Um
choque DIGESTÃO
Professor
Nazareno*
Em 2012 estive na Escandinávia e
visitei uma cidade “pra lá” de surreal na Noruega. Trata-se de Bergen,
situada na costa oeste do país entre os gelados fiordes do Atlântico Norte. Com
cerca de 500 mil habitantes, é um daqueles lugares ermos e sem sentido que
jamais pensaríamos que pudesse existir. Mas existe. Só que é uma espécie de cu
do mundo, sem eira nem beira. Apesar da prosperidade daquele país escandinavo, em
Bergen não tem qualidade de vida e seus moradores não têm do que se orgulhar. A
cidade é uma desgraça só. No rápido verão, a poeira das ruas tortas e sem
asfalto toma conta dos pulmões das pessoas. A fumaça das queimadas é um
tormento naquela região pobre e inóspita. No inverno é só lama e podridão. Bergen
terá eleições este ano assim como toda a Noruega. O problema até agora é o
baixíssimo nível dos candidatos.
Infelizmente todos os políticos que
querem ser prefeito dali não apresentam a menor condição para administrar a
cidade escandinava e nenhuma outra cidade também. As promessas características
e mentirosas já começaram. Os tolos e simplórios eleitores “berguenses”
acreditam em todo tipo de papo furado alheio. Um dos candidatos, por exemplo,
prometeu um choque DIGESTÃO para arrumar a cidade. Isso talvez pelo fato de o
município ser uma merda. Ou então é por que quando ganhar, ele vai
espalhar toneladas de fezes por todos os cantos da imunda
municipalidade. Já outros dizem que é por que os habitantes locais há tempos
esperam ansiosamente por uma chuva de bosta e o esperto candidato
estaria só antecipando os fatos. Ironia: um dos pratos favoritos ali é um peixe
que se alimenta de excremento humano. Já os outros candidatos são
hilários.
Há alguns deles que já puxaram até
cadeia, mas mesmo assim gozam de muita popularidade entre os estúpidos
eleitores. Acusados de corrupção, incompetência, desmandos e desvios de
dinheiro público chegaram até a trocar de nome e mudar a aparência só para
enganar a tosca opinião pública local. Na Noruega a corrupção é tão grande que
já faz parte da cultura do país. Até membros da mais alta corte da nação são
acusados de ilicitudes. O sistema político norueguês é viciado e cheio de
falhas, por isso em Bergen tudo é encarado com a maior naturalidade do mundo.
Candidatos compram votos e eleitores vendem votos na maior cara de pau.
Financiamento de campanha na cidade, e em todo aquele país escandinavo, sempre
foi a “casa da mãe Joana”. Todo mundo sabe quem dá e quem empresta grana
para o pleito, mas ninguém se incomoda.
Por ser o “furico do mundo”, a
capital do oeste norueguês não tem atração turística nenhuma. Há, no entanto, inúmeras
obras inacabadas espalhadas pela cidade como que atestando a incompetência dos
homens públicos locais. Porém, em tempos de eleições como agora, muitas dessas
obras estão sendo tocadas “a toque de caixa” para dar a impressão de que
na cidade as autoridades trabalham em benefício da população. Muitos
noruegueses sequer sabem da existência desta cidade tão distante dos grandes
centros do país. Morar em Bergen é como se fazer um estágio para o inferno.
Tudo ali é diferente. A cidade não tem nem nunca teve cultura e nem uma única
manifestação de saber e civilidade. A discussão política que mobiliza a todos
no momento é para saber se Bergen é uma favela ou não. Essa comparação é um
total desrespeito às favelas, claro, mas muitos habitantes locais acham que a
cidade é um jardim florido. Pode isso?
*É Professor em Porto Velho.
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