JBC: parem a
reforma!
Professor
Nazareno*
Num país onde os
prédios públicos de um modo geral estão literalmente caindo aos pedaços soa até
irônico dizer que as reformas nos mesmos não são bem-vindas. E às vezes não
são: estou falando da Escola Professor João Bento da Costa de Porto Velho. Em
relação aos resultados obtidos no ENEM, esta escola pública da zona Sul de
Porto Velho dispensa quaisquer comentários. É líder absoluta em aprovações de
alunos em várias universidades e faculdades espalhadas pelo país. Isso já há
quase duas décadas. Apesar de ser bancada com recursos do Estado, a escola JBC
pode ser comparada em alguns aspectos às melhores escolas particulares de
Rondônia. Desde 1998 que trabalho lá e junto com outros dois professores,
Arimateia de Geografia e Tadeu de História, ajudei a fundar o Projeto
Terceirão, que tantos resultados tem dado aos rondonienses.
Desde o já longínquo ano de 2002 sob
a direção do competente professor Suamy Vivecananda que o JBC tem feito
propaganda gratuita para os sucessivos governos de Rondônia. Entra ano e sai
ano e os alunos desta escola “honram com
muita garra e determinação o nome do colégio”. Mas o João Bento da Costa está hoje quase parado, sem aulas mesmo.
E o motivo não é a greve da educação que está acontecendo em Rondônia. Desde o
final do ano letivo de 2017, a escola foi tomada por serventes, pedreiros,
mestres de obras, carpinteiros além de cimento, brita, areia e outros materiais
de construção. Incrível e surreal: “a
obra para reformar a escola simplesmente parou a escola” e não tem data
para terminar. Aulas, por enquanto, só para o Projeto Terceirão. Como se fosse
possível ter aulas em meio a barulho de marteladas, serras, areia e poeira.
Os alunos dos
primeiros e segundos anos dos três turnos e também do EJA estão sem aula e têm
uma vaga esperança de que pelo menos no final de março, com quase dois meses de
atraso, finalmente se inicie o ano letivo de 2018. O prejuízo já está desenhado
uma vez que aulas de reposição aos sábados são tão produtivas quanto o solo
lunar. “Toda reforma é bem vinda, mas sem
planejamento e organização, como está acontecendo agora no João Bento, é melhor
que a escola nunca seja reformada”, afirmou um professor, que mesmo sem
participar da greve dos educadores, está em casa esperando a boa vontade de a
firma concluir os trabalhos naquele estabelecimento de ensino. Muitos professores
da escola são unânimes em afirmar que concordam, mas não participam de nenhuma
greve da categoria, porém “a reforma nos
obrigou a parar”.
O diretor
Chiquinho esteve recentemente nos EUA representando a escola. E é muito pouco
provável que ele não tenha visitado uma escola de verdade naquele país por que
o estabelecimento estava em reformas. Aqui infelizmente a educação não é muito
levada a sério pelo poder público. Reforma numa escola em pleno andamento do
ano letivo é de tamanha incompetência que talvez só se verifique em Rondônia
mesmo. Já pensou se o governo resolve reformar o “açougue” João Paulo Segundo com os pacientes lá dentro? Não se
duvida de nada, pois até dedetização já houve em meio aos doentes. Os
professores do JBC não fazem greve
e todos os anos ajudam na aprovação de centenas de alunos para as universidades
e por isso não mereciam trabalhar num ambiente completamente insalubre. Pior: a
comunidade da zona Sul parece ignorar o lamentável fato. Isso até o dia em que
um acidente acontecer com alguém naquele caos.
*É
Professor em Porto Velho.
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