sábado, 14 de dezembro de 2019

O “outro” Jesus Cristo


O “outro” Jesus Cristo

Professor Nazareno*

O filme de comédia “A Primeira Tentação de Cristo” apresentado pela Netflix e o grupo Porta dos Fundos acendeu a fúria de muitos cristãos católicos e principalmente evangélicos. O especial de Natal deste ano mostra um Cristo homossexual e com muitas dúvidas se realmente queria pregar a palavra de Deus. O filme também sugere um triângulo amoroso entre Deus, José e Maria e mostra os apóstolos como devassos e consumidores de drogas. Líderes religiosos e políticos foram à guerra para censurar a ficção e logo encamparam campanhas públicas para boicotar a Netflix e punir os autores/atores da obra. Não sou cristão e também não sigo nenhuma religião, mas provavelmente não verei este filme, pois a única coisa que me interessa sobre Jesus é a sua Filosofia, suas pregações. Não quero saber se ele foi gay ou qualquer outra coisa.
Aliás, o ódio desses “puritanos” sobre o filme é exatamente este. Para a maioria deles, Jesus Cristo não pode ter sido um homossexual, como se esta orientação sexual fosse um castigo a ser evitado. Os homossexuais são seres humanos dotados de muitas qualidades, dentre elas a inteligência, caráter, a boa personalidade e acima de tudo eles são humanos como poucos. Mas em nossa hipócrita sociedade, eles são perseguidos, discriminados, vandalizados, espancados, brutalizados e mortos como se criminosos fossem. Como verdadeiros Cristos, os homossexuais de hoje são vítimas da ignorância e da bestialidade. A literatura nos ensina que pelo menos dez por cento dos indivíduos em cada espécie animal pratica alguma forma de homossexualidade. Qual o problema se Jesus Cristo tivesse sido um homossexual? O que mudaria na sua Filosofia para nós?
Em toda a minha vida eu nunca ouvi falar de uma só namorada de Jesus. Nunca ouvi falar do relacionamento dele com mulher nenhuma. E sempre soube que ele andava rodeado de outros homens. Nas festas, nas pregações, no deserto, na vida cotidiana, não há relatos dele interagindo sexualmente com o outro sexo. É claro que ele pode ter sido sim um homossexual ou até mesmo assexual. Não precisava um filme sugerir que ele era isso ou aquilo. Nada sobre a vida particular dele ou de qualquer outra pessoa devia interessar a nós. A grandeza de Jesus está na sua Filosofia ímpar. Na pregação do amor ao próximo, no perdão aos inimigos, inclusive aos homossexuais e LGBTT’s. Sua vida íntima só a ele interessava. Infelizmente muitos se revoltaram contra o filme só por este fato. Ser homossexual não é crime, não é pecado e devia ser aceito sem problemas.
Em vez de se preocupar com bobagens e filmes, as pessoas deviam se interessar mais pela sua vida cotidiana. Por que há tantas injustiças em nosso país, por exemplo? Por que há tanta pobreza e fome numa nação que é a segunda maior produtora de alimentos do mundo? Por que somente os ricos daqui têm privilégios enquanto os pobres são muitas vezes injustiçados e perseguidos pelo Estado? Por que temos tanta desigualdade social e tanta corrupção? Não me incomodaria o fato de Jesus ter sido gay, mas que tivesse sido a pessoa que foi: dedicada a combater as injustiças dos homens. Dia 25 próximo, vamos celebrar o nascimento de um refugiado pobre que foi perseguido, torturado e morto por pregar igualdade, justiça social e amor. Ter sido homossexual é o de menos. Ainda assim, muitos homossexuais votaram no Bolsonaro, mesmo sabendo da homofobia do “Mito” e de sua ojeriza pelos gays. Estavam errados?




*É Professor em Porto Velho.

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