Carnaval:
lixo e alienação
Professor
Nazareno*
Se levarmos ao
pé da letra, o Carnaval de Porto Velho simplesmente não existe. E não é por se
tratar apenas de uma imitação muito mal feita dos carnavais de verdade lá de
fora. Muita gente diz que a Banda do Vai Quem Quer é a expressão máxima da
folia local. Ora, em primeiro lugar banda é uma reunião de músicos formada com
o intuito de tocar arranjos musicais. Coisa que a “Banda do Manelão” não faz nem nunca fez, pois ali quase ninguém
entende de música. Pelo menos a verdadeira música. Depois, a fuzarca com a
mundiça se reúne no sábado à tarde quando oficialmente ainda nem começaram as
folias de Momo. Carnaval se brinca no domingo, na segunda e na terça-feira. Porém,
todos naquele ambiente promíscuo e violento fazem de conta que estão brincando
o verdadeiro Carnaval e contribuindo com a cultura da terra de Rondon.
Onde está
escrito que cultura é beber cachaça ruim, distribuir preservativos, usar
fantasias ridículas e pular feito doido no meio da rua? Fechar o comércio,
urinar em frente às residências, arranjar confusão e produzir toneladas de lixo
também não são coisas republicanas que possam ser confundidas com cultura muito
menos com entretenimento. Porto Velho não tem cultura esta é a verdade. Aqui,
sem nenhum sucesso se tentam copiar todas as manifestações, culturais ou não,
que acontecem em lugares mais civilizados. Do Boi de Parintins ao São João de
Campina Grande, o que se observa é uma tentativa vã e inútil de mostrar que o “Estado Karipuna” é um caldeirão
fervilhante de culturas. Uma das únicas coisas que a tal banda produziu, por
exemplo, foram toneladas de lixo e imundícies nas ruas por onde a orgia
pateticamente desfilou.
Nem Porto Velho
nem Rondônia têm nada a ensinar a ninguém em termos de cultura nem de outra
atividade qualquer. Durante o Natal e o Ano Novo muitas pessoas que podem saem
daqui para gastar seu dinheiro em outras terras. No Carnaval é a mesma coisa.
Perder tempo para ver imitação grotesca de folia mal feita decididamente não é
programa para ninguém de bom senso. Pior: dizem que mais outra vez o desfile
das “escolas de samba” da capital foi
adiado. Já não chega de tanta bizarrice e empulhação com os pobres moradores
daqui? Isso sem falar num tal de Arraial Flor do Maracujá que deve ser
realizado lá pelos meados do ano. Com Copa do Mundo e outras festas bisonhas e
terríveis, o cardápio do porto-velhense estará farto em 2018. Às vezes questiono:
o que foi que fizemos de tão ruim para merecer tantas desgraças o ano todo?
Decididamente
viver em Porto Velho, a eterna capital de Roraima, não é fácil. A desgraça que
é a cidade impossibilita qualquer ser humano viver decentemente. Nada por aqui
dá tranquilidade aos seus infortunados moradores. Sem porto, sem água tratada,
sem esgotos, sem nada. Agora mesmo, para se ter uma ideia, é lama em abundância
e alagações na ruas. No verão, a poeira sufocante nos aguarda. Ruas
intrafegáveis, lama podre e sujeira por toda parte é a rotina maldita que se vê
no dia a dia. Se o Carnaval aqui fosse bem organizado até que abrandava um
pouco nosso sofrimento. As autoridades nunca se importaram com o povo daqui,
que lhes adora e todo ano de eleição vota nos mesmos candidatos. Mas todos parecem
felizes. São como hiena, que come carne podre e não para de rir e muitos ainda
dizem estar satisfeitos. Carnaval, Copa do Mundo e depois eleições para eleger
os mesmos. Folia de alienação!
*É
Professor em Porto Velho.
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