Porto
Velho “By Night”
Professor
Nazareno*
Paris, a elegante capital da França,
recebe por ano mais de dez milhões de turistas. Roma, a cidade eterna, capital
dos italianos e sede da Cidade do Vaticano, recebe cerca de sete milhões de
pessoas a cada ano. Nova Iorque, Miami, Dallas dentre outras bonitas e
importantes cidades do mundo recebem entre quatro e seis milhões de visitantes anualmente
cada uma. Porto Velho, a imunda e fedorenta capital de Rondônia não recebe
ninguém para lhe visitar. Pelo contrário, o turismo daqui é negativo: todos os
anos cerca de 100 mil pessoas somem da cidade e procuram outros destinos
turísticos. Mas não devia ser assim. Esta cidade poderia investir nesta área e driblar
a crise que se avizinha. Lugares de grande importância para se visitar na “cidade
das hidrelétricas” não faltam. Esta capital poderia encantar o mundo com sua
rara beleza e seus atrativos.
Se tivéssemos um ônibus daqueles que
fazem “city tour” seria o máximo. O passeio começaria na Praça Madeira Mamoré.
Quem não se encantaria ao ver a maior concentração de fezes humanas por metro
quadrado? A destruição do acervo cultural pelas caudalosas águas do rio Madeira
seria uma atração à parte. “Ainda há restos de lama podre em algumas peças
históricas” diria o guia em várias línguas. “Onze milhões de reais foi
quanto a administração petista gastou nesta praça para ela ficar desse jeito”.
A segunda parada seria o cemitério de locomotivas. “É por causa deste
cuidado e deste zelo que algumas autoridades de Porto Velho e de Rondônia pleiteiam
a transformação da EFMM em Patrimônio da Humanidade”, diria o sorridente
guia. A mãe de Rondônia foi estuprada, violentada, saqueada e abandonada no
meio do mato.
Outra parada fenomenal é a da ponte
escura sobre o rio Madeira. “Mais de 200 milhões de reais foram gastos nesta
obra que não tem nenhuma serventia. Liga o nada a coisa alguma
e só serviu até agora para duas coisas: aumentar o número de suicídios na
cidade e para subsidiar a farinha d’água que se produz no Projeto Joana d’Arc”.
Se a visita fosse à noite, não haveria deslumbre maior. Difícil seria para os
turistas entenderem por que as autoridades rondonienses receberam um serviço
inacabado. “É a eficiência do DNIT”, diriam alguns entendidos. O Espaço
Alternativo é outro colosso turístico de Porto Velho. “De todas as obras
inacabadas desta cidade, esta é a segunda que mais elege políticos, só perdendo
mesmo para os viadutos do PT”, diria o otimista guia. E por que o mundo não
copia dos políticos este grande exemplo de patriotismo?
Outra parada estratégica do nosso
roteiro turístico poderia ser a hidrelétrica de Santo Antônio. Com sorte, os
turistas poderiam ver algumas das rachaduras que dizem já existir naquela “segura”
barragem. Um cardume de pacus ou outro peixe esmagado pelas turbinas poderia,
para alegria dos visitantes, também ser visto boiando pelo rio. Os banzeiros
assassinos seriam mais uma boa atração. Outros pontos de grande visitação
pública por aqui seriam o lixo urbano, o açougue João Paulo Segundo, a
rodoviária com seus banheiros imundos, o aeroporto internacional que não faz
voo para nenhum lugar do mundo, os piscinões da Dengue, Zika e Chikungunya na
Avenida Jorge Teixeira, o posto médico administrado por um cavalo e a
paradisíaca Zona Leste da cidade. Mas para visitar este romântico bairro com
mais segurança, só mesmo à noite. Já pensou tomar vinho Romanée-Conti e cerveja
Brewdog na Avenida José Amador dos Reis?
*É Professor em Porto Velho.
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