O “Estimado Líder” enrolado
Professor
Nazareno*
Apenas três dias. Isso mesmo: três
dias após ter sido eleito com a avassaladora onda de mais de 57 milhões de
votos, o senhor Jair Bolsonaro o “Estimado
Líder” para a maioria de seus eleitores, já teve de recuar várias vezes na
composição do seu futuro ministério. Parece que a “coisa” não é bem como ele e os seus radicais seguidores prometiam
durante a campanha eleitoral. Ninguém governa um país complexo como o Brasil “de qualquer maneira e como bem entender”,
ou seja, “a cu de cavalo”. Bolsonaro,
que não tem uma boa leitura de mundo devido ao seu pouco estudo, vai ter que
analisar detalhadamente todas as situações. A princípio achou que poderia
normalmente ignorar o “establishment”
e ditar as suas vontades. Ledo engano. Não conseguiu sequer fundir meio
ambiente com agricultura por pressão da União Europeia.
A desastrada fusão desses dois
ministérios, que daria indiretamente plenos poderes para o desmatamento e para
o aumento das agressões ao ecossistema brasileiro, foi prontamente interrompida
pelo alerta da bancada ruralista. Com a globalização, o mundo hoje está
conectado a tudo. Nada passa despercebido. Com mais desmatamentos para a
expansão da agropecuária, os europeus boicotariam de imediato toda e qualquer
pretensão do novo presidente. Um grão sequer não seria comprado a mais do
Brasil se isso acontecesse. O “Mito”
está de mãos atadas. Precisa entender a complexa conjuntura política
internacional senão pode colocar o nosso país em maus lençóis lá fora. Erro: muitos
eleitores toscos e desinformados votaram no Bolsonaro achando que o mesmo teria
plenos poderes para mandar e desmandar no país da forma que bem entendesse.
Se as eleições fossem hoje, duvido
que o “Estimado Líder” tivesse a mesma
quantidade de votos. Poderia, por incrível que pareça, já perder as eleições
que acabou de ganhar. Já há muita gente insatisfeita com suas escolhas para a
futura assessoria. A indicação do “político”
Sérgio Moro para o Ministério da Justiça pode ter sido “um tiro no pé” e não uma grande cartada aplaudida pelos anseios
populares. Com isso, a Operação Lava Jato praticamente se acaba. Não há um juiz
da envergadura do Moro para conduzir os trabalhos em Curitiba. Isso sem falar
no fato de que a sua aceitação para ser futuro ministro deu razões de sobra aos
petistas: “Moro foi parcial quando
prendeu Lula só para eleger o Bolsonaro e por isso já foi devidamente
recompensado”. A sua ida para o ministério
coloca o Judiciário a nu e lança suspeitas sobre a Lava Jato.
Sérgio Moro agiu
bem diferente do advogado Sobral Pinto, por exemplo, que na década de 1950
criou a Liga de Defesa da Legalidade para apoiar a candidatura de Juscelino
Kubistchek à Presidência, mas recusou o convite do novo presidente para ser seu
ministro. Sérgio Moro deixa a Lava Jato “órfã
de pai e mãe” por causa da ambição de ser futuro ministro do Supremo
Tribunal Federal a partir de 2020 na vaga de Celso de Mello. Se não for
indicado por Bolsonaro, ainda assim o magistrado paranaense, que é muito
popular, pode concorrer à Presidência em 2022. Se ainda vão prender corruptos
em Curitiba é algo que “temos de pagar
para ver”. Bolsonaro já ameaçou um jornal e muitos de seus seguidores não
veem a hora de começar a abater “pretos e
pobres” que portarem fuzis. Ele já criticou o Enem e incentiva perseguição
a professores. Até árabes, chineses, Brics e Mercosul já estão “putos”. Se não mudar, o “Mito” estará encrencado.
*É
Professor em Porto Velho.
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