domingo, 11 de novembro de 2018

O “Estimado Líder” enrolado


O “Estimado Líder” enrolado


Professor Nazareno*

            Apenas três dias. Isso mesmo: três dias após ter sido eleito com a avassaladora onda de mais de 57 milhões de votos, o senhor Jair Bolsonaro o “Estimado Líder” para a maioria de seus eleitores, já teve de recuar várias vezes na composição do seu futuro ministério. Parece que a “coisa” não é bem como ele e os seus radicais seguidores prometiam durante a campanha eleitoral. Ninguém governa um país complexo como o Brasil “de qualquer maneira e como bem entender”, ou seja, “a cu de cavalo”. Bolsonaro, que não tem uma boa leitura de mundo devido ao seu pouco estudo, vai ter que analisar detalhadamente todas as situações. A princípio achou que poderia normalmente ignorar o “establishment” e ditar as suas vontades. Ledo engano. Não conseguiu sequer fundir meio ambiente com agricultura por pressão da União Europeia.
            A desastrada fusão desses dois ministérios, que daria indiretamente plenos poderes para o desmatamento e para o aumento das agressões ao ecossistema brasileiro, foi prontamente interrompida pelo alerta da bancada ruralista. Com a globalização, o mundo hoje está conectado a tudo. Nada passa despercebido. Com mais desmatamentos para a expansão da agropecuária, os europeus boicotariam de imediato toda e qualquer pretensão do novo presidente. Um grão sequer não seria comprado a mais do Brasil se isso acontecesse. O “Mito” está de mãos atadas. Precisa entender a complexa conjuntura política internacional senão pode colocar o nosso país em maus lençóis lá fora. Erro: muitos eleitores toscos e desinformados votaram no Bolsonaro achando que o mesmo teria plenos poderes para mandar e desmandar no país da forma que bem entendesse.
            Se as eleições fossem hoje, duvido que o “Estimado Líder” tivesse a mesma quantidade de votos. Poderia, por incrível que pareça, já perder as eleições que acabou de ganhar. Já há muita gente insatisfeita com suas escolhas para a futura assessoria. A indicação do “político” Sérgio Moro para o Ministério da Justiça pode ter sido “um tiro no pé” e não uma grande cartada aplaudida pelos anseios populares. Com isso, a Operação Lava Jato praticamente se acaba. Não há um juiz da envergadura do Moro para conduzir os trabalhos em Curitiba. Isso sem falar no fato de que a sua aceitação para ser futuro ministro deu razões de sobra aos petistas: “Moro foi parcial quando prendeu Lula só para eleger o Bolsonaro e por isso já foi devidamente recompensado”.  A sua ida para o ministério coloca o Judiciário a nu e lança suspeitas sobre a Lava Jato.
Sérgio Moro agiu bem diferente do advogado Sobral Pinto, por exemplo, que na década de 1950 criou a Liga de Defesa da Legalidade para apoiar a candidatura de Juscelino Kubistchek à Presidência, mas recusou o convite do novo presidente para ser seu ministro. Sérgio Moro deixa a Lava Jato “órfã de pai e mãe” por causa da ambição de ser futuro ministro do Supremo Tribunal Federal a partir de 2020 na vaga de Celso de Mello. Se não for indicado por Bolsonaro, ainda assim o magistrado paranaense, que é muito popular, pode concorrer à Presidência em 2022. Se ainda vão prender corruptos em Curitiba é algo que “temos de pagar para ver”. Bolsonaro já ameaçou um jornal e muitos de seus seguidores não veem a hora de começar a abater “pretos e pobres” que portarem fuzis. Ele já criticou o Enem e incentiva perseguição a professores. Até árabes, chineses, Brics e Mercosul já estão “putos”. Se não mudar, o “Mito” estará encrencado.




*É Professor em Porto Velho.



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