Nunca houve
ditadura
Professor
Nazareno*
O Brasil é um
país abençoado por Deus. Disso quase todo mundo sabe. Acredita-se inclusive que
Ele possa até ser brasileiro. Eu mesmo tenho certeza de que, se não nasceu por
aqui, Deus tem um carinho muito grande pelo nosso país. Por isso não se pode
sair dizendo por aí que já houve uma ditadura no Brasil. Muitos professores de
História afirmam de forma muito convicta que entre 1964 e 1985 tivemos apenas
um governo “forte, responsável, pacífico,
ordeiro e baseado no patriotismo”. Várias personalidades dizem que nunca
houve tirania no Brasil. O cantor sertanejo Zezé de Camargo, por exemplo,
disse que tivemos “apenas” um
militarismo vigiado. “As pessoas
confundem ditadura com militarismo”, afirmou. O artista inclusive se
considera um sujeito muito politizado. Muitas outras pessoas também comungam
dessas ideias.
O “Estimado Líder”, que é um sujeito muito
sábio e letrado, tem absoluta certeza de que o Brasil, em momento algum de sua
História, nunca viveu sob uma ditadura. Afirmou isto recentemente para o
primeiro ministro da Hungria e praticamente em todas as suas entrevistas
confirma tal pensamento. Muitos de seus fiéis seguidores também acreditam nesta
conversa. “Em 1964, o que houve no Brasil
foi só uma intervenção patriótica de setores militares para deter o avanço das
ideias esquerdistas”, é no que muitos creem convictamente. O colombiano
Ricardo Vélez Rodríguez, futuro ministro da Educação do Brasil tem a mesma
convicção. “O golpe militar de 1964 no
Brasil é uma data para se lembrar e comemorar”, afirmou. Segundo ele, os nossos
militares prepararam os quadros de oficiais para se inserirem num Brasil
totalmente democrático.
Está errado,
infelizmente, o futuro ministro do “Mito”:
em 1964 não houve golpe também. Aquilo foi um movimento militar, uma espécie de
“Revolução do bem”. E quem viveu aquela
época sabe perfeitamente que nunca existiram essas coisas que andaram falando
por aí. Principalmente durante os últimos 16 anos. Aquele foi o período mais
pacífico e bom que tivemos em nossa sociedade. Os brasileiros viviam felizes e
eufóricos. E quem não se lembra das lindas músicas que todos cantavam? “Eu te amo, meu Brasil” com os Incríveis.
“Obrigado ao homem do campo” da dupla
Dom e Ravel. “Pra frente, Brasil” incendiou
as ruas do país quando ganhamos a Copa do México em 1970. O conceito de
felicidade pode ser confundido, com toda a certeza, com aquelas aquarelas e com
aquela alegria. O povo brasileiro já foi muito feliz um dia.
Engana-se
redondamente também quem diz que houve censura naqueles tempos bons e felizes.
Liberdade era rotina. A mídia anunciava o que bem entendia. O problema é que só
havia coisas boas e felizes para serem noticiadas. O milagre econômico, quando
o Brasil crescia a mais de dez por cento ao ano. A ponte Rio-Niterói, a
Transamazônica, a paz nas cidades, a produção em massa no campo, a vida com
pleno emprego, o Nordeste sem seca, a construção a todo vapor, a felicidade
geral dos nossos habitantes... Torturas? Onde? Quando? Quem? Como? Todos podiam
se expressar sem nenhum medo de represálias. Não há registro de um só oposicionista
brasileiro preso ou exilado. Não havia quase oposição na época. E até se
compreende o porquê: ninguém queria reclamar ou se opor ao que estava dando tão
certo. Só não se entende por que em 1985, com tanto progresso e muita
aceitação popular, os militares deixaram o poder.
*É
Professor em Porto Velho.
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