Idiotice nos
estádios
Professor
Nazareno*
Se Deus é o ópio
do povo, o futebol é o ópio do brasileiro. O “Framengo” foi campeão de novo, mano! O “Curintia” ganhou mais um campeonato paulista. Não tem pra ninguém,
nós mandamos no futebol. Nós somos os melhores. Nós somos a elite. As redes
sociais não falam de outra coisa. A mídia não fala de outra coisa. Quase toda a
população não fala de outra coisa. A felicidade reina absoluta no país inteiro.
A falsa alegria pega carona em todos os estados e estádios. Triste do país em
que o grito de gol ecoa mais forte do que uma injustiça. Triste do país em que
uma escola de samba, uma banda ou bloco de Carnaval tem mais poder do que a pífia
participação política. No injusto Brasil, os explorados escancaram seus poucos
dentes para endeusar meia dúzia de ricos esportistas. No pobre Brasil, os
pobres têm o seu único dia de alforria.
Professores,
muitos professores com seus mestrados e doutorados juntam-se aos seus também
desinformados e despolitizados alunos para enaltecer as peripécias de seu time
de coração. “Hoje não tem aula, meninos!”.
O “Framengo” ganha invicto o
campeonato lá no distante Rio de Janeiro. A aula de hoje é sobre a importância
que tem para o Estado de Rondônia o futebol dos cariocas. A aula de hoje é
sobre a conquista do “Curintia”, o
melhor time de São Paulo. Médicos também não vão trabalhar hoje. O Atlético de
Belo Horizonte ganhou do Cruzeiro e se sagrou campeão mineiro. Você está com
dor onde, meu pobre paciente? Então não viu o gol do Robinho? Gaúchos tristes e
vestidos de vermelho não conseguem esconder a tristeza. “Já ouvi falar, sim, deste tal de Novo Hamburgo”, mas é um time sem
expressão, tchê! Quantos pênaltis perdidos.
Hoje está
proibido falar de política em todo o país. Hoje o presidente da República, o
senhor Michel Temer, é apenas um simples torcedor. O Congresso Nacional não
terá expediente. Seus deputados federais e senadores estão comemorando com suas
bases as conquistas regionais do futebol. Até o sisudo STF não vai soltar hoje
nenhum dos presos da Lava Jato em homenagem às conquistas dentro das quatro
linhas. “Se em fevereiro paramos em nome
da folia de Momo, é justo que em maio paremos também em nome do nosso maior
esporte, é o mantra que se ouve”. Operação da Polícia Federal para que? No
país do roubo, hoje quase ninguém rouba. No país da tristeza coletiva, hoje só
há alegria e descontração. Muitos brasileiros, vestidos a caráter com a camisa
de seu time de coração, fazem questão de, na fila de emprego, falar só de gols.
Ninguém ouviu
falar de Emmanuel Macron muito menos de Donald Trump ou de Kin Jong-un. O mundo
agora é rubro-negro. A Alemanha é o Mineirão. A França é o Maracanã e a Coreia
do Norte é a Arena Corinthians. Os Estados Unidos são cada um dos torcedores
deste país tupiniquim. O planeta é “um
bando de loucos”, só isso. E se o Brasil é o mundo, agora vamos devolver
aqueles malditos 7 X 1. Já estamos na Rússia e isso é o que importa. Em “rondonha” nem vimos o Genus perder em
casa para um tal de VEC. O brasileiro
senso comum é um idiota e o rondoniense o imita direitinho. A estupidez que
brota dos estádios e das passarelas alimenta a alienação nacional. Na “rondonha” os bares da periferia fazem a
festa dos incautos beiradeiros. Passados o Carnaval e uma parte do futebol,
agora todos se preparam para as festas juninas e o Arraial Flor do Maracujá como
se a realidade nunca tivesse existido. É GOOOLLLLL!
*É Professor em Porto Velho.
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