“Somos
destemidos idiotas”
Professor
Nazareno*
Um hino, praticamente
qualquer hino, é uma das coisas mais mentirosas do mundo. Ufanistas, otimistas
em excesso, visionárias, mentirosas e muitas vezes até fascistas, estas músicas
de gosto duvidoso, que representam lugares, nem deviam existir como símbolo
maior de uma nação. O hino nacional do Brasil, que é um dos mais feios do
mundo, é um atentado ao bom senso. Ele chama os acomodados, preguiçosos, malandros
e indolentes brasileiros de povo heroico e depois insiste na mentira: brava
gente! Quem acreditaria que um filho desta terra não fugiria à luta e, por amor
à pátria, não temeria a própria morte? Frouxos e covardes como são a maioria
dos filhos desta terra, amor aqui só por dinheiro. Defender o país? A primeira
coisa que se faz por estas bandas é fugir para o exterior. Joesley Batista que
o diga no recente episódio do JBS.
Já o hino “Céus de Rondônia” é outra lorota sem
sentido. Feio, desafinado e longe de ser uma bela peça musical, a melodia que
representa os rondonienses se esmera na mentira e na enrolação. Em momento
algum afirma que os céus daqui estão encobertos pela criminosa fumaça das
queimadas. Em vez de azul é cinza chumbo cheio de poluição e partículas
tóxicas. Ao ouvi-lo, pode-se sentir uma angústia e um desejo de se suicidar. Um
amigo meu, disse-me certa vez que ao ouvir estas desafinadas notas, ele sentia
desejos e sensações homicidas. Outro amigo, o poeta e professor Carlos Moreira
redefiniu a sua letra e, mesmo com a música ainda feia, ficou melhor de se
entendê-lo. A mentira começa dizendo que somos destemidos pioneiros. Pioneiros
são os nativos Karitianas, Karipunas, Uru-Eu-Wau-Wau, Pacaás Novos, Araras,
Suruís e Gaviões.
Pioneiros que
devastaram as florestas e exterminaram os silvícolas sem dó nem piedade em nome
de uma agropecuária agressora ao meio ambiente? Pior: destemidos em quê? Só se
for para votar em político ladrão. É fato que os rondonienses sejam um povo
honesto e probo. Mas por que vota e elege tanto político corrupto? Um hino para
representar essa gente tinha que enaltecer o comodismo e a característica desse
povo de entregar “de mão beijada” suas
riquezas para os outros. Foi assim com as hidrelétricas, o rio Madeira, a
floresta e tantas outras riquezas naturais. Os rondonienses não sabem ou não
querem se administrar. Nunca tiveram um governador aqui nascido e nem um
prefeito de sua suja e imunda capital. Todos são de fora e muitos endeusados. O
político rondoniense mais amado e venerado por estas bandas é um gaúcho: o
Teixeirão. Pode?
Um hino de
verdade devia falar sobre isto. É muito estranho os “destemidos pioneiros” rejeitarem suas próprias crias. Os grandes
filhos da terra sequer são lembrados. Quem daqui já ouviu, por exemplo, falar
do diplomata Maurício Bustani ou do grande, conhecidíssimo e internacional
executivo Carlos Ghosn? Um hino realista deveria explicar por que em todas as
férias os habitantes daqui “montam no
porco” e enchem as praias do Nordeste. Ou então mostrar o porquê do
porto-velhense comum morar numa cidade tão suja e fedida e ainda achar que está
na Suíça. Como é possível admitir a carniça e a imundície, mas não querer que
ninguém fale sobre isso? O pior é a cidade estar agora sem um vice-prefeito e
ninguém pressionar a inútil Câmara de Vereadores para investigar esse
gravíssimo fato. Todo hino mente, mas é venerado pelos incautos e idiotas. Por
que não fazem de uma toada ou de um funk o nosso hino?
É Professor em Porto Velho.
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