Redação de
Vinícius Oliveira de Lima - O tema da redação
do Enem 2016 foi "Caminhos para combater a
intolerância religiosa no Brasil”.
Tolerância na prática
A Constituição Federal de 1988 – norma de maior hierarquia no sistema
jurídico brasileiro – assegura a todos a liberdade de crença. Entretanto, os
frequentes casos de intolerância religiosa mostram que os indivíduos ainda não
experimentam esse direito na prática. Com efeito, um diálogo entre sociedade e
Estado sobre os caminhos para combater a intolerância religiosa é medida que se
impõe.
Em primeiro plano, é necessário que a sociedade não seja uma reprodução
da casa colonial, como disserta Gilberto Freyre em “Casa-grande e Senzala”. O
autor ensina que a realidade do Brasil até o século XIX estava compactada no
interior da casa-grande, cuja religião oficial era católica, e as demais
crenças – sobretudo africanas – eram marginalizadas e se mantiveram vivas
porque os negros lhes deram aparência cristã, conhecida hoje por sincretismo
religioso. No entanto, não é razoável que ainda haja uma religião que subjugue
as outras, o que deve, pois, ser repudiado em um Estado laico, a fim de que se
combata a intolerância de crença.
De outra parte, o sociólogo Zygmunt Bauman defende, na obra “Modernidade
Líquida”, que o individualismo é uma das principais características – e o maior
conflito – da pós-modernidade, e, consequentemente, parcela da população tende
a ser incapaz de tolerar diferenças. Esse problema assume contornos específicos
no Brasil, onde, apesar do multiculturalismo, há quem exija do outro a mesma
postura religiosa e seja intolerante àqueles que dela divergem. Nesse sentido,
um caminho possível para combater a rejeição à diversidade de crença é
desconstruir o principal problema da pós-modernidade, segundo Zygmunt Bauman: o
individualismo.
Urge, portanto, que indivíduos e instituições públicas cooperem para
mitigar a intolerância religiosa. Cabe aos cidadãos repudiar a inferiorização
das crenças e dos costumes presentes no território brasileiro, por meio de
debates nas mídias sociais capazes de desconstruir a prevalência de uma
religião sobre as demais. Ao Ministério Público, por sua vez, compete promover
as ações judiciais pertinentes contra atitudes individualistas ofensivas à
diversidade de crença. Assim, observada a ação conjunta entre população e poder
público, alçará o país a verdadeira posição de Estado Democrático de Direito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário