Tornado ou Chuva
de Merda?
Professor
Nazareno*
O dia 28 de outubro de 2021 entrará
para a triste história de Porto Velho, capital de Roraima. Nesta insólita data,
à tarde, antes de mais um temporal típico desta época do ano, um redemoinho se
formou e destelhou um ou dois quarteirões no bairro Nova Porto Velho, zona
leste da cidade. Houve, claro, alguns momentos de desespero de pessoas que
estavam próximas ao fato já corriqueiro. Até aí, tudo bem. Todo mundo que tem o
desprazer de morar nesta cidade suja e sem esgotos, já está mesmo acostumado a
essas chuvas que prenunciam o inverno amazônico. São temporais fortes e às
vezes causam alguns prejuízos pontuais como destelhamentos de casas, quedas de
muro e árvores. Porém o vendaval ganhou ares de desastre terrível quando
disseram no Jornal Nacional da rede Globo que se tratou de um tornado por causa
da destruição causada.
Eufóricos e se sentindo verdadeiros
heróis anônimos, muitos cidadãos filmaram a “catástrofe” e divulgaram seus vídeos nas redes sociais. Entretanto,
algumas pessoas achavam que se tratava da chuva de merda que a cidade espera há
anos. É tanta desgraça que acontece na capital karipuna nos últimos tempos que
só falta mesmo São Pedro nos mandar uma chuva de detritos. Aliás, rede de
esgotos essa cidade não tem nem nunca teve. Apenas 1,8 por cento em toda a
cidade. Porto Velho, segundo o próprio prefeito Hildon Chaves e também o Instituto
Trata Brasil, é um dos piores municípios do Brasil em saneamento básico e água
tratada. Das 100 maiores cidades do país, ficamos em 99º lugar. E dentre as
capitais do Brasil, estamos na lanterna. Por isso, o inédito temporal,
apelidado de tornado, pode ter jogado no ar muitos coliformes fecais.
De fato, várias pessoas que
presenciaram o extraordinário evento da natureza disseram que havia um mau
cheiro muito forte no ar. Durante o incomum fenômeno, fala-se que a catinga de
fezes, característica de toda a cidade, empesteava a todos os assustados
moradores daquele bairro. Sem esgotos, sem água tratada e também sem árvores, a
tendência é os temporais aumentarem de força cada vez mais. O prefeito e a SEMA
se encarregaram de destruir as poucas árvores da cidade. Há um ano, na Avenida
Tiradentes, por exemplo, todas as frondosas árvores que havia foram arrancadas
pela raiz “por que estavam destruindo uma
rede de esgotos” que nunca teve lá. Agora, está só o buraco, sem jardins, plantas
ou algum projeto que substitua o verdadeiro tapete verde que era. Estão
destruindo Porto Velho como estão fazendo com toda a Amazônia.
Não se sabe ainda se o que aconteceu
no bairro Nova Porto Velho foi um tornado ou até mesmo uma chuva de merda, lixo
e detritos. O fato é que depois do lago da hidrelétrica do Santo Antônio as
coisas desandaram de vez por aqui. A conta de energia elétrica está pela hora
da morte e a natureza está cada vez mais sendo agredida e por isso se vinga
como pode. Porém, a cidade só não fede mais do que a classe política local, que
ainda insiste em defender o fracassado e inútil governo de Jair Bolsonaro. Sem
ter absolutamente nada de positivo para mostrar no Jornal Nacional, Porto Velho
desponta com um fictício tornado somente para poder aparecer para o restante do
país como vítima de um fenômeno da natureza. A propalada chuva de imundícies
obteve mais atenção do que as mais de 2600 mortes pela Covid-19. Outras chuvas
dessa serão vistas, pois funcionam como cortinas de fumaça para ocultar nosso
atraso e estupidez.
*Foi
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
Professor . porto velho é Rondônia.👌🙌e não Roraima.
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