Seremos monitorados?
Professor
Nazareno*
Já deve ser o sinal dos novos tempos.
Eu o Professor Nazareno começo a desconfiar de que “forças estranhas e reacionárias” estão querendo monitorar os
cidadãos. O “Estimado Líder” ainda
nem tomou posse e parece que a “caça às
bruxas” já está em vigor. Não sei com que razão e objetivo. Também não sei
de onde partem as ordens para espionar jornalistas e professores. Inicialmente
pensei que fosse aquela deputada do PSL eleita recentemente em Santa Catarina,
Ana Caroline Campagnolo, ou até mesmo o ex-ator pornô Alexandre Frota, eleito
deputado federal por São Paulo. Pode ser também algum “amigo” meu, professor de História, que votou no “Mito” e agora se acha no direito de
chafurdar a vida alheia. Ou quem sabe até alguém de Porto Velho mesmo, do meio
jornalístico, que se alimenta do ódio pelo PT e pelas esquerdas.
O problema é que apesar do voto no
Haddad, não somos da esquerda. Na verdade nunca fomos. E nem da direita, do
centro, de baixo, de cima, de fora ou de dentro. Será que é por que nas minhas
aulas lá no colégio João Bento da Costa eu ensino alguns meninos a pensar?
Reconheço que certa vez eu falei para eles: “a cadela do fascismo está no cio, meninos! Por isso, é preciso deter o
avanço desta doutrina em nossa sociedade”.
Pedi-lhes que assistisse ao filme “A
onda” de Christian Becker e também lhes disse que era preciso ler de Karl
Marx a Antonio Gramsci passando por Machado e por Nietzsche. “Leiam todos os autores”. E de qualquer
tendência política ou social. “Isso lhes
fará bem e lhes dará muita leitura de mundo”. Mas tenham muito cuidado a
partir de agora: a besta do fascismo ri à toa e relincha de alegria e
satisfação.
O “Estimado Líder” não é tão perigoso quanto a maioria de seus
seguidores. Ele tem pouca leitura de mundo e só sabe repetir feito papagaio que
a esquerda tem que acabar e que o Comunismo deve ser extinto da face da terra.
Não entende que num mundo globalizado é preciso abrir mercados em detrimento da
questão ideológica. Suas absurdas declarações já têm causado prejuízos
gigantescos para o Brasil antes mesmo de ele tomar posse. Sua desastrada fala
criou problemas com Cuba, Noruega, países árabes, MERCOSUL e China. Parece até
que ele não tem uma boa assessoria para lhe advertir que deve permanecer com a
boca fechada. “Só fale o que sabe, senhor
presidente!”. E como ele quase nada sabe, o silêncio será a sua melhor
política externa. Transferir a embaixada do Brasil de Telavive em Israel para
Jerusalém é algo ridículo e esdrúxulo.
Muitos dos 57 milhões de eleitores
do “Mito” veem nele a oportunidade de
colocar na ordem do dia em nossa frágil sociedade alguns temas já extintos como
repressão, perseguição a “militantes
subversivos”, extinção de direitos adquiridos e supremacia do
conservadorismo. Tomara que não voltem os DOI-CODI e a tortura a
oposicionistas. Os reacionários de plantão não veem também a hora de adotarem a
pena de morte, reduzir a maioridade penal para oito ou 10 anos, extinguir
totalmente os direitos humanos, romper relações diplomáticas com países considerados
de esquerda, censurar toda e qualquer publicação da mídia e controlar a arte,
teatro, cinema e sites da internet. A felicidade de muitos desses eleitores
está em transformar a escola em um lugar vigiado onde só se podem ensinar os
valores da direita. O mundo mudou e quem perdeu o bonde da História corre o
risco de repeti-la. “Mas ela só se repete
como farsa”.
*É
Professor em Porto Velho.
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