domingo, 25 de novembro de 2018

Nunca houve ditadura


Nunca houve ditadura


Professor Nazareno*


O Brasil é um país abençoado por Deus. Disso quase todo mundo sabe. Acredita-se inclusive que Ele possa até ser brasileiro. Eu mesmo tenho certeza de que, se não nasceu por aqui, Deus tem um carinho muito grande pelo nosso país. Por isso não se pode sair dizendo por aí que já houve uma ditadura no Brasil. Muitos professores de História afirmam de forma muito convicta que entre 1964 e 1985 tivemos apenas um governo “forte, responsável, pacífico, ordeiro e baseado no patriotismo”. Várias personalidades dizem que nunca houve tirania no Brasil. O cantor sertanejo Zezé de Camargo, por exemplo, disse que tivemos “apenas” um militarismo vigiado. “As pessoas confundem ditadura com militarismo”, afirmou. O artista inclusive se considera um sujeito muito politizado. Muitas outras pessoas também comungam dessas ideias.
O “Estimado Líder”, que é um sujeito muito sábio e letrado, tem absoluta certeza de que o Brasil, em momento algum de sua História, nunca viveu sob uma ditadura. Afirmou isto recentemente para o primeiro ministro da Hungria e praticamente em todas as suas entrevistas confirma tal pensamento. Muitos de seus fiéis seguidores também acreditam nesta conversa. “Em 1964, o que houve no Brasil foi só uma intervenção patriótica de setores militares para deter o avanço das ideias esquerdistas”, é no que muitos creem convictamente. O colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, futuro ministro da Educação do Brasil tem a mesma convicção. “O golpe militar de 1964 no Brasil é uma data para se lembrar e comemorar”, afirmou. Segundo ele, os nossos militares prepararam os quadros de oficiais para se inserirem num Brasil totalmente democrático.
Está errado, infelizmente, o futuro ministro do “Mito”: em 1964 não houve golpe também. Aquilo foi um movimento militar, uma espécie de “Revolução do bem”. E quem viveu aquela época sabe perfeitamente que nunca existiram essas coisas que andaram falando por aí. Principalmente durante os últimos 16 anos. Aquele foi o período mais pacífico e bom que tivemos em nossa sociedade. Os brasileiros viviam felizes e eufóricos. E quem não se lembra das lindas músicas que todos cantavam? “Eu te amo, meu Brasil” com os Incríveis. “Obrigado ao homem do campo” da dupla Dom e Ravel. “Pra frente, Brasil” incendiou as ruas do país quando ganhamos a Copa do México em 1970. O conceito de felicidade pode ser confundido, com toda a certeza, com aquelas aquarelas e com aquela alegria. O povo brasileiro já foi muito feliz um dia.
Engana-se redondamente também quem diz que houve censura naqueles tempos bons e felizes. Liberdade era rotina. A mídia anunciava o que bem entendia. O problema é que só havia coisas boas e felizes para serem noticiadas. O milagre econômico, quando o Brasil crescia a mais de dez por cento ao ano. A ponte Rio-Niterói, a Transamazônica, a paz nas cidades, a produção em massa no campo, a vida com pleno emprego, o Nordeste sem seca, a construção a todo vapor, a felicidade geral dos nossos habitantes... Torturas? Onde? Quando? Quem? Como? Todos podiam se expressar sem nenhum medo de represálias. Não há registro de um só oposicionista brasileiro preso ou exilado. Não havia quase oposição na época. E até se compreende o porquê: ninguém queria reclamar ou se opor ao que estava dando tão certo. Só não se entende por que em 1985, com tanto progresso e muita aceitação popular, os militares deixaram o poder.





*É Professor em Porto Velho.

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