Tudo
normal na terra do nunca
Professor
Nazareno*
Visto de fora, o Brasil é mesmo um país
grotesco, atrasado e ridículo. Raras nações do mundo nos levam a sério. Por
aqui infelizmente quase tudo é assim mesmo. Quase nada dá certo e as coisas são
feitas na base do jeitinho. A maioria da população, já acostumada com as
gambiarras e os improvisos, praticamente nem reclama mais de nada. A síntese
deste absurdo jeito de se viver ficou demonstrada na Operação Lava Jato da
Polícia Federal e no atual processo de impeachment, urdido pela direita
conservadora, para retirar o PT e a presidente democraticamente eleita do poder.
Desacostumados com tantas “anormalidades”, cidadãos de países civilizados
e organizados estranham o fato e acham que isto aqui é uma espécie de “terra
do nunca” onde tudo foi feito para dá errado. Educação, uma porcaria. Saúde
pública, nem se fala.
No país da desigualdade social crônica,
o nosso preconceito é diferente. Há escolas para ricos e escolas para pobres,
hospitais para ricos e hospitais para pobres, transportes para ricos e para
pobres. Justiça para ricos e justiça de pobres. E até as cadeias são assim. O
ladrão quando é pobre vai preso depois de aparecer e ser humilhado nas
delegacias e nos programas policiais. Vai para o “casão” às vezes até sem
ser julgado. Já o ladrão rico usa tornozeleira eletrônica e fica apenas em
prisão domiciliar. Quando fica. Cumpre uma ínfima parte da pena e geralmente
nada devolve do que roubou. Prisão de rico no Brasil é casa de praia ou de
montanha. Muitas vezes o desgraçado, que surrupiou milhões do povo, volta a
participar da política e quase sempre é eleito. Se o indivíduo é rico, no nosso
país compensa ser ladrão e corrupto.
Claro que ninguém em sã consciência
desejaria ser ladrão ou malfeitor. Mas se no Brasil ser assim compensa, por que
não tentar subir na vida sem stress? Entra-se na política e desviam-se milhões
ou bilhões de reais. Com o dinheiro sujo, os escroques mandam os filhos estudar
no exterior, fazer cursos e mais cursos e depois montam-se clínicas ou
academias de renome ou então se funda um império de comunicações para ensinar
ética, honestidade e bons modos aos tolos ouvintes e telespectadores. Nos
países civilizados e desenvolvidos, onde existe justiça e punições de verdade,
roubar dinheiro público resulta em prisão perpétua ou até mesmo em pena de
morte como na China. Na desorganização das Olimpíadas, por exemplo, quem vai
ser punido pela vergonha a que expuseram o Brasil? Muitos serão eleitos e
reeleitos pelos estúpidos e cegos eleitores.
No país onde “o homem mau dorme bem”,
o cidadão comum e trabalhador não é respeitado. O Estado não lhe oferece um
mínimo de segurança individual, as escolas de seus filhos não prestam, os
hospitais públicos são como açougues e quase tudo o que os políticos e
governantes dizem é mentira. Além do mais, a altíssima carga de impostos não se
reverte em serviços públicos decentes para os contribuintes, como denunciou um
articulista da Veja. Na nação onde muitas vezes o crime compensa, só existe um
único juiz em todos os 516 anos de história: é o Sérgio Moro, a palmatória do
mundo. Antes dele, nem julgados os maus políticos eram. Muito menos presos,
mesmo com privilégios e mordomias. Nas próximas eleições, há um “enxame
infinito” de candidatos dizendo que vão fazer e acontecer se eleitos. Pior:
os tolos e despolitizados eleitores acreditam e votam. A única saída é sair do
Brasil. Ou concordar com tudo o que aí está.
*É Professor em
Porto Velho.
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