O “outro” Jesus Cristo
Professor
Nazareno*
O filme de
comédia “A Primeira Tentação de Cristo”
apresentado pela Netflix e o grupo Porta dos Fundos acendeu a fúria de muitos
cristãos católicos e principalmente evangélicos. O especial de Natal deste ano mostra
um Cristo homossexual e com muitas dúvidas se realmente queria pregar a palavra
de Deus. O filme também sugere um triângulo amoroso entre Deus, José e Maria e
mostra os apóstolos como devassos e consumidores de drogas. Líderes religiosos
e políticos foram à guerra para censurar a ficção e logo encamparam campanhas
públicas para boicotar a Netflix e punir os autores/atores da obra. Não sou
cristão e também não sigo nenhuma religião, mas provavelmente não verei este
filme, pois a única coisa que me interessa sobre Jesus é a sua Filosofia, suas
pregações. Não quero saber se ele foi gay ou qualquer outra coisa.
Aliás, o ódio
desses “puritanos” sobre o filme é
exatamente este. Para a maioria deles, Jesus Cristo não pode ter sido um
homossexual, como se esta orientação sexual fosse um castigo a ser evitado. Os
homossexuais são seres humanos dotados de muitas qualidades, dentre elas a
inteligência, caráter, a boa personalidade e acima de tudo eles são humanos
como poucos. Mas em nossa hipócrita sociedade, eles são perseguidos,
discriminados, vandalizados, espancados, brutalizados e mortos como se
criminosos fossem. Como verdadeiros Cristos, os homossexuais de hoje são
vítimas da ignorância e da bestialidade. A literatura nos ensina que pelo menos
dez por cento dos indivíduos em cada espécie animal pratica alguma forma de
homossexualidade. Qual o problema se Jesus Cristo tivesse sido um homossexual?
O que mudaria na sua Filosofia para nós?
Em toda a minha
vida eu nunca ouvi falar de uma só namorada de Jesus. Nunca ouvi falar do
relacionamento dele com mulher nenhuma. E sempre soube que ele andava rodeado
de outros homens. Nas festas, nas pregações, no deserto, na vida cotidiana, não
há relatos dele interagindo sexualmente com o outro sexo. É claro que ele pode
ter sido sim um homossexual ou até mesmo assexual. Não precisava um filme
sugerir que ele era isso ou aquilo. Nada sobre a vida particular dele ou de
qualquer outra pessoa devia interessar a nós. A grandeza de Jesus está na sua
Filosofia ímpar. Na pregação do amor ao próximo, no perdão aos inimigos, inclusive
aos homossexuais e LGBTT’s. Sua vida íntima só a ele interessava. Infelizmente
muitos se revoltaram contra o filme só por este fato. Ser homossexual não é
crime, não é pecado e devia ser aceito sem problemas.
Em vez de se preocupar
com bobagens e filmes, as pessoas deviam se interessar mais pela sua vida
cotidiana. Por que há tantas injustiças em nosso país, por exemplo? Por que há
tanta pobreza e fome numa nação que é a segunda maior produtora de alimentos do
mundo? Por que somente os ricos daqui têm privilégios enquanto os pobres são
muitas vezes injustiçados e perseguidos pelo Estado? Por que temos tanta
desigualdade social e tanta corrupção? Não me incomodaria o fato de Jesus ter
sido gay, mas que tivesse sido a pessoa que foi: dedicada a combater as
injustiças dos homens. Dia 25 próximo, vamos celebrar o nascimento de um
refugiado pobre que foi perseguido, torturado e morto por pregar igualdade,
justiça social e amor. Ter sido homossexual é o de menos. Ainda assim, muitos homossexuais
votaram no Bolsonaro, mesmo sabendo da homofobia do “Mito” e de sua ojeriza pelos gays. Estavam errados?
*É
Professor em Porto Velho.
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