Dia das Mães para quê?
Professor
Nazareno*
Se não
existisse o Dia das Mães, a imbecilidade humana não seria tão perfeita como é.
Pior do que os porcos e as amebas, o homem cria estas tolices só para enganar
otários e simplórios com o objetivo nada nobre de faturar cada vez mais grana à
custa da estupidez alheia. É duro ver não só a cretinice de uma data tão
estúpida e sem sentido como esta, mas também observar a adoração aos muitos
outros dias criados sob medida para preencher o vazio de ideias da maioria dos
incautos cidadãos que parecem viajar num mundo de fantasias e totalmente
alheios à dura realidade em que vivem. A celebração de mais uma insensatez,
criada com o único fim de turbinar as vendas no comércio demonstra a capacidade
única do “bicho homem” em usar descaradamente o sentimento alheio
disfarçado de penúria e lamentações apenas para benefício próprio.
Mãe não
tem dia nem hora. Todo dia, toda hora, todo instante deviam ser dedicados a
ela. O mundo inteiro, durante o ano inteiro, comemora esta excrescência absurda
sem o menor acanhamento. Existe dia da mãe em janeiro, em fevereiro, março,
abril e até em dezembro. Depende da ocasião e do humor do comércio e dos
homens. Usa-se a mãe a bel prazer em qualquer parte do mundo e em quase todas
as culturas só para se ganhar dinheiro. Mesmo nas sociedades mais civilizadas e
mais organizadas do que a nossa não se dispensa a comemoração deste fatídico
dia. A ganância sempre fica acima do amor e da coerência. Se fosse somente o
dia das genitoras, tudo bem. Aqui há dia para tudo o que é gosto e em muitos
deles, pasmem, é feriado. Dia da sogra, dos pais, dos namorados, do estudante,
do evangélico, do trabalhador, do professor.
Um
absurdo ter dia do professor num país que não valoriza este profissional. Nem o
professor e muito menos a educação, já que estas palavras são desconhecidas
para a maioria dos brasileiros. Para ter uma religião também se ganha um dia de
descanso como se não bastassem os muitos feriados dedicados à religião católica
como a Páscoa, o Natal e o Corpus Christi. E mesmo depois do genocídio
sistemático em 500 anos, criou-se no Brasil o dia do índio. Ainda bem que já
disseram que “todo dia é dia de índio”. Mas as bizarrices não param por
aí. Temos o dia da saudade, da mulher, do sogro, do consumidor, das crianças,
do irmão, do frete grátis, da pizza, do futebol, do amigo, da avó, do solteiro,
do sexo e, claro, dia do orgasmo. Que presente deve-se dar, por exemplo, no dia
do sexo? E no do orgasmo, deve-se ser presenteado com o quê?
Embora o
senso comum afirme unanimemente que toda mãe é boa, conheço uma que teve três
filhos e os abandonou à própria sorte. Um deles, numa lata de lixo e os outros
dois, doou-os a pessoas estranhas e nunca mais os viu. Existem mães que são
verdadeiras cobras, com todo o respeito às serpentes, claro. Mães deste tipo
têm direito a este dia? Mãe de político, por exemplo, tem também direito de
receber presentes? Um ventre que coloca no mundo tais criaturas merece
homenagens em um dia especial? Talvez, sim, pois não há castigo maior do que
passar nove meses com uma desgraça como um político brasileiro dentro de si.
Fora de nós eles fazem o que fazem, imagine-se se estivessem dentro do nosso
corpo. A EFMM é a mãe de Rondônia, é o que se diz. Mas por que os rondonienses
a abandonaram no meio do matagal? Ela é tão sem importância assim? Já que nem
toda mãe merece elogios, esse dia nem deveria existir.
*É
Professor em Porto Velho.
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