O nosso AI-5 de cada
dia
Professor
Nazareno*
O dia 13 de
dezembro de 1968 entrou em definitivo para a História do Brasil como o dia da
infâmia. O dia da covardia. O dia em que os golpistas militares e civis, que vergonhosamente
solaparam a nossa frágil democracia, “desceram
ainda mais o porrete” no pouco que restava de liberdades. Editava-se o
AI-5. Foram quase dez anos de vigência com governos de exceção e hoje, 51 anos
depois, ainda vivemos sob os resquícios de uma das mais truculentas e
assassinas ditaduras da América Latina. Vergonha: Argentina e Chile já prestaram
devidamente contas com o seu passado de terror, sangue, torturas e opressões.
No final de 2018, no entanto, mais de 57 milhões de eleitores, que não viveram
aqueles tempos, de livre e espontânea vontade jogaram irresponsavelmente o país
de novo na iminência de repetir o triste e sombrio passado.
Muitas das
atuais autoridades de hoje, como o Ministro Paulo Guedes da Economia e o deputado
federal Eduardo Bolsonaro, sem nenhum acanhamento, fazem questão de ameaçar
publicamente os brasileiros e a nossa “ainda”
frágil democracia com a volta do pesadelo. Porém a grande pergunta que se faz é
se realmente, depois de mais de meio século, nos livramos deste monstrengo que
prendeu opositores, fechou o Congresso Nacional, cassou mandatos, confiscou
bens privados, torturou cidadãos, reforçou a censura, perseguiu pais de
família, exilou brasileiros, interveio em Estados, demitiu servidores públicos,
proibiu habeas corpus e deu poderes totais ao presidente de plantão. O atual governo
foi eleito democraticamente, mas muitos de seus integrantes ainda têm mentalidade
golpista e flertam com a volta daqueles “tempos
de chumbo”.
A grande verdade é que nunca nos
livramos do temido Ato Institucional. Todos os dias ele faz questão de aparecer
ali bem na nossa cara. Se gostássemos tanto assim de democracia e de soberania
popular não teríamos colocado no Planalto a turma que hoje ocupa aquele
palácio. Bolsonaro já disse que é a favor da tortura e que a ditadura militar
deveria ter matado pelos menos umas 30 mil pessoas. O nosso AI-5 de hoje continua
sendo o mesmo de 1968 e por vezes até pior. A nossa monstruosa desigualdade
social, a segunda maior do mundo, é um exemplo claro disso. A falta de Educação
de qualidade tendo as piores escolas do planeta, a pobreza sem fim dos mais de
15 milhões de famintos, a falta de saneamento básico, de mobilidade urbana e a absurda
violência nas cidades são prova de que nunca nos livramos da estupidez, do
atraso, da arbitrariedade.
O AI-5 da morte de índios, do
desmatamento sem controle na Amazônia, da pobreza social, da fome, dos
assassinatos no campo, do precário sistema penitenciário com suas mortes nos
presídios, das injustiças e torturas de pobres e dos desassistidos pelo governo.
O AI-5 está presente todos os dias entre nós com a corrupção e o desvio de
dinheiro público sem que os governantes façam nada para amenizar a dolorosa
situação em que se vive. Em Rondônia vivemos o AI-5 do “açougue” João Paulo II, da Energisa e das fracassadas e risíveis
operações da Polícia Civil do Estado. A censura sempre esteve presente, com ou
sem Ato Institucional, quando “Assembleias”
e outras instituições vergonhosamente compram a mídia para calá-la e assim
esconder os escândalos de seus membros. O AI-5 da “Vaza Jato”, da morte de Marielle Franco, das milícias, do Queiroz,
dos filhos do Lula e do Bolsonaro. No Brasil, o AI-5 nunca acaba.
*É Professor em Porto Velho.
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