como vivem. Bolsonaro e os bolsomínions de um modo geral enganaram grande parte do Brasil por que as pessoas aqui infelizmente têm pouca ou nenhuma leitura de mundo. E durante a próxima campanha eleitoral, as mentiras, os engodos e as bravatas nos voltarão de novo.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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