Um candidato
diferente
Professor
Nazareno*
De início eu não
queria. Fazia até jogo duro para não concorrer, tinha medo e muita vergonha, mas
depois de muitas insistências, resolvi me candidatar para presidir o Brasil
pelos próximos quatro anos e se tudo der certo também pelos próximos oito. Não
sou filiado a nenhum partido político por que entendo que não precisa desta
burocracia idiota. Sou independente, óbvio, e represento o povo mais sofrido
(já ouvi isso). É uma decisão acertada tendo em vista a minha capacidade para
resolver problemas. Votem em mim! Vocês jamais se arrependerão deste grande ato
cívico. Prometo de cara criar para todos os funcionários públicos deste país o
auxílio-moradia, residam eles ou não em seus locais de trabalho. Vou acabar com
todos os programas sociais e aposentadorias e colocar o povo para trabalhar, já
que dizem que o brasileiro é muito trabalhador.
Acabarei também
com o décimo terceiro, um terço de férias e qualquer outro tipo de licença. E
justifico: os escravos ergueram com o seu trabalho e o seu suor um país inteiro
sem precisar de nenhuma destas regalias. E receber salário sem trabalhar é um
absurdo. Mandarei evangelizar todos os índios que ainda restam em território
nacional. Teremos índios dizimistas de agora em diante. Claro, como já falei
antes, mandarei trocar a Constituição pela Bíblia e o Estado brasileiro não
será mais laico. Intervenção Federal haverá em qualquer um dos Estados da
federação. Deu prejuízos, prevaricou, roubou ou gastou mais do que arrecadou
será motivo para que o governador seja expulso do cargo e o seu respectivo
Estado seja extinto. No caso de Rondônia e do Acre, que deviam ter permanecido
como territórios, serão os dois devolvidos à Bolívia.
Todo o meu staff
será de fora. Até alguns ministros terão que ter nascido em países civilizados
e desenvolvidos como Alemanha, Japão, França ou Estados Unidos. O cerimonial do
Planalto, dos Estados e dos municípios só terá funcionário concursado e que
demonstrem na prática muita competência para o cargo que ocupam. Todos terão
que puxar-saco dos seus respectivos chefes, claro. Além de seguir o pensamento
de cada um deles. Nas escolas haverá uma revolução: todos os professores
esquerdistas serão sumariamente demitidos. Voltarão as disciplinas de Educação
Moral e Cívica e de O.S.P.B e o Hino Nacional será entoado umas cinco vezes por
dia para evitar que a nossa bandeira seja vermelha. Os livros didáticos só
serão distribuídos após uma minuciosa revisão feita por uma esquipe criada para
este fim. E nada de turno integral.
Calma, não se
estressem! Carnaval, durante a minha administração, haverá sim. Só que os donos
de bandas e dos blocos distribuirão com antecedência sacos para a coleta de
lixo. Nada de pagar hora extra para se organizar o que nem todos sujaram. Os
responsáveis pela imundície pagarão para limpar as ruas. Na verdade, haverá
locais específicos para esses desfiles. Nada de usar espaço público com este
fim. Comigo na Presidência o futebol será outro. Seleção do Brasil que não
ganhar a Copa será punida. E como castigo maior, os jogadores perdedores terão
que morar pelo menos um mês em Porto Velho, capital de Roraima. Assim, saberão
o que é viver no fim do mundo. Antes da Copa, uma preleção até que ajudaria um
pouco: Cuidado, “Porto Velho lhes aguarda
em caso de vergonha extrema”! Comigo na Presidência não tem moleza. Saiam todos
às ruas e façam campanha para mim. Por que eu mesmo jamais terei coragem de
fazer isto.
*É
Professor em Porto Velho.
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